sábado, 2 de janeiro de 2021

Educação online, higiene e telemedicina, a transformação na vida das pessoas

 

TECNOLOGIA

VER-O-FATO/por Redação /2 de janeiro de 2021 /em Atualidades

Consultar o médico sem sair de casa e usando apenas o computador ajudou muita gente que tinha medo de sair à rua por causa da Covid

Além das mudanças ocorridas na economia, nas relações de trabalho e no consumo, a pandemia provocou uma profunda transformação na área educacional, nas consultas médicas e nos hábitos de higiene da população.

O ensino à distância e a telemedicina, que já vinham ganhando espaço antes da crise, ainda que em forma lenta e gradual, entraram de vez no dia a dia de professores e alunos, médicos e pacientes. As máscaras e o álcool gel passaram a fazer parte do nosso cotidiano, apesar de muita gente já ter deixado de usá-los como deveriam, em franco desrespeito às recomendações sanitárias.

Antes do coronavírus, muitos cursos livres já eram realizados de forma 100% virtual, embora ainda fossem raras as experiências do gênero na educação formal do País. De repente, com a pandemia e o fechamento de escolas e universidades, as aulas digitais tornaram-se uma realidade para alunos, professores e instituições de ensino. Mesmo diante das dificuldades trazidas por uma mudança desta natureza, os resultados foram promissores e transformaram para sempre a educação no País.

Hoje, apesar de a maioria das escolas e universidades já terem retomado as aulas presenciais, a situação ainda está longe de voltar à normalidade. Para garantir o distanciamento mínimo em sala de aula, as escolas ainda não estão recebendo todos os alunos ao mesmo tempo – e é difícil prever quando isso vai acontecer. Muitas instituições estão mantendo, em alguma medida, o ensino virtual e deverão incorporar o sistema em definitivo, como uma ferramenta preciosa de ensino, quando a pandemia passar.

“Acho que o ensino a distância, acelerado pela pandemia, é uma tendência sem volta”, afirma a empresária Ana Maria Diniz, uma das fundadoras do movimento Todos pela Educação, parceria público-privada que visa a melhorar a qualidade da educação básica,  e presidente do conselho do Instituto Península, braço social dos negócios de sua família, que mantém o Instituto Singularidades, voltado para a formação de professores.

Segundo Ana Maria, também colaboradora do Estadão, daqui para a frente deverá predominar o ensino híbrido, que combina a educação presencial e a distância. “As atividades individuais, como fazer pesquisas e assistir vídeos, usando a tecnologia para isso, poderão ser feitas remotamente”, diz. “Agora, o desenvolvimento da criatividade coletiva e da parte socioemocional das crianças, que depende do contato com os colegas, com o professor e com a hierarquia das escolas e que é muito importante para a formação do caráter, terá de ser necessariamente presencial.”

“O ensino a distância funciona, é produtivo e permite que quem trabalha possa estudar na hora que lhe convém” – Ana Maria Diniz, empresária, fundadora do movimento Todos pela Educação e presidente do conselho do Instituto Península.

No caso das universidades, a legislação só permite hoje que até 20% dos cursos sejam dados a distância, mas esse porcentual tem de ser ampliado, de acordo com Ana Maria, para 40% ou 50% ou até mais. “Esse limite não faz sentido”, afirma. “O ensino a distância funciona, é produtivo e permite que o aluno possa estudar na hora que lhe convém e que quem trabalha consiga administrar melhor a sua agenda.”

Em sua avaliação, há duas questões relevantes que surgiram durante a quarentena e que terão de ser endereçadas a partir de agora: o treinamento dos professores, para que haja melhor uso da tecnologia no ensino, e o aumento da desigualdade entre os estudantes das escolas privadas e os das escolas públicas, que não têm computadores ou tablets nem conexão à internet.

A ampliação do ensino a distância nos próximos anos, de acordo com Ana Maria, deverá levar também a um questionamento sobre o tamanho das escolas. Como todas as crianças não precisarão ir à escola ao mesmo tempo, os prédios e as salas de aula poderão ser menores. Isso permitirá a expansão do ensino em período integral, especialmente nas escolas públicas, às quais faltam recursos para implementar o sistema de forma 100% presencial.

Adesão à telemedicina

Com o coronavírus à espreita e a multiplicação dos casos graves de contágio no País, o acompanhamento dos portadores de doenças crônicas e as consultas presenciais de quem estava com um problema ocasional de saúde viraram atividades de altíssimo risco para médicos, pacientes e suas famílias.

Mas, graças à telemedicina, foi possível contornar as dificuldades do momento e prestar algum tipo de assistência médica, mesmo que fosse apenas para monitorar a situação dos pacientes, dar alguma orientação ou solicitar exames que permitissem um diagnóstico mais preciso de sintomas apresentados por eles.

Embora muitas organizações do setor de saúde resistissem há anos à adoção das consultas remotas de forma massificada, elas se transformaram subitamente na única opção segura para o sistema continuar funcionando e para que pacientes e médicos evitassem o contato físico na pandemia.

Sem alternativa, o Conselho Federal de Medicina (CFM) não teve outra saída, então, a não ser a de reconhecer, em 19 de março, a necessidade de ampliar a prática da assistência médica remota no País, o que levou o Ministério da Saúde a publicar no dia seguinte uma portaria liberando, “em caráter excepcional e temporário”, o uso da telemedicina.

Com a popularização de seu uso na quarentena, a telemedicina mostrou que muitas das restrições levantadas contra ela por profissionais de saúde tinham mais a ver com preconceitos contra a tecnologia do que com problemas concretos apresentados pelo atendimento remoto. Deu para a telemedicina mostrar, também, a sua eficácia, para quem ainda tinha alguma dúvida sobre o papel que ela pode representar no sistema de saúde daqui para a frente.

“Houve uma grande aceitação da telemedicina não só por parte dos pacientes, mas também dos médicos”, afirma Fernando Pedro, diretor técnico da Amil, uma das principais empresas de assistência médica do País, que adotou o sistema de forma ampla na pandemia (leia a entrevista completa de Fernando Pedro). “A telemedicina contribuiu muito para garantir tranquilidade e segurança na prestação de assistência médica durante a crise.”

Segundo Pedro, a Amil completou recentemente meio milhão de acessos ao sistema de consulta digital. Os atendimentos passaram de 15 por dia antes do coronavírus, quando o sistema ainda estava em fase experimental, para 2.800 atendimentos por dia, no fim de setembro. Até os pacientes com mais de 65 anos, que em geral são mais resistentes ao uso da tecnologia, em especial na área de saúde, passaram a recorrer à telemedicina na pandemia, representando 16% do total de atendimentos remotos da Amil. “É outra realidade que a gente está vivendo”, diz Pedro.

“O médico tem de estar num ambiente em que o paciente se sinta seguro e possa criar um elo de confiança com ele”Fernando Pedro, diretor médico da Amil

Além de garantir o acesso de pacientes ao sistema de saúde durante a pandemia e de mantê-los distantes de quem precisava de cuidados urgentes, a telemedicina apresentou outras vantagens. Ao evitar os deslocamentos e as longas jornadas na sala de espera de consultórios, otimizou o tempo de médicos e pacientes e trouxe maior conveniência para ambos, ao permitir que pacientes de uma região das grandes cidades ou de outros municípios tivessem acesso aos médicos de sua preferência que atendem em outras localidades.Com tudo isso, levou a um aumento de produtividade e de redução geral de custos no sistema.

Mas, na avaliação de Pedro, a telemedicina deve ser vista “como mais um canal” de comunicação entre médico e paciente, que precisa ser regulamentada, para garantir qualidade e segurança aos usuários, e não como uma solução única, que sirva para todas as ocasiões e substitua a consulta presencial


No pós-pandemia, a regulamentação de telemedicina tem de levar em conta as experiências de sucesso na crise


Para ele, a telemedicina deve ser entendida como um ato médico, com toda a liturgia a ele associada. “O médico tem de estar num ambiente em que o paciente se sinta seguro e crie um elo de confiança com ele”, afirma. “O médico não pode prestar um atendimento e de repente o paciente ver que ele está atendendo o telefone ou respondendo mensagens de WhatsApp”, afirma. “A gente também não pode correr o risco de o médico fazer um atendimento remoto no carro ou de a consulta virtual ser interrompida pelo seu filho ou por sua mulher”.

De qualquer forma, pelo que se viu na pandemia, a telemedicina deverá ocupar um espaço cada vez maior no sistema de saúde do País e ser incorporada, com menos resistência, ao relacionamento cotidiano de médicos e pacientes.

Opção pelo carro próprio

A pandemia provocou uma inversão radical de comportamento em relação à mobilidade. Ao contrário do que acontecia antes, quando se observava uma tendência de aumento no uso do transporte coletivo, de aplicativos como o Uber e até de veículos compartilhados, o interesse pelo carro próprio voltou a crescer.

De repente, a preocupação de muita gente com o efeito das emissões de carbono no aquecimento global cedeu lugar à busca por segurança e proteção contra o contágio pela covid-19. Quem tinha condições de fazer seus deslocamentos diários com carro próprio passou a fazê-lo. Não só em deslocamentos urbanos do dia a dia, mas também nas viagens de lazer e de trabalho mais curtas, que ganharam espaço com a pandemia, para reduzir o risco de uma exposição ao vírus em aviões e até em ônibus interurbanos e interestaduais usados nas viagens mais longas. o carro virou até opção de entretenimento, com o renascimento dos cinemas drive-in.

Não dá para dizer no momento se essa tendência terá vida longa, mas não há dúvida de que, ao menos por mais alguns meses ou enquanto durar a pandemia, quem puder vai continuar a dar preferência para o transporte individual. Muitas pessoas usam máscaras até em seus próprios carros, como recomenda o protocolo, e evitam o uso de estacionamentos, para não ter de compartilhar o veículo com manobristas que nem sempre tomam as medidas de proteção necessárias contra o vírus.

Se a pandemia levou ao fechamento de revendas e derrubou as vendas de carros particulares nos primeiros meses, agora ela está estimulando, junto com os juros baixos, os negócios. Segundo informações da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos), a venda de veículos registrou a sexta alta mensal consecutiva em setembro.

No crise, o contingente de chineses que não têm carro e querem comprar um aumentou de 34% para 66%


Em outros países, a tendência é a mesma, para desespero dos ecologistas. De acordo com uma pesquisa realizada pela consultoria francesa Capgemini com 11 mil pessoas em 11 países, 35% dos entrevistados disseram que querem comprar um carro novo ainda em 2020. Na China, epicentro da epidemia, um levantamento feito pelo Instituto Ipsos mostrou que 66% dos chineses que não têm veículo próprio querem comprar um carro, quase o dobro do índice registrado no pré-pandemia.

Higienização contínua

Com a pandemia, os hábitos de higiene e limpeza ganharam ainda mais importância, para reduzir as chances de contágio de cada um de nós. Alguns produtos, como as máscaras, usadas principalmente por profissionais de saúde no pré-pandemia, tornaram-se um acessório indispensável da noite para o dia. O álcool gel, que tinha uso limitado, virou um artigo de primeira necessidade e passou a ser oferecido gratuitamente em locais públicos, estabelecimentos comerciais, escritórios e em bares e restaurantes.

Embora muita gente já se comporte como se a pandemia tivesse passado, apesar das centenas de mortes e milhares de novos casos de contaminação por coronavírus registrados a cada dia, os novos hábitos de higiene e limpeza foram incorporados por uma parcela significativa da população e deverão prosseguir mesmo depois que a crise passar.

“Percebemos uma mudança de comportamento do brasileiro tanto dentro de casa como na retomada gradual das atividades”, afirma João Carlos Basílio, presidente executivo da Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos).

No primeiro semestre de 2020, segundo dados da entidade, houve um crescimento de 2.067% no consumo de álcool em gel em relação ao mesmo período do ano passado. Outros itens da chamada “cesta covid-19 de consumo” também registraram um aumento expressivo nas vendas no período, como lenços e toalhas de papel, papel higiênico e sabonete líquido, com alta de 75%, 39,5%, 20,5% e 18,2%, respectivamente.

A preocupação em reduzir o risco de contágio se refletiu também no maior uso de produtos para limpeza doméstica, como desinfetantes, águas sanitárias e o próprio álcool em gel, e para higienização de ambientes coletivos, como shopping centers, trens, metrô e ônibus. Muitas pessoas passaram a higienizar até os produtos comprados nos supermercados antes levá-los para dentro de casa, seguindo as recomendações de médicos e sanitaristas.


Mesmo com a volta dos profissionais às empresas, o consumo de produtos de limpeza deve continuar alto


“Nós tivemos uma mudança de comportamento das pessoas em relação a limpeza”, diz Paulo Engler, diretor executivo da Abipla, que reúne os fabricantes de produtos de higiene, limpeza e saneantes para uso doméstico e profissional. “Acredito que as pessoas agregaram ao seu cotidiano um cuidado maior com a higiene pessoal e a limpeza do ambiente doméstico e de trabalho, e deverão manter isso pelo menos nos próximos anos.”

Segundo Engler, mesmo que a volta dos profissionais às empresas provoque uma queda no uso de produtos de limpeza doméstica, ela será compensada pelo aumento do consumo de itens de uso profissional e empresarial. Diante do “choque” provocado pela pandemia, ainda vai levar um bom tempo, se é que isso vá mesmo acontecer algum dia, até que todo mundo se sinta à vontade para sair por aí sem se proteger de forma adequada e para que as medidas de higienização e de prevenção de contágio nos locais públicos sejam relaxadas. Fonte: Estadão.


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