terça-feira, 31 de agosto de 2021

FASE conecta floresta e cidade no incentivo à comunicação comunitária

 

Por: Alcindo Batista¹ | 20/08/2021 | Direitos Humanos | Movimentos Sociais Pará

Encontro virtual debateu experiências nos territórios e celebrou os dois anos do programa Café Regional, do Pará, apoiado pela FASE Amazônia



A comunicação comunitária foi tema da última edição do FASE Convida, que também teve comemoração de aniversário. O debate amplificou a voz de duas iniciativas: o programa de rádio Café Regional, apoiado pela FASE na Amazônia, e que acaba de completar dois anos no ar, e o podcast Manda Notícias, do Capão Redondo, uma das muitas periferias de São Paulo. 


“Ações necessárias, ainda mais nesses tempos de pandemia”

No encontro, Jéssica Santos e Daniela Pantoja, do Café Regional, e Gisele Alexandre, do Manda Notícias, falaram sobre os desafios que enfrentam, por exemplo, em relação às fake news. “A importância que as pessoas passaram a dar ao rádio cresceu muito nesse período. Tomamos muito cuidado com o que é dito. No caso da pandemia da Covid, reforçamos que é preciso lavar muito bem as mãos, usar álcool, máscara e se aquietar em casa”, brincam Jéssica e Daniela. “Nós trabalhamos com pautas sobre a nossa localidade, com as dúvidas que as pessoas vão nos trazendo”, conta Gisele. 

As jornalistas abordaram ainda a importância do aplicativo de mensagens WhatsApp — que facilitou o compartilhamento dos conteúdos — a maior participação de jovens nos processos e a falta de incentivos — do governo ou não. “Os movimentos precisam olhar para a comunicação de um modo estratégico, precisamos de mais profissionais ocupando esses espaços”, comentou a fundadora do Manda Notícias ao falar da forte atuação de ONGs no seu território e dos talentos que estão surgindo. 

Outro fator de destaque é a emoção que o trabalho junto às comunidades provoca. “A gente vai aprendendo muito, não só sobre a Covid, como também sobre outros temas. Fora as músicas, algumas lançadas exclusivamente aqui”, contou Jéssica, fazendo referência à sua atração. “Eu sou evangélica, mas senti uma conexão muito forte com a Romaria do Bem Viver”, comentou Daniela. sobre o dia que cobriu a atividade no PAE Lago Grande. “A gente vai rompendo com estereótipos, tirando essa ideia de que o Capão e a região do entorno é perigosa”, finaliza Gisele. 

[1] estagiário, com supervisão de Claudio Nogueira.

 

https://fase.org.br/pt/informe-se/noticias/fase-convida-conecta-floresta-e-cidade-no-incentivo-a-comunicacao-comunitaria/


Anac desmonta hangares de esquema do garimpo da TI Yanomami

 

 POVOS INDíGINAS

 Por Leanderson LimaPublicado em: 27/08/2021 às 18:46

Anac desmonta hangares de esquema do garimpo da TI Yanomami

Na operação, PF prende um homem e apreende seis helicópteros da empresa de Rodrigo Martins de Mello, que tem contratos no Ministério da Saúde. (Foto: Polícia Federal)


Manaus (AM) – A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), com apoio da Polícia Federal, desmontou na quinta-feira (26) dois hangares clandestinos de aeronaves irregulares na empresa Cataratas Poços Artesianos Ltda, que pertence ao empresário Rodrigo Martins de Mello, no Distrito Industrial, em Boa Vista, Roraima. Seis helicópteros foram apreendidos e, segundo as investigações, eles atuavam no garimpo ilegal da Terra Indígena (TI) Yanomami. Um homem foi preso na operação, mas a PF não divulgou o nome dele.

O empresário Rodrigo Martins de Mello, que não estava na empresa no momento da operação, foi citado na série especial “Ouro do Sangue Yanomami”, publicada pela Amazônia Real e Repórter Brasil, como sendo uma das pessoas envolvidas com a mineração ilegal no território indígena. Ele é dono da Icaraí Turismo Táxi Aéreo, que firmou contratos com o Ministério da Saúde para o atendimento na TI Yanomami durante a pandemia. A companhia recebeu 24,3 milhões de reais dos cofres públicos, sendo que 17 milhões de reais foram no governo Jair Bolsonaro.

Rodrigo Martins de Mello, no Aquamak em Boa Vista (Foto: Reprodução Facebook)


A PF e o Ministério Público Federal (MPF) em Roraima investigam as aeronaves de Rodrigo Mello como fornecedoras do esquema do garimpeiro Pedro Emiliano Garcia, o Pedro Prancheta, condenado por genocídio de Yanomami na década de 1990. Segundo acusação do MPF, continua operando nos garimpos ilegais

A Amazônia Real procurou o empresário Rodrigo Mello para falar da apreensão dos helicópteros na empresa Cataratas Poços Artesianas, mas uma funcionária que atendeu a ligação disse que ele não estava. “A empresa não fará declarações à imprensa”, disse ela, que também não forneceu um contato de advogado do empresário.

A empresa Cataratas Poços Artesianos Ltda. está no cadastro nacional da Receita Federal como ativa para fazer serviços de engenharia como: construir edifícios; obras de urbanização; ruas; praças e calçadas; estações; redes de telecomunicações; além de atuar no comércio atacadista de máquinas e equipamento industrial (partes e peças); e varejista de cal, areia, pedra britada, tijolos e telhas.

O que a Anac encontrou nas Cataratas Poços Artesianos foram dois hangares clandestinos onde estavam seis helicópteros, cinco carcaças de helicópteros e diversas peças de reposição irregulares. Segundo a PF, todas as aeronaves estavam descaracterizadas, com alterações proibidas, implicando alteração de peso e balanceamento destas, além de algumas estarem passando por manutenção clandestina. A Anac não se pronunciou sobre a operação.

Maquinário do garimpo

Um dos dois helicópteros apreendidos na empresa Cataratas Poços Artesianos, cujo dono possui prestadora de serviços para o Ministério da Saúde (Foto: Polícia Federal)  


Em entrevista à Amazônia Real, o delegado Gilberto Kirsch Jr., chefe da Delegacia de Repressão aos Crimes Contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico,  explicou que as aeronaves encontradas na empresa Cataratas Poços Artesianos, além de estarem em situação irregular, caracterizam prática de garimpo. “A Anac constatou diversas irregularidades administrativas dessas aeronaves: certificado de aeronavegabilidade cancelado, entre outras irregularidades. A Polícia Federal já identificou uma série de ilícitos criminais ambientais como estoque e armazenamento irregular de substância perigosa, combustível, equipamento utilizado para garimpo ilegal entre outras situações”, disse o policial.

O delegado da PF disse que os dois hangares da empresa estavam posicionados dentro da propriedade. “Eles ficam um paralelo ao outro. Alguns helicópteros foram encontrados no primeiro hangar e outros no segundo. O segundo e o terceiro hangares são como se fosse de frente um para o outro”, explicou Gilberto Kirsch Jr. “As aeronaves estavam todas com uma preparação para transporte de carga e tinham assoalho de madeira para colocar principalmente carotes de combustível, mantimentos, peças de motores e até mesmo motores de caminhão que são utilizados para lavagem do barranco para ser feita a extração mineral”.

A operação nos hangares clandestinos da empresa Cataratas Poços Artesianos contou com o apoio do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e a Agência Nacional do Petróleo (ANP). “Foram apreendidos diversos insumos que seriam utilizados em garimpo, tais como motores, geradores de energia e mais de 10 mil litros de combustível, além de munições”, diz a PF, explicando que houve também o apoio do Exército e da Polícia Rodoviária Federal.

O homem que foi preso na empresa de Rodrigo Mello se apresentou como responsável pelos hangares clandestinos. Ele foi preso em flagrante pelos crimes de usurpação de bens da União, extração ilegal de minério e transporte irregular de substância perigosa. Nesta sexta-feira (27), ele foi solto por decisão judicial.

Fiscalização frágil

Operação em hangar encontra maquinário para garimpo
Operação em hangar encontra maquinário para garimpo; investigação vê ligação com extração ilegal de ouro na TI Yanomami (Foto: Polícia Federal)

 

De acordo com a série “Ouro do Sangue Yanomami”, para retirar ilegalmente o minério da TI Yanomami, pilotos, donos de aeronaves e empresários de outros setores faturam 200 mil reais por semana, segundo a PF. São eles os responsáveis pela logística que sustenta a atividade garimpeira na TI, onde as pequenas aeronaves são o principal meio de acesso, já que o território indígena é distante de estradas e cortado por rios pouco navegáveis. 

O espaço aéreo da TI Yanomami é um céu de impunidade, sem vestígios de  fiscalização. “Se estrangularem a logística, o garimpo sofre um duro golpe”, afirma o procurador da República Alisson Marugal. “Mas a fiscalização, responsabilidade da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e da FAB (Força Aérea Brasileira), é muito frágil.”

A série “Ouro do Sangue Yanomami” investigou a fundo o problema do garimpo ilegal na maior terra indígena do Brasil. Foram quatro meses de apuração e a análise de mais de 5 mil páginas de documentos para traçar a rota do ouro, identificar as principais empresas compradoras, compreender as fragilidades na legislação (que isenta os compradores de qualquer responsabilidade), destrinchar o antigo interesse dos políticos na atividade e revelar como a rápida aproximação do garimpo com o tráfico internacional de drogas.

A investigação teve acesso a dois inquéritos da Polícia Federal por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) e às acusações do MPF, feitas com base em operações de combate ao garimpo na TI Yanomami feitas desde 2012.O especial “Ouro do Sangue Yanomami” – que conta com sete reportagens produzidas – mostra que nesse exato instante há uma profusão de atores se enriquecendo com a atividade ilegal nas terras indígenas do país. É um crime contínuo, defendido pelo governo do presidente Jair Bolsonaro e tolerado pela sociedade.

Pilots and aircraft owners working in the area have also been getting richer, some earning as much as R$ 200,000 a week, according to the Federal Police. They are responsible for the logistics that supports the mining activities at the TI (Photo: Bruno Kelly/Amazônia Real)
Imagem de sobrevoo na TI Yanomami (Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real)


 

 

 Leanderson Lima

Leanderson

É graduado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pelo Centro Universitário Nilton Lins. Tem MBA executivo em Gestão de pessoas e coaching, pelas Faculdades Idaam. Com 18 anos de experiência profissional, atuou por veículos como Jornal A Crítica, Correio Amazonense, Jornal do Commercio e Zero Hora (RS). Na televisão trabalhou na TV A Crítica, Rede TV! Manaus, e na rádio A Crítica, como comentarista. É o vencedor do Prêmio Petrobras de Jornalismo de 2015, com a reportagem “Chute no Preconceito”.

 

https://amazoniareal.com.br/hangares-de-empresa-garimpo/

 

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Apagando o rastro da boiada

 

 MEIO AMBIENTA  - PARÁ   

Pecuaristas do Pará abrem guerra contra o Selo Verde, uma iniciativa capaz de mostrar se o gado vem de área desmatada 

 PIAUÍ | Allan de Abreu | 30ago2021_13h13 

O governador do Pará, Helder Barbalho, durante o lançamento do programa Selo Verde, em abril deste ano –
O governador do Pará, Helder Barbalho, durante o lançamento do programa Selo Verde, em abril deste ano – FOTO: MARCO SANTOS/AGÊNCIA PARÁ
 
O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), tinha o semblante cansado e a camisa rosa clara parcialmente manchada de suor quando tomou lugar em uma ampla mesa na sede do Sindicato Rural de Xinguara, no sudeste do estado, no fim da manhã daquela quarta-feira, 21 de julho. Minutos antes, Barbalho havia participado de mais um tradicional anúncio de obras públicas no município, com discursos, vídeos e fotos para as redes sociais. Ao lado dele na mesa, o secretário estadual de Meio Ambiente, José Mauro de Lima O’de Almeida; à frente, políticos da região e a nata dos pecuaristas de Xinguara. 
 

Em pauta, o Selo Verde, um programa do governo estadual em vigor desde abril que rastreia toda a cadeia produtiva da pecuária. Ou seja: é capaz de apontar se o gado vem de uma área desmatada ou não (por ora, o selo é só informativo e não há qualquer tipo de punição). Quando sua origem está em áreas de pastagem sem passivos ambientais, o gado ganha um “selo verde”, mostrando que é ambientalmente correto. Já as áreas com déficit de reserva legal recebem um “selo amarelo”, indicando que, caso houvesse punição, seriam autuadas, assim como propriedades com “selo vermelho”, que possuem algum percentual de desmate ilegal.

Pelo número do Cadastro Ambiental Rural (CAR), um registro autodeclaratório que, por lei, todo imóvel rural precisa ter, é possível verificar o tipo de selo de cada propriedade no site da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Pará. Não é exatamente fácil fazer a consulta porque o interessado precisa saber o número do CAR da propriedade que quer pesquisar.  Ainda assim, e mesmo que os donos de áreas amarelas ou vermelhas não estejam sujeitos a qualquer punição, a transparência do programa despertou a fúria de boa parte dos pecuaristas no estado – os que desmatam, naturalmente. (Por ora, além de não prever punição, o selo vale apenas para os pecuaristas e não alcança os frigoríficos.)

A pecuária de corte é o motor da economia na macrorregião de Xinguara e destaque na economia de todo o Pará: com 20,9 milhões de cabeças, o estado possui quase 10% do rebanho brasileiro. Mas, ao mesmo tempo em que alavanca o desenvolvimento paraense, o gado também é um conhecido vetor da grilagem e do desmatamento – não à toa, o Pará lidera a destruição da floresta em toda a Amazônia Legal. É esse o estado de coisas que o Selo Verde, que foi desenvolvido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pretende mudar.

 

No embate entre ambientalistas e pecuaristas, o secretário Almeida estava em franca desvantagem naquela manhã em Xinguara. Sem nenhum funcionário da pasta para auxiliá-lo, encarava a agressividade verbal de Carlos Fernandes Xavier, presidente da Faepa (Federação da Agricultura e Pecuária do Pará); de Joel Carvalho Lobato, que comanda o Sindicato Rural de Xinguara; de Roberto Paulinelli, dono de um dos maiores frigoríficos da região; dos pecuaristas Roque Quagliato e Dirceu Gomes Remor; e até fogo amigo, do titular da Secretaria Extraordinária de Produção do Pará, Giovanni Corrêa Queiroz, que não escondia sua hostilidade ao Selo Verde. “Só aqui no sindicato são dois leilões de gado por semana”, disse Quagliato, apontando o dedo na direção de um grande salão contíguo onde desfilam os animais a serem leiloados. “Como vamos escolher só os donos que têm selo verde?”, questionou, exaltado.

Queiroz aquiesceu e acrescentou: era preciso recuar e anular o programa Selo Verde. “Não é justo que os pecuaristas e os frigoríficos se neguem a comprar gado de quem não tem o selo verde”, disse. Remor e o presidente do sindicato de Xinguara, Joel Lobato, garantiram ter ouvido da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, a informação de que, se o Pará mantiver o programa, ficará de fora de um acordo em andamento para aumentar a exportação de carne bovina para a China – de longe, a maior compradora do produto brasileiro. (Procurada pela piauí para explicar sua pressão antiambiental, a ministra não respondeu às mensagens deixadas em seu celular. Em nota, a pasta não esclareceu sua posição. Disse apenas que “é uma decisão e responsabilidade de cada governo estadual desenvolver e executar” ações como a do Selo Verde. Lobato, por sua vez, afirmou que desconhece a posição da ministra Tereza Cristina. Remor não quis se manifestar)

Durante a reunião em Xinguara, o governador Barbalho mais ouviu do que falou. Mas a pressão dos pecuaristas deu resultado. Na última semana, a Secretaria de Meio Ambiente do Pará instalou formalmente um comitê “consultivo e deliberativo” de acompanhamento do Selo Verde. A primeira tarefa do comitê, formado por órgãos do governo federal e entidades ligadas à pecuária, além da UFMG, será deliberar sobre uma proposta surgida na reunião em Xinguara: restringir, mediante senha, o acesso à consulta do Selo Verde apenas aos servidores públicos e aos próprios pecuaristas. Se aprovada, a restrição significará que os consumidores não saberão a origem daquilo que compram. Procurados pela reportagem, nem o governador nem o secretário de Meio Ambiente quiseram se manifestar.

“Será um retrocesso grande no programa, cuja base é a transparência”, diz o procurador do MPF (Ministério Público Federal) no Pará Ricardo Negrini. O Selo Verde, segundo ele, é um avanço na fiscalização ambiental da pecuária paraense, que começou nos anos 2000, quando o MPF ingressou com vinte ações na Justiça contra os frigoríficos que adquiriam gado de áreas com passivos ambientais no estado. Nessas ações judiciais, os procuradores solicitavam o pagamento de multas que somavam 2 bilhões de reais. Para se livrarem de uma possível condenação judicial, em 2009 os frigoríficos assinaram os primeiros termos de ajustamento de conduta com o MPF em que se comprometiam a fiscalizar a origem dos animais abatidos, no que ficou conhecido como o “TAC da carne”. Atualmente, segundo Negrini, cinquenta frigoríficos, responsáveis por 90% do processamento de carnes no Pará, assinaram TACs com o MPF.

Esses acordos, no entanto, têm uma fragilidade: só consideram o fornecedor direto do gado para o frigorífico, ignorando o restante da cadeia de comércio (é comum o gado ser negociado mais de uma vez entre produtores rurais antes de ir para o abate). Assim, para driblar o TAC, muitos produtores triangulavam a venda de gado para que chegasse ao frigorífico partindo de uma área “limpa”. O Selo Verde elimina essa fragilidade porque analisa todas as guias de trânsito animal, ou GTAs, documento obrigatório para o transporte de gado vivo, gerido pela Adepará (Agência de Defesa Agropecuária do Pará). Assim, mapeia a origem de cada animal — desde que as GTAs, claro, não sejam fraudadas. Por ora, o selo vale apenas para os pecuaristas e não alcança os frigoríficos.

À piauí, Joel Lobato, do sindicato de Xinguara, disse que o setor é favorável às boas práticas ambientais e que a atividade pecuária “deve ser a mais transparente possível”. Ele negou que o setor tenha proposto o fechamento do sistema por meio de senha, o que, naturalmente, reduz a transparência dos dados. Lobato afirmou que o setor defende a implantação do Selo Verde, mas somente após o governo paraense regularizar todos os 250 mil registros do cars do estado. É uma medida que tende a demorar anos porque, até hoje, com 13 anos de existência, o car teve apenas 10% de seus registros devidamente regularizados pelo governo. “Não podemos colocar o carro na frente dos bois. Esse debate é açodado”, disse.

Em nota, o presidente da Faepa, Carlos Xavier, afirmou que o uso das GTAs pelo Selo Verde fere a “confidencialidade de algumas informações da atividade produtiva” contida nesses documentos. Por isso, disse, as guias só podem ser utilizadas para o controle fitossanitário do rebanho, e não para o controle ambiental. Para Xavier, a implantação do Selo Verde pode prejudicar as exportações de carne do Pará. “Os recursos necessários para efetuar as adequações [nas propriedades] são vultosos para o produtor que, por sua vez, tem dificuldades para acessar o crédito rural em razão da carência de garantias reais ditadas pela ausência de uma política de regularização fundiária.” Os pecuaristas Quagliato e Remor não quiseram se manifestar e o secretário Giovanni Queiroz não respondeu às mensagens deixadas pela piauí em seu celular.

O governo federal mantém desde 2010 o Programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono), que oferece incentivos fiscais para a recuperação de pastagens degradadas e plantio de florestas, entre outras medidas, e é válido para todo o país. Segundo a assessoria do Ministério da Agricultura, 50 milhões de hectares foram inseridos no programa nos últimos dez anos.

 

Embora intensa, a resistência do setor pecuário paraense ao Selo Verde não é unânime. “Infelizmente a maior parte dos criadores não entende que o programa vai agregar valor ao produto que oferecemos”, diz Mauro Lúcio Costa, vice-presidente da Acripará (Associação de Criadores do Pará). “Dizer que [o selo] vai inviabilizar a pecuária paraense é uma reação puramente emocional, fora da realidade.”

Há cinco anos, Costa ajudou a desenvolver um aplicativo de celular para rastrear a origem do gado que compra na sua própria fazenda em Tailândia, interior do Pará. Até então, todo fim de ano ele fazia um levantamento minucioso (e manual) do gado que comprava ao longo dos doze meses anteriores, e sempre encontrava um ou outro fornecedor com passivos ambientais. “Contratei uma empresa para desenvolver esse aplicativo que faz esse rastreamento automaticamente.” Hoje, o produtor afirma saber a origem de todos os seus 2,5 mil animais. “Naquela época eu já sabia que o caminho seria o rastreamento da cadeia produtiva. Não precisamos ter medo do novo.”

 

https://piaui.folha.uol.com.br/apagando-o-rastro-da-boiada/?utm_source=pushnews&utm_medium=pushnotification 

 

MARCO TEMPORAL: INDÍGENAS DECIDEM SEGUIR EM MOBILIZAÇÃO EM BRASÍLIA ATÉ QUINTA (2)

 POVOS INDIGINAS - BRASIL


Amazônia Org | Por: Cristiane Sampaio | segunda-feira, 30 de agosto de 2021

STF deve retomar julgamento do caso na quarta (1º); 176 povos estão reunidos na capital federal em vigília 

Com representantes de 176 povos tradicionais do país, indígenas se mobilizam em Brasília desde segunda (23) para dizer ‘não’ à tese do marco temporal, em julgamento no Supremo – Apib/Divulgação

Os representantes de 176 povos indígenas que estão reunidos em Brasília (DF) desde a última segunda (23) decidiram permanecer na cidade, em vigília, até a próxima quinta-feira (2).

A decisão foi tomada após plenária do acampamento “Luta Pela Vida”, onde as lideranças populares estão reunidas para acompanhar de perto o julgamento do processo que trata da tese do “marco temporal”.

Confiamos que a Suprema Corte irá sacramentar o nosso direito originário à terra 

Ao todo, ficarão na cidade cerca de mil representantes dos 6 mil que foram a Brasília para a mobilização. Em acordo com o governo do Distrito Federal, ficou decidido que os manifestantes mudariam o local do acampamento, que a partir de agora será na Funarte, a cerca de 5 km da sede do Supremo Tribunal Federal (STF).

O caso começou a ser avaliado pela Corte na última quinta (26), mas o julgamento foi suspenso e deve seguir na quarta-feira (1º), motivo pelo qual os indígenas decidiram continuar a mobilização.

vigília dos povos também terá sequência nos diversos pontos do país onde as comunidades lutam contra o marco temporal.

Em carta pública divulgada neste sábado (28), as lideranças evocam a ancestralidade que é marca da cultura dos povos tradicionais, reforçam o combate ao marco temporal e dizem confiar nos rumos a serem dados pelos ministros do STF ao caso.

“Confiamos que a Suprema Corte irá sacramentar o nosso direito originário à terra, que independe de uma data específica de comprovação da ocupação, conforme defendem os invasores”, diz o documento, que está disponível para consulta.

Depois do dia 2, os mobilizadores que estão em Brasília deverão se somar à Segunda Marcha das Mulheres Indígenas, que ocorre entre os dias 7 e 11 de setembro, também na capital federal. 

O caso

Defendido por ruralistas, especuladores de terras e outros grupos, o chamado “marco temporal” se funda na ideia de que as comunidades indígenas somente poderiam usufruir de demarcações em áreas nas quais já estivessem vivendo antes de 1988, ano de promulgação da Constituição Federal.

A ideia ganhou força a partir do acolhimento da tese por parte do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) em 2013, no julgamento de um processo que colocou em xeque a terra dos povos Xokleng, em Santa Catarina.

O caso chegou depois ao STF, que deu ao processo o status de “repercussão geral”, o que faz com que a decisão a ser tomada pelos ministros na próxima semana tenha potencial para repercutir sobre todos os conflitos de terra envolvendo áreas indígenas no país.

A tese do marco temporal é duramente rechaçada por especialistas, ambientalistas, juristas, antropólogos e outros profissionais que se debruçam sobre as questões envolvendo os povos tradicionais. Eles apontam que a ideia é inconstitucional e desconsidera os direitos originários das comunidades, motivos pelos quais defendem que o STF invalide a tese.  

Por: Cristiane Sampaio
Fonte: Brasil de Fato


Marco temporal: indígenas decidem seguir em mobilização em Brasília até quinta (2) – Amazônia Notícias e Informação (amazonia.org.br)


domingo, 29 de agosto de 2021

Hospital Regional do Baixo Tocantins Santa Rosa, ganha novo setor de tomografia e ambulância com UTI móvel

 

SAÚDE - ABAETÉTUBA - PARÁ

Jornal de Tucurui | domingo, 29 de agosto de 2021

 

 Hospital Regional do Baixo Tocantins Santa Rosa

 

 

O governador do Pará, Helder Barbalho, realizou na tarde deste sábado (28/8), a entrega oficial do novo espaço de tomografia e uma ambulância de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) móvel ao Hospital Regional do Baixo Tocantins – Santa Rosa, em Abaetetuba. Na oportunidade o governador e comitiva vistoriaram as obras de construção do Complexo para o tratamento de Hemodiálise no hospital.

O novo setor de tomografia faz parte da política de modernização em saúde empreendida pelo Governo do Estado. A UTI móvel atenderá as demandas de transferências do hospital, garantindo segurança no traslado de pacientes. A ambulância é equipada e tripulada por médico, enfermeiro, técnico de enfermagem e condutor.

Governador Helder Barbalho e a prefeita de Abaetetuba Francinete Carvalho descerram a placa de inauguração do novo setor de tomografia do HRBT Santa Rosa

Tomografia - Com capacidade para realizar mais de 500 exames por mês, o aparelho é utilizado em tomografias computadorizadas, procedimento não invasivo de diagnóstico por imagem que combina o uso de raio-x com computadores especialmente adaptados. É utilizado para criar imagens detalhadas dos mais variados tecidos do corpo humano.

O investimento do Estado é de R$ 2 milhões, incluindo despesas com obra, equipamentos, mobiliários e tecnologia empregada. A iniciativa vai beneficiar, além de Abaetetuba, a população de outros oito municípios da região do Baixo Tocantins, como Baião, Barcarena, Cametá, Igarapé-Miri, Limoeiro do Ajuru, Mocajuba, Moju e Oeiras do Pará.

"O Hospital Santa Rosa é a grande referência de assistência em saúde da região do Baixo Tocantins e nós estamos trabalhando, ampliando os serviços para, cada vez mais, essa estrutura hospitalar possa salvar vidas, cuidar das pessoas ajudar os municípios a conseguir fazer com que as demandas em saúde possam ser solucionadas, não necessitando transferir para a região metropolitana. E com este equipamento nós reforçamos esta oferta de serviço. Nós já havíamos tomado a decisão de assegurar com que o hospital pudesse ser aqui porta-aberta de trauma, portanto, desafogando o pronto-atendimento e as estruturas municipais", destacou o governador Helder Barbalho.

Diretor do Hospital Regional do Baixo Tocantins – Santa Rosa, Mailson Peixoto | Foto: Pedro Guerreiro/Ag.Para

Conforme o diretor administrativo do Hospital Regional do Baixo Tocantins – Santa Rosa, Mailson Peixoto, a entrega permite um serviço com muita mais qualidade. "A ampliação do serviço traz para o HRBT a oferta de um novo serviço trazendo uma prova diagnóstica diferenciada que dará possibilidade de as equipes médicas conseguirem fazer um tratamento mais adequado com uma tecnologia superior. As ampliações são pensadas no usuário do Sistema Único de Saúde por meio das políticas de saúde implementadas pela Sespa (Secretaria de Estado de Saúde Pública) para ofertar serviços de cada vez melhor qualidade e com segurança para os nossos pacientes", frisou o diretor.

 Diretor de Enfermagem Anderson Viana |  Foto: Pedro Guerreiro/Ag.Para

 

Anderson Viana Pantoja, diretor de Enfermagem do HRBT, explica que o aparelho vem a reforçar o atendimento. "Recebemos inúmeros casos de pacientes politraumatizados. Então, nesse cenário, nós estamos há três meses com o setor de trauma e isso vai ajudar bastante no diagnóstico, fechamento de condutas médicas e cirúrgicas a serem tomadas. Hoje nós já temos mais de 1.300 atendimentos ortopédicos que serão facilitados e melhor direcionados com a tomografia, sem falar que nós temos uma UTI com 10 leitos e isso vai facilitar principalmente no diagnóstico, fechamento e conduta dos pacientes com acidente vascular encefálico, dando uma melhor assistência para toda a população da região", pontuou.

O maior fluxo de atendimento se refere a acidentes de trânsito terrestre e fluvial, além de quedas de árvores em virtude da extração do açaí.


Mais saúde - A prefeita de Abaetetuba Francineti Carvalho, destacou que o investimento em saúde é fundamental. "Vivemos um momento de pandemia, mesmo que diminuindo. Então, quanto mais serviços de saúde tivermos, melhor. Sabemos que em saúde a demanda é sempre maior do que a oferta. E a ampliação do serviço de trauma ortopedia representa muito para Abaetetuba e toda a região do Baixo Tocantins. A visita do governador para ampliar o nosso trabalho com a implantação do serviço de hemodiálise, tão sonhado por Abaetetuba, que virá para melhorar a qualidade de vida dos nossos pacientes renais crônicos", comemorou a prefeita.

Prefeita de Abaetetuba Francinete Carvalho | Foto: Pedro Guerreiro/Ag.Para


O prefeito de Barcarena Renato Ogawa, também participou do ato. "É um dia de alegria para a nossa região, em que o governador vem entregar mais benefícios para a área de saúde, que nós sabemos que é uma área importantíssima que lida direto com vidas de pessoas. Então, poder vir aqui no município junto com a prefeita Francineti poder receber esse benefício do Governo do Estado que é o novo setor de tomografia e sempre desejar que a nossa união e nossos esforços estejam voltados para o povo paraense, para aqueles que mais precisam", desejou.

Prefeito de Barcarena Renato Ogawa | Foto: Pedro Guerreiro/Ag.Para

 

 

 

 Obra do Centro de Hemodiálise

 

Centro de Hemodiálise – O governador vistoriou o canteiro de obras do Centro de Hemodiálise do Hospital Regional do Baixo Tocantins Santa Rosa. A nova unidade contará com 22 máquinas e capacidade para realizar 1.980 atendimentos mensais, beneficiando a população de toda região.


"Até o final deste ano estaremos incrementando um serviço essencial e fundamental para a vida das pessoas, a hemodiálise. Certamente um dos serviços mais demandados pela região, principalmente por necessitar de traslado de paciente, de atendimentos muito especializados, que Abaetetuba e o Baixo Tocantins até então não tinham está conquista. E nós já estamos com as obras e até dezembro estaremos entregando o Centro de Hemodiálise e com isto complementando ainda mais toda a diversidade de serviços em saúde que o Governo do Estado junto com os municípios busca ofertar para a população do Baixo Tocantins", frisou Helder Barbalho. 

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http://jornaldetucurui.blogspot.com/2021/08/hospital-regional-do-baixo-tocantins.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+JornalDeTucuruERegio+%28Jornal+de+Tucuru%C3%AD+e+Regi%C3%A3o%29

Governo ocultou do MPF compra de máscaras impróprias pelo dobro do preço

 POLÍTICA

O Executivo Federal desembolsou R$ 3,59 por máscaras do tipo PFF2, considerada uma das melhores, e R$ 8,65 por unidade do equipamento inadequado
 
Metropoles Da Redação | 29/08/2021 12:57,atualizado 29/08/2021 14:11

Após recorde de mortes, Bolsonaro anuncia comitê de crise contra Covid

Em meio à pandemia de Covid-19, o governo pagou R$ 3,59 por máscaras do tipo PFF2, considerado um dos melhores modelos para proteção contra vírus, e R$ 8,65 por unidade de uma máscara que acabou escanteada por ser imprópria a profissionais de saúde. O contrato de menor valor teria sido ocultado do Ministério Público Federal (MPF) para esconder a informação de que havia sido pago mais do que o dobro do preço pelo equipamento de proteção inadequado. A notícia é do jornal Folha de S. Paulo.

As duas compras foram feitas com dispensa de licitação, no começo da pandemia da Covid, em 2020. A informação só foi fornecida após insistência do MPF. Agora, a Procuradoria da República investiga irregularidades na aquisição de equipamentos de proteção impróprios, do tipo KN95, de fabricação chinesa.

O então secretário-executivo do ministério, coronel do Exército Élcio Franco, e o então diretor do Departamento de Logística em Saúde, Roberto Ferreira Dias, foram cobrados por procuradores a entregar a relação de todos os contratos de compra de máscaras feitos pelo ministério durante a pandemia.

Dias assina esses contratos. Ele foi demitido do ministério após um atravessador de vacinas inexistentes denunciar uma cobrança de propina pelo diretor no valor de US$ 1 por dose.

Franco está abrigado em um cargo na Casa Civil da Presidência. O coronel e Dias são investigados pela CPI da Covid no Senado.

Em pelo menos três ocasiões, Dias teria escondido a existência do contrato com a 3M, omitindo da tabela de contratos informada ao MPF qualquer menção à compra feita ainda no começo da pandemia.

O único contrato referente a máscaras do tipo N95 —KN95 e PFF2 são associadas a esse modelo— que aparece nas tabelas é o da aquisição do produto suspeito.

Diante da impossibilidade de uso por profissionais de saúde, os equipamentos de proteção ficaram parados em galpões nos estados e acabaram sendo destinados para uso por pessoas fora de ambientes hospitalares.


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