terça-feira, 5 de novembro de 2019

Declínio neoliberal abre caminho para retorno da esquerda na América Latina, dizem especialistas

Para eles, esgotamento do modelo neoliberal se deve, em parte, ao fato de que um dos grandes desafios da região está na diminuição das desigualdades, algo em que as administrações deste corte estão falhando em atender

TIAGO ANGELO / Brasil de Fato Brasil de Fato / São Paulo (Brasil )/ 4 de nov de 2019 às 11:03

Reprodução: Manifestação no Chile: fim do modelo neoliberal na região

“A Unasul é um projeto abrangente na integração e na filiação, inclusivo e institucionalizante (com estatuto, órgãos etc) que visava substituir alguns papéis da OEA (Organização dos Estados Americanos) na América do Sul – mas não totalmente. A Celac, que não teve tempo de avançar, é abrangente, incisivo e ambicioso para uma articulação latino-americana e caribenha. Estaria mais próxima da ‘Pátria Grande’ de Simón Bolívar”, explica.
Já o Prosul, afirma Rodrigues, “é uma declaração com objetivos focados em liberalização comercial intrarregional. Não tem institucionalidade, está ancorada em acordos liberais com os Estados Unidos”. 
Para ele, no entanto, as configurações recentes na América Latina inviabilizam o pacto. O professor afirma que as manifestações que tomaram o Chile assinaram “o atestado de óbito” do Prosul. A “pá de cal” vem com a vitória de Fernández na Argentina, país que pode redirecionar seus esforços aos blocos mais consolidados
“O Prosul recebeu seu atestado de óbito a partir das manifestações no Chile, país que lança o Prosul com a Declaração de Santiago. Sem dúvida, a iniciativa, que foi uma movimentação lançada por Piñera, Bolsonaro e mais alguns presidentes de direita ou de ultradireita, não tem a menor chance de seguir adiante. Isso porque o Prosul só promete comércio, liberalização do comércio, mas a população está pedindo mais igualdade, mais renda igualitária". 
Neoliberalismo chileno, um espelho quebrado
Tanto para Amorim quanto para Rodrigues, é necessário esperar para ver quais serão as consequências das manifestações chilenas. Eles também não rejeitam a possibilidade de que mobilizações como as que ocorreram nos últimos meses cheguem ao Brasil. 
Segundo Amorim, “não é possível simplesmente ignorar o que aconteceu no Chile. O que foi questionado lá não foi só o governo Piñera, não foi só a repressão ou o aumento das passagens, foi todo o sistema neoliberal. Esses ventos vão bater no Brasil. Se não bater diretamente na Presidência, que parece encapsulada em uma coisa muito fechada, vai rebater no Congresso”. 
Já para Gilberto, devemos olhar para o Chile por ser a nação que inaugurou grande parte das políticas neoliberais que outros países da região tentam colocar em prática. 
“O Chile é o termômetro de como a gente caminha, mas ao mesmo tempo, a Argentina, onde houve uma eleição de bastante matiz partidário e em que venceu um partido de centro-esquerda, tem um desafio grande, que é o de saber se os partidos vão conseguir sobreviver a essa nova onda, ou se vão sucumbir a novas formas de participação política”, diz. 
Para os especialistas, o esgotamento do modelo neoliberal se deve, em parte, ao fato de que um dos grandes desafios da região está na diminuição das desigualdades, algo em que as administrações deste corte estão falhando em atender.
“Essa discussão é global, mas na América Latina ela tem um fator muito presente, e a direita e a ultradireita não têm instrumentos para reduzir essas desigualdades. Então, o que está ocorrendo é uma volta dos governos de esquerda, ou a manutenção deles. Creio que é um período novo, e que vai exigir muita liderança por parte dessas administrações".
https://operamundi.uol.com.br/politica-e-economia/61408/declinio-neoliberal-abre-caminho-para-retorno-da-esquerda-na-america-latina-dizem-especialistas

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