sexta-feira, 30 de junho de 2023

TSE condena Bolsonaro e o declara inelegível por oito anos


Julgamento começou em 22 de junho e terminou nesta sexta-feira (30). Placar foi de 5 a 2 contra ex-presidente; mesmo com recursos ainda possíveis, decisão já tem validade. Braga Netto foi absolvido.

Blog do Zé DuduPublicado em 30/06/2023 | às 17:05

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O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) condenou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação nesta sexta-feira (30). Com a decisão, a Corte declarou Bolsonaro inelegível por oito anos, até 2030.

O julgamento começou em 22 de junho e terminou nesta sexta, na quarta sessão. Mesmo com recursos ainda possíveis ao próprio TSE e ao Supremo Tribunal Federal (STF), a decisão da Justiça Eleitoral já está valendo.

Bolsonaro foi condenado pela realização de uma reunião com embaixadores estrangeiros, no Palácio da Alvorada, na qual difamou sem provas o sistema eleitoral brasileiro. O encontro, ocorrido em julho de 2022, foi transmitido pela TV oficial do governo.

Na reunião — realizada às vésperas do início do período eleitoral — o ex-presidente fez ataques às urnas e ao sistema eleitoral, repetindo alegações já desmentidas de fraudes.

Na sessão desta sexta, foram proferidos os votos de três ministros: Cármen Lúcia, Nunes Marques e Alexandre de Moraes, presidente do TSE.

Veja como se posicionou cada um dos sete ministros da Corte:

Benedito Gonçalves, relator: pela condenação

Raul Araújo: pela absolvição

Floriano de Azevedo Marques: pela condenação

André Ramos Tavares: pela condenação

Cármen Lúcia: pela condenação

Nunes Marques: pela absolvição

Alexandre de Moraes: pela condenação

O vice na chapa de Bolsonaro, Walter Braga Netto, que também estava sob julgamento, foi absolvido por unanimidade.

Acusação e defesa

A ação analisada pelo TSE foi proposta pelo PDT. No julgamento, o advogado do partido, Walber Agra, alegou que a reunião com embaixadores teve objetivo de “desmoralizar instituições” brasileiras em âmbito internacional.

O Ministério Público Eleitoral também se posicionou pela condenação e entendeu que houve abuso de poder político. Em manifestação no julgamento, o vice-procurador-geral eleitoral, Paulo Gonet, afirmou que a “conclusão dos autos conduzem que o evento foi deformado em instrumento de manobra eleitoreira, traduzindo em desvio de finalidade”.

Já a defesa de Bolsonaro afirmou que o sistema eletrônico de votação não pode ser considerado um tema tabu na democracia, e que a reunião foi um evento diplomático. O advogado Tarcísio Vieira de Carvalho também alegou que o ex-presidente apenas tentou propor um debate público para aprimorar o sistema.

Votos pela condenação

A maioria dos ministros, no entanto, votou pela condenação do ex-presidente. Em seu voto, o relator do caso, ministro Benedito Gonçalves disse não ser possível fechar olhos para mentiras e discurso violento.

“Em razão da grande relevância e da performance discursiva para o processo eleitoral e para a vida política, não é possível fechar os olhos para os efeitos antidemocráticos de discursos violentos e de mentiras que colocam em xeque a credibilidade da Justiça Eleitoral”, escreveu Gonçalves.

Já Floriano Marques citou depoimentos dos ex-ministros das Relações Exteriores, Carlos França, e da Casa Civil, Ciro Nogueira, e afirmou que as provas obtidas ao longo do processo apontam que a reunião com embaixadores não era parte da agenda de eventos institucionais. Para ele, ficou evidente que o “caráter eleitoral era central naquela atividade”.

Marques declarou que a performance de Bolsonaro na reunião foi menos de chefe de Estado e mais um comportamento típico de campanha e distante da liturgia do cargo.

O ministro André Tavares afirmou que a liberdade de expressão, que é um direito fundamental, “não alberga a propagação de mentiras”.

Ele entendeu que a reunião não foi um ato “isolado e aleatório”, mas fez parte de uma “verdadeira concatenação estratégica ao longo do tempo, com finalidades eleitoreiras, e para desestabilizar a democracia.

A ministra Cármen Lúcia afirmou que Bolsonaro cometeu ataques graves e contundentes a ministros do STF e do TSE, com informações já refutadas.

Para ela, a reunião com embaixadores teve caráter eleitoreiro, e que o requisito da gravidade, ou seja, o impacto do ato no processo eleitoral, foi preenchido.

Último a votar, o ministro Alexandre de Moraes afirmou que Bolsonaro espalhou mentiras na reunião com embaixadores e ao longo do processo eleitoral, com o objetivo de instigar o próprio eleitorado e eleitores indecisos contra o sistema de votação e a Justiça Eleitoral.

Ele também ressaltou a responsabilidade pessoal do ex-presidente no encontro, e disse que Bolsonaro organizou a reunião “a toque de caixa”: “De oficial só o desvio de finalidade praticado pelo presidente da República. Itamaraty não organizou, Casa Civil não participou. Monólogo eleitoreiro. Pauta dele, pessoal, eleitoreiro”, disse.

“Toda a produção foi feita para que a TV Brasil divulgasse mas, mais do que isso, para que a máquina existente de desinformação nas redes sociais multiplicasse essas informações, para que se chegasse diretamente ao eleitorado, como chegou”, disse.

Moraes afirmou que não é liberdade de expressão o ataque à lisura do sistema eleitoral, e que o discurso do ex-presidente foi um “encadeamento de mentiras”. Para ele, fazer isso usando a estrutura pública é abuso de poder.

Divergência

Já a divergência pela absolvição de Bolsonaro foi aberta pelo ministro Raul Araújo, segundo a votar.

No voto, o ministro afirmou entender que “não há que ter limites no direito à dúvida”. Raul Araújo concordou que Bolsonaro divulgou informações comprovadamente falsas na reunião com embaixadores, mas entendeu inexistir “o requisito de suficiente gravidade” para a condenação.

O entendimento foi seguido pelo ministro Nunes Marques. Ele reconheceu que não há dúvidas sobre a lisura do sistema eleitoral brasileiro, atacado por Bolsonaro. Mas argumentou que não houve intenção eleitoral ou abuso nos atos do ex-presidente.

O ministro também entendeu que a atuação do ex-presidente na reunião não se voltou para obter vantagens políticas ou desacreditar o sistema. Nunes Marques alegou que não identificou “gravidade necessária” na conduta de Bolsonaro “para formar juízo condenatório”.

“Considero que a atuação de Jair Messias Bolsonaro no evento sob investigação não se voltou a obter vantagem sobre os demais contendores no pleito presidencial de 2022. Tampouco faz parte de tentativa concreta de desacreditar o resultado da eleição”, afirmou.

Recursos

Mesmo condenado no TSE, Bolsonaro pode recorrer à própria Corte ou ao Supremo Tribunal Federal (STF). A defesa do ex-presidente já sinalizou que pretende recorrer da condenação.

Há duas possibilidades de recursos:Embargos de declaração

Recurso que seria enviado ao próprio TSE. Nesse instrumento, a defesa aponta obscuridades e contradições, na tentativa de reverter um eventual resultado pela inelegibilidade e preparar terreno para outro recurso ao STF.Recurso extraordinário

Esse seria enviado so STF. O documento precisa apontar que uma eventual decisão do TSE pela inelegibilidade feriu princípios constitucionais. O advogado de Bolsonaro, Tarcísio Vieira, afirmou que já vê elementos para esse recurso, seguindo na linha à restrição do direito de defesa.

Os dois recursos têm prazo de três dias. Mas, se for apresentado primeiro o embargo de declaração, o prazo para o recurso extraordinário deixa de contar.

Antes de chegar ao Supremo Tribunal Federal, o recurso é apresentado ao próprio TSE, onde caberá o presidente Alexandre de Moraes verificar se os requisitos formais foram preenchidos.

Uma vez o caso na Suprema Corte, os ministros que atuaram no julgamento no TSE não participam do sorteio para a relatoria, mas não estão impedidos de votar no caso quando ele for a plenário.

Fonte: G1


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https://www.zedudu.com.br/tse-condena-bolsonaro-e-o-declara-inelegivel-por-oito-anos/



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Consumo brasileiro deve atingir R$ 6,7 trilhões em 2023


Pesquisa IPC Maps aponta para crescimento mais lento

* TEMOS DADOS REGIONAIS

Imagem Ilustrativa

Com base na atual expectativa de alta do PIB em apenas 1,2%, as famílias brasileiras deverão gastar cerca de R$ 6,7 trilhões ao longo deste ano, o que representa um aumento real de 1,5% em relação a 2022. Essa é a conclusão da pesquisa IPC Maps 2023, especializada há quase 30 anos no cálculo de índices de potencial de consumo nacional, de acordo com fontes oficiais.

Segundo Marcos Pazzini, sócio da IPC Marketing Editora e responsável pelo estudo, a movimentação ainda é baixa em comparação ao incremento de 4,3% verificado no ano passado, quando a economia se reergueu dos reflexos negativos da pandemia, somado aos repasses de valores significativos, por meio de programas sociais à população mais carente. “As benesses do então Governo Federal deixaram um saldo negativo ao atual, que não tem condições financeiras, pelo menos por enquanto, de puxar o progresso econômico por meio do consumo das famílias, principalmente aquelas de baixa renda”, avalia.

Por outro lado, o levantamento indica a ampliação em 5% do perfil empresarial no País, resultando em mais de 1 milhão de novas unidades nos setores de indústria, serviços, comércio e agribusiness.

Outro destaque é a Região Sul que, devido ao processo de migração social positiva, com uma quantidade maior de domicílios nas classes mais altas, recupera sua tradicional vice-liderança e ultrapassa o Nordeste no ranking de consumo entre as regiões brasileiras. “Enquanto a média nacional da evolução nominal do potencial de consumo é de 7,5%, no Sul esse número é de 9,4%, graças ao desempenho das classes A, B1 e B2 que apresentam uma elevação de, respectivamente, 19,7%, 13,6% e 20,4%”, explica o pesquisador.

O trabalho mostra, ainda, uma ligeira alta na participação das 27 capitais no mercado consumidor (de 29,07% para 29,08%), após anos de quedas consecutivas. Em ascensão, também, estão as regiões metropolitanas, que passam a responder por 16,92%, enquanto o interior reduz sua presença para 54% no cenário nacional. Pazzini lembra que, de 2022 para 2023, a quantidade de empresas subiu 3,5% no interior e 6,7% nas capitais e regiões metropolitanas, contra 5% da média nacional. “Esse cenário pode ser explicado pelo home office, pois mesmo que a empresa funcione em grandes centros, ela não necessita mais de grandes áreas de escritórios. Aliado a isso, há uma oferta maior de imóveis corporativos para locação, com preços inferiores aos praticados antes da pandemia”, afirma.

Já, quanto aos hábitos de consumo, esta edição da IPC Maps confirma a elevada despesa com veículo próprio, superando diversos setores, inclusive o de alimentação e bebidas no domicílio, em função, sobretudo, da crescente demanda por transportes via aplicativos e deliveries, tanto pelo consumidor, quanto pelos trabalhadores.

Perfil básico – O Brasil possui cerca de 216,3 milhões de cidadãos. Destes, 183,4 milhões moram na área urbana e são responsáveis pelo consumo per capita de R$ 34 mil, contra R$ 15,1 mil gastos pela população rural.

Base consumidora — Tradicionalmente, a classe B2 lidera o panorama econômico, representando cerca de R$ 1,5 trilhão dos gastos. Junto à B1, pertencem a 21,8% dos domicílios, assumindo 42,2% (mais de R$ 2,6 trilhões) de tudo que será desembolsado pelas famílias brasileiras. Presentes em quase metade das residências (47,8%), C1 e C2 totalizam R$ 2,1 trilhões (33,1%) dos recursos gastos. Já o grupo D/E, que ocupa 27,8% das moradias, consumirá cerca de R$ 622,7 bilhões (10%). Embora em menor quantidade (apenas 2,6% das famílias), a classe A vem, cada vez mais, se distanciando socialmente dos menos favorecidos e ampliando sua movimentação para R$ 911,8 bilhões (14,6%).

Já na área rural, o montante de potencial de consumo deve chegar a R$ 496,3 bilhões (7,4% do total) até o final do ano.

Cenário Regional – O Sudeste segue liderando o ranking das regiões, respondendo por 49,1% do consumo nacional. Como já mencionado, a Região Sul volta a ocupar o segundo lugar da lista, ganhando representatividade de 18,3% e desbancando o Nordeste que, cai para 17,8%. Em quarto lugar vem Centro-Oeste, aumentando sua fatia para 8,6%, e por último, a Região Norte, que amplia sua atuação para 6,3%.

Mercados potenciais – O desempenho dos 50 maiores municípios equivale a R$ 2,654 trilhões, ou 39,5% de tudo o que será consumido em território nacional. De 2021 para cá, os 12 principais mercados vêm mantendo suas posições, sendo, em ordem decrescente: São Paulo/SP, Rio de Janeiro/RJ, Brasília/DF, Belo Horizonte/MG, Salvador/BA, Curitiba/PR, Fortaleza/CE, Porto Alegre/RS, Goiânia/GO, Manaus/AM, Campinas/SP e Recife/PE. Outras capitais, como Belém/PA (13º), Campo Grande/MS (15º) e Florianópolis/SC (21º) também se sobressaem nessa seleção, bem como as seguintes cidades metropolitanas ou interioranas: Guarulhos (14º), São Bernardo do Campo (17º), Santo André (18º), Ribeirão Preto (19º) e São José dos Campos (20º), no Estado de São Paulo; São Gonçalo (16º), no Rio de Janeiro; e Uberlândia, em Minas Gerais (25º).

Perfil empresarial – Entre abril de 2022 a abril de 2023, a quantidade de empresas no Brasil cresceu 5%, totalizando 22.173.770 unidades instaladas. Destas, mais da metade (13.678.653) são Microempreendedores Individuais (MEIs), responsáveis pela criação de mais de 530 mil novos CNPJs no período.

Dentre as companhias ativas, a maioria (12,4 milhões) refere-se a atividades relacionadas a Serviços; seguida pelos segmentos de Comércio, com 5,5 milhões; Indústrias, 3,5 milhões; e Agribusiness, contando com mais de 791 mil estabelecimentos.

Geografia da Economia – Em relação à distribuição de empresas no âmbito nacional, a Região Sudeste segue no topo, concentrando 51,8% das corporações; seguida pelo Sul, com 18,5%. Já, perdendo presença, estão o Nordeste com 16,5% dos negócios; Centro-Oeste com 8,4%; e o Norte com apenas 4,7% das organizações existentes no País.

Partindo para a análise quantitativa para cada mil habitantes, a pesquisa IPC Maps reflete uma retenção geral. As Regiões Sul e Sudeste levam vantagem com, respectivamente, 133,34 e 126,51 empresas por mil habitantes. Em seguida, vem o Centro-Oeste com 109,26 e, bem abaixo da média, estão as regiões Nordeste, com 62,93, e Norte, com apenas 54,04 empresas/mil habitantes.

Hábitos de consumo – Sobre as preferências dos consumidores na hora de gastar sua renda, o realce continua sendo para a categoria de veículo próprio, cujas despesas chegam a comprometer 11,7% do orçamento familiar, em detrimento de outros segmentos, como alimentação e bebidas no domicílio, que respondem por 10,3% da renda domiciliar.

Ainda assim, os itens básicos são prioridade, com grande margem sobre os demais, conforme a seguir: 25,3% dos desembolsos destinam-se à habitação (incluindo aluguéis, impostos, luz, água e gás); 18,6% outras despesas (serviços em geral, reformas, seguros etc.); 6,7% são medicamentos e saúde; 4,6% alimentação e bebidas fora de casa; 3,8% materiais de construção; 3,5% educação; 3,4% vestuário e calçados; 3,3% recreação, cultura e viagens; 3,2% higiene pessoal; 1,5% móveis e artigos do lar e eletroeletrônicos; 1,4% transportes urbanos; 0,5% para artigos de limpeza; 0,4% fumo; e finalmente, 0,2% refere-se a joias, bijuterias e armarinhos.

Faixas etárias – A população de idosos continuará crescendo, chegando a 33,6 milhões em 2023. Na faixa etária economicamente ativa, de 18 a 59 anos, essa margem está praticamente em 130 milhões, o que representa 60% do total de brasileiros, sendo mulheres em sua maioria. Perdendo espaço, estão os jovens e adolescentes entre 10 e 17 anos, que somam 23,5 milhões, sendo superados por crianças de até 9 anos, que segue na média de 29,4 milhões.


Sobre o IPC Maps

Publicado anualmente pela IPC Marketing Editora, empresa que utiliza metodologias exclusivas para cálculos de potencial de consumo nacional, o IPC Maps destaca-se como o único estudo que apresenta em números absolutos o detalhamento do potencial de consumo por categorias de produtos para cada um dos 5.570 municípios do País, com base em dados oficiais, através de versões em softwares de geoprocessamento. Este trabalho traz múltiplos indicativos dos 22 itens da economia, por classes sociais, focados em cada cidade, sua população, áreas urbana e rural, setores de produção e serviços etc., possibilitando inúmeros comparativos entre os municípios, seu entorno, estado, regiões e áreas metropolitanas, inclusive em relação a períodos anteriores. Além disso, o IPC Maps apresenta um detalhamento de setores específicos a partir de diferentes categorias.




Lívia Aragão McCardell assessora de imprensa livia@mccomm.com.br (11) 99605-9019


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quinta-feira, 29 de junho de 2023

Fazendeiro do Pará é condenado por manter 85 trabalhadores em condições análogas a de escravo

CRIMINAL

Sentença decorreu de condenação do Estado brasileiro na Corte Interamericana de Direitos Humanos

MPF 29 DE JUNHO DE 2023 ÀS 15H15

Arte: Comunicação/MPF

Após denúncia do Ministério Público Federal (MPF), a Justiça Federal condenou o fazendeiro João Luiz Quagliato Neto, proprietário da Fazenda Brasil Verde, localizada em Sapucaia (PA), e o gerente da propriedade, Antônio Jorge Vieira, pelos crimes previstos no artigo 149, do Código Penal (redução a condição análoga à de escravo) e artigo 207, §1º e §2º do Código Penal (aliciamento de trabalhadores de um local para outro do território nacional). Eles foram condenados a 7 anos e 6 meses de reclusão, além de multa. O MPF pretende recorrer para aumentar as penas.

A sentença decorreu da condenação do Estado brasileiro na Corte Interamericana de Direitos Humanos no caso Fazenda Brasil Verde e foi resultado de mudança jurisprudencial que interpretou como imprescritível o crime de redução à condição análoga à de escravo. Em suma, a Corte declarou a responsabilidade do Brasil por violar o direito a não submissão à escravidão e ao tráfico de pessoas (em transgressão ao artigo 6.1 do Pacto de San José da Costa Rica) e impôs a obrigação de investigar, processar e eventualmente sancionar as graves violações de direitos humanos ocorridas na citada propriedade rural.

Em 2001, foi instaurado inquérito policial para apurar os fatos e os autos tramitaram, inicialmente, perante a 2ª Vara da Justiça Federal de Marabá, sendo posteriormente declinados ao Juízo da Comarca de Xinguara (PA), ocasião em que o processo teria desaparecido sem que fosse restaurado. Contudo, a Corte determinou a reconstituição do processo, ensejando assim a instauração de procedimento pelo MPF e que culminou na sentença em tela.

Condição análoga à de escravo — Conforme fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), feita em março de 2000 na Fazenda Brasil Verde, 85 trabalhadores estavam sem receber os seus pagamentos, sofriam restrição da liberdade de locomoção e eram submetidos a constante vigilância armada. Além disso, suas carteiras de trabalho haviam sido retidas e não tinham acesso a qualquer direito trabalhista, entre outras irregularidades. A fiscalização só ocorreu após dois trabalhadores, ambos menores de idade, fugirem da fazenda e relatarem a prática do trabalho em condições análogas à de escravo e a ocorrência de violência praticada contra os empregados do local à Polícia Federal.

Segundo as investigações, os trabalhadores eram alojados em barraco improvisado que não apresentava mínimas condições de habitabilidade. Eles se aglomeravam em redes e a água por eles utilizada para fins de higiene pessoal e consumo era coletada de um córrego próximo ao alojamento, sendo também utilizada pelos animais, imprópria, portanto, para o uso. Eles ainda tinham que fazer suas necessidades fisiológicas ao relento, pois não havia instalações sanitárias adequadas.

Indo além, os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), indispensáveis à execução segura das atividades, não eram fornecidos gratuitamente. Quando disponibilizados, eram descontados do pagamento devido aos trabalhadores, assim como os próprios instrumentos de trabalho (a exemplo de foices).

Por fim, havia na Fazenda Brasil Verde a chamada servidão por dívida, uma vez que os empregados, nessas circunstâncias, se viam compelidos a continuar trabalhando indeterminadamente por conta dos vínculos feitos pelos débitos contraídos com o empregador. As dívidas geravam, ainda, restrições de locomoção dos trabalhadores por meio de constante vigilância armada. De acordo com levantamentos feitos pelo MPF, a Fazenda Brasil Verde agiria com o mesmo modus operandi desde o fim da década de 1980.

Ministério Público Federal no Pará
Assessoria de Comunicação
Para atendimento à imprensa: saj.mpf.mp.br
Para envio de representações (denúncias) ao MPF, protocolo de documentos ou acesso a outros serviços aos cidadãos: www.mpf.mp.br/mpfservicos

Para mais informações:

Relacionadas




https://www.mpf.mp.br/pa/sala-de-imprensa/noticias-pa/fazendeiro-do-para-e-condenado-por-manter-85-trabalhadores-em-condicoes-analogas-a-de-escravo#:~:text=Fazendeiro%20do%20Pará%20é%20condenado,Procuradoria%20da%20República%20no%20Pará


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quarta-feira, 28 de junho de 2023

Segurança de Barragens: Eletrobras Eletronorte realiza cadastramento em cidades do entorno da Usina Tucuruí


A Eletrobras Eletronorte, em parceria com a Defesa Civil de Tucuruí e a empresa Geometrisa Segurança de Barragens, já começou levantamento cadastral das populações residentes na região de influência da Usina Hidrelétrica Tucuruí.
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O cadastro faz parte do Plano de Segurança da Usina Tucuruí, que tem como objetivo proteger a população próxima à barragem.

Com o objetivo de promover uma ação segura e tranquila, os agentes estarão identificados e uniformizados. Não serão solicitados documentos de identificação, apenas informações gerais sobre as condições socioeconômicas, de moradia e saúde.

O cadastramento cumpre regulamentação da Lei Federal de Segurança de Barragens e em caso de dúvida, entre em contato com a Defesa Civil Municipal pelo telefone (94) 9.8106-5004.

Acesse o link para conhecer os conteúdos produzidos pela Eletrobras Eletronorte: https://www.eletronorte.com.br/programa-de-comunicacao-hidreletrica-tucurui/


Se preferir, fale com a gente pelo e-mail: comunicacao@eletronorte.com.br.

A equipe da Fama, em Tucuruí também está a disposição pelo contato 55 94 99229-0386 (Whatsapp) - Fama - Usina de Notícias.


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MPPA e MPF se unem em Marabá para discutir obras do Pedral do Lourenço


Representantes do Ministério Público do Estado e o Ministério Público Federal analisam aspectos relevantes do estudo prévio de impacto ambiental

Blog do Zé DuduPublicado em 27/06/2023 | às 17:56

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Nesta segunda-feira, dia 26 de junho, ocorreu em Marabá a reunião do Grupo de Trabalho Pedral do Lourenço, de iniciativa do Centro de Apoio Operacional Ambiental (CAO Ambiental) do Ministério Público do Estado do Pará (MPPA). O objetivo do grupo é acompanhar as obras de dragagem e derrocamento da via navegável do rio Tocantins, que representam uma das mais importantes e impactantes intervenções do governo federal no território paraense.

A reunião foi presidida pelo promotor de Justiça José Godofredo Pires dos Santos, coordenador do CAO Ambiental. Estiveram presentes a Promotora de Justiça Ambiental de Marabá, Josélia Leontina Barros Lopes, a promotora de Justiça da região agrária de Marabá, Alexssandra Muniz Mardegan, os promotores de Justiça de Tucuruí, Francisco Charles Pacheco Teixeira e Aline Januza Telles Martins, além do engenheiro ambiental do MPPA, Mayke Feitosa Progênio.

A reunião também contou com a participação do Ministério Público Federal (MPF-PA), representado pelos procuradores da República Igor Lima, que atua no caso há mais de três anos, e Luís Eduardo Araújo, acompanhados pela analista do MPF, Carolina Botto.

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Durante o encontro, o Ministério Público do Estado e o Ministério Público Federal analisaram aspectos relevantes do estudo prévio de impacto ambiental, que serviu como base para a concessão da licença prévia pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).

Apesar da importância econômica da obra, que será executada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), os promotores expressaram preocupação com as repercussões físicas e sociais na área afetada, incluindo possíveis alterações no mecanismo hídrico do rio Tocantins, na ictiofauna e nas atividades das comunidades localizadas às margens das áreas afetadas.

O Estudo de Impacto Ambiental/Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) analisa de forma superficial os impactos decorrentes dessa atividade em um dos rios mais caudalosos do planeta, que percorre diversos estados brasileiros e municípios no Estado do Pará.

O Grupo de Trabalho Pedral do Lourenço reconhece a relevância econômica dessa empreitada, mas busca garantir a segurança no processo de execução do empreendimento e minimizar suas consequências para a sociedade paraense. O coordenador do Centro de Apoio Operacional Ambiental do Ministério Público do Estado do Pará, o promotor de Justiça José Godolfredo, afirmou: “Trata-se de uma reunião de alinhamento das ações e atividades relacionadas ao acompanhamento das autorizações e, futuramente, das obras, para que a sociedade paraense possa ter segurança no processo de execução do empreendimento e suas consequências”.

Após a reunião, foram deliberadas novas medidas a serem adotadas em relação à interlocução com os órgãos executor e licenciador, bem como com as comunidades potencialmente afetadas. O Grupo de Trabalho continuará acompanhando o andamento das obras e buscando a mitigação dos impactos ambientais e sociais causados pelo projeto de dragagem e derrocamento da via navegável do Rio Tocantins.


https://www.zedudu.com.br/mppa-e-mpf-se-unem-em-maraba-para-discutir-obras-do-pedrao-do-lourencao/


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terça-feira, 27 de junho de 2023

Maioria do STF torna réu homem que quebrou relógio de D. João VI no Planalto em ato golpista de 8 de janeiro

AGENDA DO PODER | CESAR FERNANDES JUDICIÁRIO | 26 DE JUNHO DE 2023 - 19:51

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O homem que destruiu o relógio de D. João VI que ficava no Palácio do Planalto e mais 45 denunciados viraram réus no processo dos atos golpistas de 8 de janeiro. O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria de votos nesta segunda-feira por participação nos atos golpistas, entre eles Cláudio Ferreira, de 30 anos, flagrado destruindo o relógio de Dom João VI no Palácio do Planalto.

O mecânico foi flagrado por câmeras de segurança jogando no chão o relógio de Dom João VI durante a invasão golpista do dia 8 de janeiro e preso no dia seguinte.

No dia 8 de janeiro, centenas de golpistas bolsonaristas invadiram a sede dos três Poderes da República e destruíram o patrimônio público. Na ocasião, um dos vândalos que usava uma camiseta com o rosto do ex-presidente Jair Bolsonaro, atirou o relógio no chão.

Após o dia 8 de janeiro, mais de 2 mil pessoas foram detidas. À maioria foi concedida liberdade com aplicação de medidas cautelares. Atualmente, 253 pessoas seguem detidas. Até o momento, o STF já analisou 1.245 denúncias, sendo que outras 45 serão finalizadas nesta segunda.

Além de Ferreira, também fazem parte deste bloco de denúncias William Lima, que foi flagrado roubando uma toga dos ministros do STF, e o policial legislativo Alexandre Hilgenberg.
A maioria dos ministros votou para seguir o voto do relator, ministro Alexandre de Moraes. Ele foi seguido pelos ministro Gilmar Mendes, Edson Fachin, Cármen Lúcia, Luiz Fux, Luís Roberto Barroso e Rosa Weber.

Nesta segunda, o Supremo também começou as audiências para as oitivas das testemunhas de acusação e de defesa e para interrogatório dos réus pelos atos golpistas de 8 de janeiro. Neste primeiro bloco, o foco está nas ações penais contra as 232 pessoas que seguem presas e são acusadas de crimes mais graves.

Essas pessoas são acusadas dos crimes de associação criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça com emprego de substância inflamável contra o patrimônio da União e com considerável prejuízo e deterioração de patrimônio tombado.

Das pessoas que foram presas pelo 8 de janeiro, 100 ainda precisam ter suas denúncias analisadas pelo Supremo.

Com informações de O Globo.


https://www.agendadopoder.com.br/judiciario/maioria-do-stf-torna-reu-homem-que-quebrou-relogio-de-d-joao-vi-no-planalto-em-ato-golpista-de-8-de-janeiro/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=destaques_desta_noite_no_agenda_do_poder&utm_term=2023-06-26



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segunda-feira, 26 de junho de 2023

Vídeo: pelo menos 3 morrem em acidente com ônibus de viagem


O ônibus saiu de Tucuruí no sudeste do Pará e tinha como destino a cidade de Goiânia

segunda-feira, 26/06/2023, 09:13 - Autor: DOL Carajás com informações de Portal Jacundá

O acidente teria envolvido um ônibus da empresa Real Maia e um caminhão na região central do Estado do Tocantins | Reprodução
















Um grave acidente envolvendo um ônibus de transporte interestadual tirou a vida de pelo menos três pessoas em uma rodovia do estado do Tocantins.

O acidente teria envolvido um ônibus da empresa Real Maia e um caminhão na região central do Estado do Tocantins (TO) na noite de sábado (24), e causou a morte de três pessoas e outras 19 feridas. O terrível incidente ocorreu no Km 410 da BR-153, no município de Miranorte. O ônibus, que partiu de Tucuruí, no Pará, com destino a Goiânia, capital de Goiás, iniciou sua jornada na manhã do mesmo dia.

Após a colisão, as autoridades da Polícia Rodoviária Federal (PRF) tiveram que interditar o trecho da rodovia. Equipes de resgate do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e do corpo de bombeiros foram acionadas para prestar os primeiros socorros às vítimas.
O acidente ocorreu por volta das 23h30, de acordo com informações da PRF |Reprodução

Os feridos foram encaminhados para os hospitais de Miracema do Tocantins e Paraíso, utilizando ambulâncias do Samu, do corpo de bombeiros e também de municípios próximos. Os corpos das vítimas fatais foram levados para o Instituto Médico Legal de Paraíso do Tocantins, e até o momento suas identidades não foram divulgadas.

O acidente ocorreu por volta das 23h30, de acordo com informações da PRF. O ônibus transportava um número considerável de passageiros no momento da tragédia.

A Secretaria de Estado da Saúde (SES-TO) informou que o Hospital Regional de Miracema (HRM) recebeu 19 pessoas do acidente. A identidade das vítimas e dos mortos ainda não foi divulgado.


O ônibus, que partiu de Tucuruí, no Pará, com destino a Goiânia, capital de Goiás, iniciou sua jornada na manhã do mesmo dia. Dol carajas 03

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que aconteceu uma saída de pista seguida de tombamento e duas mortes foram confirmadas no local. Ainda não há informação sobre as causas do acidente.

Um dos corpos ficou preso embaixo da lateral do ônibus e foi retirado depois que uma retroescavadeira foi usada para desvirar o veículo. Os mortos foram levados para o Instituto Médico Legal (IML) de Paraíso do Tocantins. O trânsito na rodovia ficou parcialmente prejudicado durante o atendimento ao acidente, mas já foi liberado.

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sexta-feira, 23 de junho de 2023

Fuligem de queimadas na África atravessa o Atlântico e atinge atmosfera amazônica



Estudo estima que de 30% a 60% do volume total deste tipo de poluição medida na Amazônia venha da África; metodologia usada permitirá compreender melhor consequências do transporte de poluentes para o clima global

Publicado: 22/06/2023 | Texto: Ivan Conterno Arte: Joyce Tenório

Incêndio florestal na África - Foto: Domínio público

Incêndio florestal na África - Foto: Domínio público

As correntes de ar transportam pela atmosfera da Terra materiais essenciais para a fertilização dos solos e os ciclos naturais, conhecidos como aerossóis. Embora essas partículas suspensas no ar possam nutrir biomas distantes, aerossóis contendo fuligem da queima de combustíveis e florestas também contribuem para desequilíbrios no clima e na saúde. Tendo isso em vista, pesquisadores brasileiros e alemães monitoraram os aerossóis provenientes das queimadas na África, revelando como e em que quantidade eles afetam a atmosfera amazônica. Os estudos com modelos climáticos sobre a Amazônia até o momento não levavam em conta as emissões da África.

Bruna Holanda 
Foto: Arquivo pessoal
Os cientistas conseguiram diferenciar as partículas de fumaça originadas na floresta das que foram transportadas do continente africano. Essas diferenças se dão em relação ao tamanho e à capacidade de absorção de calor, entre outras características físicas e químicas. “O transporte e a sazonalidade da fumaça da África através do Atlântico eram conhecidos com base em medidas de satélite e de avião. Sabia-se também que as propriedades físicas e químicas afetavam os aerossóis sobre a Amazônia. Contanto, ainda não se sabia em que proporções e como distinguir isso da poluição local”, esclarece ao Jornal da USP Bruna Holanda. Pesquisadora do Instituto de Física (IF) da USP e do Instituto de Química Max Planck de Mainz, na Alemanha, a brasileira é primeira autora do artigo com os resultados do estudo, publicado na revista Communications Earth & Environment, do grupo Nature.

Embora haja períodos em que a floresta amazônica receba nutrientes essenciais, agora se sabe que o volume de poluição também transportado da África corresponde a um percentual significativo do total da poluição medida no bioma: de 30%, na estação seca, a 60%, na chuvosa. Essa descoberta inédita destaca a importância de compreender a extensão e os efeitos da queima de florestas para o clima e a saúde em todo o planeta.

Embora não seja possível discriminar a contribuição por território, a maior parte da fumaça africana que chega na Amazônia durante a estação seca vem de países da região centro-sul africana com zonas de floresta tropical como Angola, Zâmbia, República Democrática do Congo, Congo e Gabão. Durante os períodos de chuva na Amazônia, predomina a fumaça da região a sudoeste e sul do Saara, como Guiné-Bissau, Guiné, Serra Leoa, Libéria, Costa do Marfim, Gana, Tongo, Benim, Nigéria, Camarões e República Centro Africana. - Imagem: African biomass burning affects aerosol cycling over the Amazon/Communications Earth & Environment

Black carbon

O black carbon, fuligem emitida durante a combustão que sobe para a atmosfera, é uma das consequências mais preocupantes das queimadas para o meio ambiente. Analisando essas pequenas partículas dispersas no ar, os pesquisadores geraram uma enorme quantidade de dados e perceberam diferenças significativas entre o material produzido em cada continente, devido às particularidades de suas propriedades físico-químicas.

A equipe criou um método matemático que mostra a distribuição de tamanho das partículas coletadas na atmosfera para obter duas medidas mais frequentes: uma corresponde às partículas emitidas na África; a outra é proveniente das emissões na América do Sul. A análise mostrou que, embora outras partículas sejam adicionadas ao topo desses aerossóis, o núcleo de black carbon não se altera no trajeto da África à América do Sul. “Nós medimos o black carbon que, assim como o CO2 (dióxido de carbono), absorve bastante radiação e tem potencial de aquecer a atmosfera. Embora o continente africano esteja a milhares de quilômetros, nós ficamos extremamente chocados com os valores de quanto vem da África, que se soma ao que já é emitido por desflorestamento da Amazônia”, revela Bruna Holanda.

Marco Aurélio de Menezes Franco
- Foto: Arquivo Pessoal
As partículas de black carbon e os gases de efeito estufa produzidos na África e transportados pelas correntes de vento absorvem e reemitem altas quantias de radiação na forma de ondas longas, infravermelhas. Segundo Marco Aurélio Franco, atualmente professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP e um dos colaboradores da pesquisa, as ondas infravermelhas têm como característica o calor.

“O fenômeno altera tanto os regimes de chuva quanto o balanço radiativo, contribuindo para o aquecimento da região. Isso impacta não só a natureza, mas também a saúde da população que respira esse material, tanto humana quanto animal”, diz Franco.



Além disso, Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física (IF) da USP e um dos autores do artigo, alerta para o agravamento da situação atual. “O aumento da temperatura previsto nos próximos anos para a África Central e para a África Subsaariana, a principal fonte dessas emissões de queimadas, e a redução das chuvas que já está ocorrendo naquela região muito provavelmente tenderão a se agravar e isso poderá fazer com que esse transporte seja mais intenso no futuro, piorando as mudanças climáticas na região do Atlântico Tropical entre a África e a Amazônia.”



A Zona de Convergência Intertropical, representada em azul, é a área de vapor próxima ao equador por onde ocorre o transporte de poeira entre o continente africano e o sulamericano. - Foto: NASA/JPL AIRS Project

Metodologia inovadora

O fluxo da poeira do deserto do Saara para a Amazônia é estudado desde a década de 1980. Esse transporte normalmente ocorre durante a estação chuvosa, quando uma massa de ar proveniente da Zona de Convergência Intertropical passa pela África, na região próxima ao deserto do Saara, e chega à Amazônia. Isso resulta em um transporte de poeira que ocorre há milhões de anos.

O estudo publicado agora levou nove anos e envolveu modelagem computacional nunca utilizada antes, material colhido pela aeronave Halo (aeronave de pesquisa de alta altitude e longo alcance), operada por um consórcio de institutos de pesquisa alemães, e medidas no Observatório de Torre Alta da Amazônia (ATTO). Os voos foram realizados em diferentes pontos do Atlântico, da Amazônia e da divisa com o continente africano em setembro de 2014, entre agosto e setembro de 2018 e entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023. Dessa forma, foram monitorados dados de queimadas e de transporte de poeira em todo o trajeto.

O artigo desvenda pela primeira vez a grande incógnita sobre a quantidade, a sazonalidade e as propriedades da fumaça africana na Amazônia central. Essa abundância observada afeta diretamente a qualidade do ar, o ciclo atmosférico e o clima na floresta amazônica, além de outras implicações.

Paulo Artaxo - Foto:
Arquivo pessoal
“A região do Atlântico Tropical, entre a África e o Brasil, é uma das regiões do oceano que sofre o aquecimento mais rápido do planeta. Em geral, o aquecimento da água é de 30% a 40% maior nesta região do que em outras regiões do oceano. Isso pode intensificar a ocorrência de furacões, pois eles surgem das altas temperaturas da água”, explica Paulo Artaxo.

Durante a estação chuvosa, entre fevereiro e maio, verificou-se que 60% da concentração de fuligem encontrada na Amazônia foi na verdade produzida na África. Nas estações secas, quando a concentração de fumaça é predominantemente de queimadas locais, ainda assim 30% da fuligem encontrada em território amazônico é originalmente da África.

De acordo com Paulo Artaxo, Bruna Holanda foi a primeira a quantificar os fluxos de black carbon trazidos da África, fazer medidas desses componentes e juntá-los em uma modelagem que explica esse transporte. “O trabalho começou olhando para o transporte de poeira. Ao longo da elaboração do trabalho, observou-se que o transporte de queimadas era muito mais significativo do que tínhamos pensado quando começamos a analisar os dados.” Com essa nova metodologia, será possível aprimorar os modelos climáticos existentes.

Foto tirada em 30 de setembro de 2014, mostra a camada de poluição acastanhada na atmosfera chegando ao litoral brasileiro - Foto: Bruna Holanda


Não existem fronteiras para a poluição


Mesmo com essa influência externa, a principal causa das mudanças nos regimes de chuva na América do Sul continua sendo o desmatamento local. Embora a adição de 30% de material de fumaça africana na estação seca seja relevante, os pesquisadores lembram que os outros 70% são de emissões locais.

Marco Aurélio Franco explicou ao Jornal da USP que esse fenômeno tem relação com a mudança do uso da terra. Na região amazônica, as queimadas foram intensificadas com aumento do processo de ocupação durante a ditadura militar brasileira, com o incentivo à exploração de seringueiras para a produção de borracha, à agricultura e à mineração. Hoje, parte da floresta foi transformada em área para plantação e criação de gado. Na África, provavelmente tenha ocorrido um processo similar.

Isso significa que o ecossistema da América do Sul não depende apenas de medidas feitas localmente, como enfatiza Franco. “É impossível separar regiões do planeta, que é inteiramente conectado. Mesmo que cortemos toda a poluição antrópica das queimadas na Amazônia, é impossível frear esse tipo de infusão de poluentes da África se as queimadas não pararem lá também.”

Mais informações: e-mails b.holanda@mpic.de, com Bruna Holanda; marco.franco@usp.br, com Marco Aurélio Franco; e artaxo@if.usp.br, com Paulo Artaxo


https://jornal.usp.br/ciencias/fuligem-de-queimadas-na-africa-atravessam-o-atlantico-e-atingem-atmosfera-amazonica/



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