segunda-feira, 9 de dezembro de 2019

Indígenas do baixo Tapajós aprendem sobre meios de comunicação como forma de luta e resistência

08/12/2019, 22:10 - Atualizado em 08/12/2019, 22:10 -  Autor: Julyanne Forte

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A“Oficina de artesanato sonoro e podcast” foi realizada nos últimos dia 28, 29 e 30 de novembro, pelo Coletivo Etnomídia Tupinambá e pela idademidia.org, na aldeia de São Francisco, terra indígena Tupinambá, localizada na região do baixo Tapajós, a cerca de 8h de barco de Santarém, oeste paraense.
Ministrada por Ângelo Madson, sociólogo, Tupinambá e fundador da rádio web “Idade Mídia: Comunicação para a Cidadania”, o curso ofereceu instruções técnicas e teóricas para a produção de áudio, na perspectiva da Etnomídia que, de acordo com a definição da jornalista Renata Tupinambá, significa: "fazer uma comunicação com identidade, em que cada grupo étnico que se apropria das ferramentas comunicacionais, faz sua própria forma de comunicação – sem obedecer aos padrões estabelecidos pela grande mídia ou pelo jornalismo, mas criando formas próprias", conceitua a jornalista.
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Crianças, jovens e anciãs da aldeia Tupinambá participaram das aulas. “Durante esses três dias nós trabalhamos com a linguagem, os formatos e os gêneros radiofônicos; a questão da notícia: lead, nota, reportagem, entrevista, áudio ficção... tudo em uma perspectiva de trabalhar a mídia através de uma visão crítica da própria etnia indígena Tupinambá”, explica Ângelo.
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De acordo com o sociólogo, a ideia é que os indígenas que participaram da oficina possam utilizar os conhecimentos adquiridos para trabalhar os assuntos mais relevantes que rondam a região como, por exemplo, a questão da auto demarcação do território da reserva Tapajós-Arapiuns, aonde neste local existem cerca de 13 etnias, compondo mais de 73 aldeias. Desse total, 20 pertencem ao povo Tupinambá. As questões como a hidrovia Tapajós Teles-Pires, as abertura de estradas, construções de hidrelétricas, presença de madeireiros, o risco da mineração, o agronegócio, entre outras questões que rondam o território indígena Tupinambá.
“É necessário que eles sejam os mensageiros da própria comunicação, para que não fiquem à revelia dessa mídia que é feita na cidade, por pessoas que não conhecem a realidade dos povos e que, por muitas vezes, tem uma visão desvirtuada. Inclusive, dizendo que os indígenas não podem usar celular, não podem ter internet, porque isso faria deles menos indígenas”, diz Ângelo.
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“Em uma situação de luta política e de resistência, isso é o nosso antropofagismo moderno, é a nossa forma de engolir a cultura branca, é de pegar deles aquilo que serve para a gente e fazer disso a nossa arma de luta, de resistência. Contra todos os males que estão acontecendo na terra indígena, o povo Tupinambá se ergue em armas, sejam elas as armas políticas, da educação ou, como nesse caso agora, a arma da comunicação popular, da mídia tática, da mídia radical”, finaliza o sociólogo.
Há aproximadamente 15 anos, Ângelo desenvolve oficinas de formação teórica e capacitação técnica a agentes multiplicadores da comunicação popular. Segundo ele, a ação já foi realizada em escolas, com rádios escolares, nos campos, com a juventude agrária, em periferias de cidades e, até mesmo, dentro do sistema carcerário, com adolescente em cumprimento de medidas sócio educativas.
https://www.diarioonline.com.br/noticias/para/542684/indigenas-do-baixo-tapajos-aprendem-sobre-meios-de-comunicacao-como-forma-de-luta-e-resistencia

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