quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Acusado de intermediar morte de ‘Dezinho’ é preso em BH 20 anos após o crime

 Por :  Chagas Filho

O acusado nunca tinha sido preso e vinha se escondendo das autoridades policiais nas últimas duas décadas, mas, finalmente, foi parar atrás das grades

por Redação  12/11/2020 em Destaques, Polícia


José Dutra da Costa, o “Dezinho”. Foto G1


Deve ser recambiado para o Estado do Pará nos próximos dias o preso Rogério de Oliveira Dias. Ele foi preso esta semana na cidade de Belo Horizonte, capital das Minas Gerais, em razão de um mandado de prisão aberto contra ele desde o ano de 2000, pelo Poder Judiciário de Rondon do Pará. Rogério é acusado de intermediar o assassinato do sindicalista José Dutra da Costa, o “Dezinho”.


Intermediador: Rogério de Oliveira Dias. 





A vítima lutava pela reforma agrária na região e foi morta a tiros em um crime que teve repercussão internacional e levou o Brasil a ser penalizado pela Comissão interamericana de Direitos Humanos.

A reportagem deste CORREIO apurou que os advogados de Rogério já pediram revogação da preventiva dele, mas entidades de direitos humanos que acompanham o caso já estão cientes do processo e iniciaram um duelo judicial para manter o acusado preso.

Para essas entidades, colocar em liberdade o acusado Rogério, foragido há 20 anos, fere o acordo firmado pelo Estado Brasileiro perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

“Dezinho” foi assassinado perto de sua casa na noite de 21 de novembro de 2000. O pistoleiro, identificado como Wellington de Jesus Silva, não conseguiu fugir após o crime e foi preso ainda em flagrante. Ele ficou na cadeia até 2008, quando recebeu uma autorização para passar o final de ano em casa e nunca mais voltou.

Outro nome importante nessa trama é Igoismar Mariano Nunes, também apontado como intermediário na execução do sindicalista.

Mortes e ameaças

O caso é tratado com muita cautela em Rondon do Pará, pois no curso da instrução processual, uma das principais testemunhas, que ajudou a segurar o pistoleiro logo após o crime, Magno Fernandes do Nascimento, foi assassinada em sua casa e a morte dele nunca foi esclarecida.

Não é só isso: um dos substitutos de “Dezinho” na direção do Sindicado dos Trabalhadores Rurais de Rondon, Ribamar Francisco dos Santos, foi assassinado na porta de sua casa, em 6 de fevereiro de 2004. O crime também nunca foi esclarecido.

Além disso, Maria Joel Dias da Costa, viúva do sindicalista, vive escoltada até hoje por dois policiais militares em razão das ameaças que vem sofrendo ao longo dos anos. Outras testemunhas, devido ao medo de serem assassinadas, se mudaram de Rondon temendo por suas vidas. 

(Chagas Filho)

https://correiodecarajas.com.br/acusado-de-intermediar-morte-de-dezinho-e-preso-em-bh-20-anos-apos-o-crime/

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Reportagem de 2007/Repórter Brasil
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Presos pistoleiros contratados para matar sindicalista em Rondon do Pará

Por Verena Glass, da Agência Carta Maior | 26/04/07

Presos em flagrante, pistoleiros afirmam ter sido contratados pelo fazendeiro Décio Nunes para matar a sindicalista Maria Joel Dias da Costa, em Rondon do Pará. Maria é viúva do sindicalista José Dutra da Costa, o Dezinho, morto em 2000. Nunes é o principal suspeito de ser o mandante deste crime.

Dois homens presos em flagrante pela Polícia Civil em Rondon do Pará nesta quarta (25), afirmaram que foram contratados pelo fazendeiro Décio Nunes, o Delsão, para matar a presidente do sindicato dos trabalhadores rurais do município, Maria Joel Dias da Costa. O flagrante foi armado no sindicato pela polícia e pela própria vítima, que tinha sido procurada no dia anterior por um homem que afirmou ter sido contratado para matá-la, mas que, por R$ 300, deixaria a cidade e revelaria o nome do mandante.

Depois da ameaça, Maria Joel – ou Joelma, como é conhecida – procurou a polícia, que lhe cedeu o dinheiro e a orientou a fazer o pagamento em troca do nome do mandante. Acompanhado de outro homem, que se identificou como Antônio de Jesus, o primeiro pistoleiro, que diz se chamar Luiz Gonçalves, afirmou que a encomenda da morte da sindicalista teria sido feita pelo fazendeiro Delsão, e que os R$ 300 possibilitariam a sua saída da cidade, já que, se não matasse Joelma, a vítima do fazendeiro seria ele. Assim que o dinheiro foi recebido pelos pistoleiros, a polícia efetuou a prisão em flagrante.

A reportagem ligou para a delegacia de Rondon do Pará para confirmar a acusação de mandante contra Nunes, mas foi informada de que o delegado não estava para comentar o caso. Segundo o policial de plantão, porém, não heveria dúvida sobre o envolvimento do fazendeiro na ameaça contra a sindicalista.

Histórico de ameaças

Joelma assumiu o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Rondon do Pará dois anos após o assassinato de seu marido, José Dutra da Costa, o Dezinho, morto em 21 de novembro de 2000. Desde então, as ameaças contra ela passaram a ser uma constante, mas a próxima vitima foi Ribamar Francisco dos Santos, tesoureiro do sindicato e seu braço direito. Ribamar foi morto na porta de casa em fevereiro de 2004.

Desde aquele ano, quando as ameaças começaram a piorar, Joelma passou a contar com proteção de dois policiais. “Não é fácil conviver com tudo isso”, diz. “Gostaria de ser livre. Mas a gente fica preocupada com o dia de amanhã, a gente se pergunta: será que vou terminar o dia viva?”.

Região de extração de madeira, Rondon do Pará tem um histórico de violência contra os movimentos sociais, que acusam os grandes fazendeiros locais de terem criado um “sindicato do crime”. Um dos maiores proprietários de terra do município, o fazendeiro Décio Nunes, acusado de ser o mandante da morte de Dezinho – e agora de encomendar o assassinato de Joelma -, tem sido um alvo constante do STR. Nunes é acusado de desmatamento ilegal, grilagem de terra e violação dos direitos trabalhistas de funcionários de suas madeireiras, serrarias e carvoarias, explica a sindicalista.

Joelma, que no ano passado recebeu o prêmio Dorothy Stang de Direitos Humanos das mãos do presidente Lula, deve se encontrar nesta sexta (27) com a secretária de Segurança do Estado, em Belém, e possivelmente com a governadora Ana Julia. Além de discutir questões de segurança, a sindicalista também deve cobrar do Estado a implementação de políticas de reforma agrária e combate à grilagem para minimizar as tensões sociais na região.


https://reporterbrasil.org.br/2007/04/presos-pistoleiros-contratados-para-matar-sindicalista-em-rondon-do-para/

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