13/9/2012
16:11, Por Paulo Roberto de
Souza - do Rio de Janeiro, São Paulo e
Brasília
A mídia conservadora, também conhecida como
o Partido da Imprensa Golpista,
recebe a parte
do leão de todas as verbas públicas federais
Dados divulgados
pela Presidência da República, nesta quinta-feira, mostram que apenas 10
empresas de comunicação concentram mais de 70% da verba federal para
publicidade, em especial a TV Globo, à qual cabe a
parte do leão no butim midiático do Planalto. O argumento da ministra Helena
Chagas, da Secretaria de Comunicação, não variou desde o início do governo de
Dilma Rousseff. Na opinião dela, “é inevitável que o maior volume de pagamentos
seja dirigido a meios e veículos de maior audiência, que atingem um maior
público, como é o caso da televisão”. Mas há quem discorde.
O desequilíbrio na
distribuição das verbas públicas, no entanto, ocorre no momento em que os dados
mostram a discrepância entre o que é pago aos mais de 3 mil veículos
cadastrados no Núcleo de Mídia da Secom. Do total de R$ 161 milhões pagos aos meios de comunicação,
durante o governo Dilma, com base nos cálculos da audiência a que se refere a
ministra Chagas, R$ 112,7 milhões couberam a apenas 10 empresas, enquanto as
demais 2.990 dividiram os R$ 48,3 milhões restantes. O Correio do Brasil, embora apresente níveis de
audiência e de leitura superiores à maioria dos veículos de comunicação,
inclusive no “Grupo dos 10″, segundo auditorias internacionais, foi marcado por
sua independência editorial e não integra sequer a lista dos 3 mil veículos de
comunicação beneficiados com os recursos públicos.
Levantamento
publicado nesta quinta-feira, no diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, um dos 10 maiores receptáculos das
verbas do governo, mostra que, desde o início da gestão Dilma Rousseff, um
volume ainda não revelado; além dos R$ 161 milhões repassados para emissoras de
TV, jornais, revistas, rádios, sites e blogs, saiu dos cofres das empresas
estatais controladas pela União.
A Globo Comunicação e Participações S.A., responsável pela TV Globo e sites ligados à emissora, abocanhou
quase um terço da verba aplicada pela Presidência da Repúlica entre janeiro de
2011 e julho deste ano: R$ 52 milhões. A segunda colocada é a Record, com R$ 24 milhões. A Empresa Folha da Manhã S.A., que edita a Folha, recebeu R$ 661 mil. A Infoglobo, que edita o
jornal O Globo, R$ 927 mil. Outro
diário conservador paulistano, O Estado de S. Paulo, arrecadou R$
994 mil. O portal UOL, controlado pelo Grupo Folha, recebeu outros R$ 893 mil.
Vetado
Enquanto permanece
o jogo agradável entre o governo federal e as 10 maiores empresas de
comunicação do país, que concentram o poder de fogo da mídia conservadora, para os veículos independentes de comunicação o tratamento
é o oposto. Para anunciar em jornais, impressos e digitais, a exemplo do Correio do Brasil, o Núcleo de Mídia da Presidência da
República exigiu um desconto de 92% na tabela de preços, algo inimaginável no
grupo dos 10 beneficiários da mídia estatal. Para se manter, ainda que nas
fraldas dos recursos, a maioria dos demais veículos de comunicação, em níveis
nacional, regional ou mesmo local, submeteu-se ao critério coordenado pela diretora
do Núcleo de Mídia, Dalva Barbosa.
Procurada pelo CdB, Barbosa não atendeu às ligações, mas um de seus assessores revelou que
“a política de descontos da Secom é confidencial”. Alertada pela reportagem de
que, segundo a legislação em vigor, não há confidencialidade em negócios
públicos, a ligação foi direcionada para a Secretaria de Imprensa da
Presidência da República, que não conseguiu as informações requisitadas pelo
jornal, até o fechamento desta matéria. Embora a maioria dos veículos de
comunicação tenha aceitado as pesadas negociações do Núcleo de Mídia, com a
desvalorização de suas tabelas em mais de 90%, este não foi o caso do Correio do Brasil.
– Rejeitamos, de
pronto, esse tipo de exigência por considerá-la abusiva, desproporcional e uma
completa falta de respeito aos nossos critérios comerciais. Caso concedêssemos
um volume tão grande de descontos ao governo, seria óbvio que a tabela de
preços praticada pelo Correio do Brasil não passaria de uma
fraude. O CdB circula há mais de
uma década diariamente, de forma ininterrupta, e não pode admitir sequer uma
ilação neste sentido. Se ao Núcleo de Mídia, baseado em um critério sigiloso,
coube graduar o custo do espaço publicitário no jornal, é de competência do CdB
discordar, às claras, de tal avaliação e não vender os anúncios a um preço
aviltado – afirmou a diretora Comercial do CdB, Suzana David.
Desde fevereiro
deste ano, ao final do prazo estipulado para aceitar, ou recusar-se às
exigências ditadas pelo Núcleo de Mídia, diante da resistência do CdB em não se submeter à exigência da Secom, o jornal
foi marcado com um “Não” no banco de dados. Ao ser assinalado com a negativa,
segundo correspondência oficial, passou a vigorar o veto, a total
“impossibilidade do recebimento de mídias do Governo Federal”. OCorreio do Brasil, que mantém um extenso elenco de colaboradores,
repórteres e correspondentes nas principais capitais brasileiras, na Europa,
EUA e Japão, por assegurar sua política de independência, patrocinada pela
venda de assinaturas diretamente aos leitores, mantêm-se firme na decisão de
apontar as falhas na política de comunicação da Presidência da República.
Marco zero
Mas o que ocorreu
com o CdB não foi um fato
isolado. Em sua página na internet, o jornalista Paulo Henrique Amorim também
constatou que “sem incluir os investimentos das estatais, como a Caixa, o BB,
os Correios e a Petrobrás, por exemplo – chegará à conclusão de que o Governo
Federal põe R$ 55 milhões na Globo, por ano. Dá para
sustentar 420 mil pessoas no Bolsa Família, num mês. O benefício médio mensal é
de R$ 134, incluído o Brasil Carinhoso. Vezes 4 pessoas por família, 1 milhão e
700 mil pessoas”.
“Quando o ansioso
blogueiro fala em Globo, fala na Rede Globo de TV,Globo Participações, Globosat Programadora, Radio Globo São Paulo,Infoglobo (jornal O Globo), jornal Valor (de que a Globo é sócia), Globo Comunicação (internet), e Editora Globo (revista Época). Tudo somado, o
Governo trabalhista da Presidenta Dilma ‘aplica’ no centro do Partido da
Imprensa Golpista (PIG), ou seja, no marco zero do Golpe, R$ 55 milhões por
ano. O Bolsa Família, com o Brasil Carinhoso e o Brasil sem
Miséria – tudo somado dá R$ 20 bilhões por ano, ou seja, 0,4% do PIB”,
acrescentou.
“A TV lidera o
recebimento (sic) de publicidade federal, diz a Folha, com uma verba
anual de R$ 115 milhões. A Globo toda somada fica
com a metade de toda a verba de publicidade em tevê. E a Globo é 2/3 de toda a publicidade gasta em outras mídia –
rádios, jornais, internet e revistas. Para que? Com que retorno? Quem diz que a Globo entrega a audiência por que cobra na tabela de
publicidade? A Globo cobra R$ 100 para
entregar 50% de audiência. Quem diz que ela entrega 50% da audiência – e por
isso merece os R$ 100? Quem diz que a Globo entrega a audiência
por que cobra é o Globope” desvenda o
jornalista, que coloca em cheque aqueles critérios de audiência aventados pela
ministra Helena Chagas, junto com as normativas sigilosas adotadas para a
exigência de descontos no Núcleo de Mídia.
Em outra página da
internet, ainda nesta quinta-feira, o jornalista, escritor e editor do blog O Cafezinho, Miguel do Rosário, em artigo intitulado Secom abre caixa preta da publicidade, segue adiante nas
informações quanto à aplicação da verba pública na mídia conservadora nacional.
“Eu venho fuçando o
site da Secom há um tempo e não havia encontrado os valores por veículos. Fiz
até um pedido, usando a lei da informação, o qual foi
devidamente respondido, com dados e indicações, mas informando que ainda
não abriam o gasto por veículo. Como o governo só faz publicidade através das
agências licitadas, só aparecia o volume de recursos destinado às estas, e
não por veículo. Agora o governo resolveu divulgar o quanto cada veículo de
mídia ganha. Eu voltei lá, pesquisei, compilei, sintetizei e preparei uma
tabela, com os gastos do governo com publicidade institucional desde o início
da atual gestão até o primeiro semestre de 2012″, afirma o jornalista.
“Caras de pau”
Rosário não se
surpreendeu, após consultar às informações liberadas pela Secom, “que os
grandes grupos de mídia ganham enormes volumes de dinheiro”.
“Pena que a Secom
só informa a partir de 2011. Analisando as informações, constata-se que, de
fato, o governo ampliou barbaramente o número de veículos que recebem
publicidade institucional: eram meia dúzia, agora são mais de oito mil”.
“Mesmo assim, eles
(os grandes) não tem do que reclamar, sobretudo as organizações Globo. Esta
semana, o blogueiro e colunista Noblat fez seu enésimo ataque à blogosfera, insinuando que blogs recebem dinheiro
para defender o governo. O Merval (Pereira, colunista de O Globo) volta e meia fala a mesma coisa: já chegou a
mencionar teorias conspiratórias sobre “rede de blogs” montada pelo PT
ou governo para atacar a mídia”.
O editor de O Cafezinho concorda, então, que estes
representantes da mídia conservadora “são uns delirantes e uns caras de pau”.
“Recebem milhões do
governo e vem atacar blogueiros que não ganham um
tostão, ou se ganham, como é o caso de dois ou três mais famosos, são valores
pequeninos, modestos, irrisórios se comparados aos valores destinados aos
veículos tradicionais. Na minha opinião, o governo tinha obrigação democrática
de investir mais na blogosfera, fazendo
publicidade institucional em centenas de blogs, que é pra fazer
os mervais surtarem de vez”.
“Um dia desses eu
gostaria de saber quanto dinheiro, exatamente, a Globoganhou de governos
desde que a empresa foi fundada, aí incluindo todos os financiamentos
de bancos públicos. Em valores atualizados. Seria uma informação bem
interessante. É muito fácil posar de independente depois de ganhar uns R$ 10
bilhões do Estado. Enquanto a Globo recebeu, por
exemplo, R$ 68 milhões do governo Dilma, de 2011 até junho deste ano, via
publicidade institucional, o blog do Nassif recebeu
R$ 22 mil. A Agência Carta Maior, que emprega uma
equipe numerosa de colunistas e alguns repórteres, recebeu R$ 39 mil. O grupo
Abril recebeu R$ 2 milhões”.
Outra constatação
relevante de Miguel do Rosário é a de que “os barões da mídia recebem ainda
muita publicidade institucional de governos estaduais e prefeituras, não
contabilizada pela Secom. Esperemos que todas as esferas de poder respeitem a
lei da informação e publiquem o quanto gastam e onde gastam a verba de
publicidade institucional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário