Dando nome aos bois
Dando nome aos bois
Natalia Leal, diretora da Agência Lupa, lembra que é necessário taxar essas manifestações de antidemocráticas. “Ou até mesmo de golpistas, porque têm o desejo de uma intervenção militar, e não há espaço para isso no Brasil”, diz. Para Neto, não se pode falar em ‘gradações de bolsonarismo’. “O bolsonarismo tem por definição uma via extremista. A trajetória de Jair Bolsonaro é antidemocrática e imersa em tradições da extrema direita brasileira”, explica.
Uso do silêncio estratégico
Mais do que procurar uma equivalência de dois lados, é preciso fornecer ao público o contexto necessário sobre mentiras e desinformação que alimentam as ações dos extremistas. “Uma das premissas do jornalismo é a gente espelhar a realidade. Se a realidade não é equilibrada, a gente não pode falar de ‘dois lados'", diz Leal. "É preciso olhar para os fatos e a partir dele reportar o que realmente está acontecendo. De uma maneira objetiva e plural, o que não significa de forma isenta”.
Para a diretora do ICFJ, Cristina Tardáguila, é absolutamente necessário que em muitos casos o jornalista analise o que vai escrever ou dizer e use do "silêncio estratégico", que é basicamente, neste caso, não dar palco a anti-democracia. Em seus tuítes, Tardáguila sempre busca orientar sobre a importância desta estratégia. Recentemente ela tuitou: "Uma reflexão: você não quer dar fama a golpista/terrorista, certo? Então, quando eles forem presos, lembrem-se de que esse povo quer existir, se popularizar (mais). Cada post ou RT [retweet] seu oxigena os malucos."
Menos declarações, menos desinformação
Um consenso é o exagero do jornalismo declaratório e como ele pode causar também desinformação. “Por exemplo, quando Bolsonaro afirmou que nazismo era um movimento de esquerda. Isso é uma mentira histórica e você tem que tratar como tal, se for noticiar: ‘Bolsonaro mente ao afirmar que nazismo era um movimento de esquerda’”, diz Leitão.
Leal lembra também que o jornalista precisa ter ainda mais cuidado ao confiar em informações oriundas apenas das redes sociais para não “oxigenar a desinformação” nas plataformas. A checagem deve ser sempre a bússola do jornalista.
Quem financia?
Logo depois do ocorrido em 8 de janeiro, a Lupa criou um banco de dados para recolher postagens antidemocráticas. Qualquer pessoa pode preencher o formulário. O objetivo da agência de checagem é, depois de compilar e mapear os dados, usá-los para fins jornalísticos, de pesquisa e de auxílio em investigações. Em menos de 24 horas após os ataques, a Lupa havia recebido mais de 2.500 contribuições. E já publicou várias reportagens a partir das denúncias.
Proteção nas ruas
Em coberturas presenciais, Leitão lembra que uma boa dica é procurar andar em conjunto. “Eu me aproximo sempre dos colegas fotojornalistas, por exemplo. Sempre estou com colegas com experiência em coberturas de risco. Eles já salvaram a minha vida”, diz. Entre os manuais disponíveis para lidar com coberturas jornalísticas de perigo, estão, segundo indicação de Daniel Giovanaz, da Repórter Sem Fronteiras (RSF): o manual de segurança para cobertura de manifestações, da Abraji, e o manual de proteção dos jornalistas, do Centro Knight.
O campo hostil online
A internet e as redes sociais também são um ambiente de disputa no campo democrático e podem ser insalubres para jornalistas. Lima diz que frequentemente é atacada por extremistas. “Evito mostrar nas redes sociais minha localização". O silêncio estratégico também cabe quando o jornalista não retruca os ataques nas suas redes sociais e assim evita a propagação de ódio e de desinformação. Mas há quem prefira o bloqueio dos haters. "Dou blocks [nas redes sociais] e denuncio a conta, quando são mais graves, como ameaças de morte e estupro”, diz Lima. A segurança digital é um tópico essencial para se levar em consideração e há alguns manuais para serem consultados, entre eles, o do Comitê de Proteção dos Jornalistas.
https://latamjournalismreview.org/pt-br/articles/como-cobrir-o-extremismo-no-brasil/
Obs: Pode ser assinado ou anônimo.
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