sábado, 5 de outubro de 2019

A economia afunda, os bancos lucram e sociedade brasileira mergulha na depressão

Urge recuperar a Soberania, repensar a democracia e os regimes político e econômico, e executar um Projeto Nacional de Desenvolvimento

PAULO CANNABRAVA FILHO
Diálogos do Sul / São Paulo (SP) (Brasil) 4 de out de 2019 às 18:38

Segundo a Carta de Conjuntura N. 44, do Ipea, órgão de assessoramento do governo federal, com a política fiscal em curso, somente em meados de 2020 é que se poderá voltar a ter superávit primário. Isso será alcançado com o cumprimento do teto dos gastos públicos e da elevação da dívida pública.
Como os gastos públicos aumentam em proporção inversa à queda constante do PIB e não há atividade econômica para gerar arrecadação, é visível que os gestores colocaram a economia em um beco sem saída. Então, a perspectiva é de que continuem a alimentar a falsa expectativa de recuperação e, para fazer caixa necessária para manter a máquina funcionando e as intocáveis mordomias e supersalários, vendem os ativos nacionais.
Interessante que os autores do artigo advertem que: 
“O governo da Argentina optou por um ajuste fiscal que se mostrou excessivamente gradual, e isso claramente contribuiu para a forte deterioração do cenário econômico do país”.
E se em vez de gradual tivesse feito de supetão, teria sido diferente?
É realmente incrível a falta de percepção dessa gente de que o modelo imposto pelo Consenso de Washington para submeter os países de Nossa América à ditadura do pensamento único gerida pelo capital financeiro só tende a levar para o abismo ou ao caos.
Tudo para eles se resume no desequilíbrio das contas públicas, à questão fiscal, culpada inclusive pela inflação. No entanto, de 2006 a 2013, período de resultado primário com taxas razoáveis, coincide com período de elevação da receita e crescimento do PIB. Ou seja, foi a atividade econômica que gerou a elevação do PIB e maior receita.
Entre 2015 e 2016, o PIB encolheu 3,8% e 3.6%, respectivamente; cresceu 1.0% em 2017 e fechou 2018 com 1,1%, algo como R$ 6,8 trilhões. Numa estimativa otimista, no ritmo dos gestores da economia, conduzidos por Paulo Guedes, chegaremos ao PIB per capita de 2011 somente em 2023. Matematicamente, isso significa que daqui a três anos estaremos com 12 anos de atraso.
Juros e lucros estratosféricos
Nesse mesmo período, os bancos só cresceram e aumentaram os lucros. Nesses últimos anos, aumentaram as tarifas numa média de 14%. Dizem que os ganhos absurdos dos bancos se deve à concentração, ou seja, à falta de concorrência. De fato, concentração há, pois o Itaú/Unibanco e o Bradesco, dois maiores ainda nacionais, Banco do Brasil e Caixa, públicos (ainda), e Santander, espanhol, concentram 80% de todos os depósitos. É bom ter em conta que o BB e a Caixa, apesar de ainda serem públicos, atuam como bancos privados, privilegiando o capital financeiro e o lucro como um banco qualquer.
A taxa referencial de juros (taxa Selic), hoje em 6,5%, é das menores por décadas e o mercado trabalha com estimativas de que pode diminuir ainda mais e chegar a 4,75%. Os bancos oficiais reduziram um pouco o que cobram para o crédito imobiliário, forçando os bancos privados a acompanharem. Porém, no cheque especial e no cartão de crédito, as taxas chegam a pornográficos 300%. O varejo a crédito faz você pagar no mínimo cinco vezes o preço do produto.
O lucro líquido do Itaú, em 2018, atingiu R$ 25 bilhões, 4,2% maior que do ano anterior e o maior já registrado por qualquer empresa brasileira. O Bradesco, fechou 2018 com lucro líquido de R$ 21 bilhões, um aumento de 13,4% em relação com 2017. Já o Santander aumentou 24,6% com relação ao ano anterior fechando 2018 com lucro líquido de R$ 12 bilhões.

Os bancos crescem, o Estado arrocha

A PEC do Teto (emenda constitucional n. 95 de 2016), que limita o gasto público, teve como único efeito positivo a elevação da dívida pública que de 52,62%, em 2014, atingiu 79% do PIB em junho de 2019 e, segundo o FMI, seguindo a ortodoxia da política fiscal, ultrapassará os 100% do PIB a partir de 2022. 
Em qualquer país, a poupança da população é uma das molas mestras para a atividade econômica. As economias da população e as Caixas Econômicas públicas são responsáveis, por exemplo, para dinamizar a indústria imobiliária, aquela que constrói moradias, setor multiplicador por excelência. 
Imaginou o quanto você requer dos vários setores para construir uma casa? Veja se não é da mineração (areia, minérios….) até os produtos mais sofisticados da indústria de transformação, como os equipamentos informatizados. No Brasil até esse setor foi capturado pelas grandes corporações. 
A política de arrocho não se limita aos gastos públicos. Ela atinge toda a sociedade, a começar e pelos trabalhadores que ganham um salário mínimo ou pouco mais, ou até pouco menos. Como poupar se sempre sobra mês no fim do salário? Nessa população de baixa renda, só 30% manifestaram ter disposição para poupar, assim mesmo, muito pouco, só para pode enfrentar uma emergência. Gente pobre, mas consciente e previdente.
Pesquisa publicada pela mídia mostra que inclusive nas classes A e B 54% não têm o hábito de poupar. Mais parece uma questão cultural. O sujeito quer ganhar mais para gastar cada vez mais, pois para ele isso é Poder. Ter o carrão na garagem, mas só sair aos sábados e domingos por não ter dinheiro para a gasolina nem para o estacionamento.
Na realidade, só tem condições de poupar o 1% mais rico que prefere investir no mercado de títulos ou em ações a deixar o dinheiro desvalorizado nas cadernetas de poupança. 
Como não tem poupança interna, apelam para o investimento estrangeiro e vendem os ativos da nação. Para não ter gasto público, o ministro da Economia quer simplesmente acabar com o Estado. Para isso, se vangloria de que já perpetrou 68 maldades; faltam 140.

Depressão

O professor Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, escreve em jornais e revistas, têm insistido na advertência de que há depressão. Segundo a popular Wikipédia, 
“Depressão econômica consiste num longo período caracterizado por numerosas falências de empresas, crescimento anormal do desemprego elevado, escassez de crédito, baixos níveis de produção e investimento…”
De 1990 a 2007 houve crescimento a taxas expressivas equivalentes à taxa mundial de crescimento do PIB. A partir de 2008, com a recessão, despencou entre 14% e 16% e terminou, em 2018, 40 pontos abaixo da média mundial.
Pastore aponta como responsável a política de subsídios, o Banco Central e o BNDES financiando empresas pensando em administrar a nação como administra sua empresa. 
Sou obrigado a concordar. As empresas se apropriaram do Estado (administração), mas não do poder real que continuou com o capital financeiro e as transnacionais. Foi uma farra que terminou em tragédia: Impeachment, golpe, e captura do poder por fraude eleitoral.
A falta de propostas e a incapacidade de articular o centro e a direita fez do centro e da direita cúmplices da entrega da soberania do país e subsequente submissão aos Estados Unidos. 
Vale perguntar: Há alguma chance de que a direita e o centro se tornem nacionalistas? O que é a direita? Existe um centro? Qual a proposta? Há projeto nacional? Qual o projeto necessário para o país? 
Vale lembrar pesquisa publicada na mídia constatando que 72% das pessoas acham que “os políticos e os partidos não se importam com as pessoas como eu”. 
Interessante que esse percentual está em linha ascendente vertiginosa nos últimos dois anos ou três anos. Talvez aí esteja a salvação: a explosão das pessoas que não importam.
A pergunta que se coloca é: como vencer a ditadura do capital financeiro e do pensamento único?
Allen Habert, coordenador do fórum São Paulo Sua, convocado para discutir a cidade como conceito e gestão, me mandou as seguintes perguntas:
Como você faria/proporia a revolução do conhecimento (incluindo a cultura) para combater as desigualdades na cidade de São Paulo. Coisas exequíveis e de resultados. Quais três pontos você destacaria?
Eis minha resposta:
1) desenvolver o olhar crítico e criativo desde a escola maternal até os pós de pós. Escolas de tempo integral sonhadas pelos mestres Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Paulo Freire
2) a escola crítica, criativa e participativa, onde a troca e construção de conhecimento seja a regra, não o magíster dixit.
3) a universidade crítica e criativa para pensar o país. A Universidade Necessária que Darcy imaginou ao criar com Anísio a UNB.
É isso. Para vencer a ditadura do pensamento único imposta pelo capital financeiro é preciso uma verdadeira Revolução Cultural, que culmine na formação de uma Ampla Frente de Libertação Nacional. Recuperar a Soberania, repensar a democracia e os regimes político e econômico, e executar um Projeto Nacional de Desenvolvimento.

*Paulo Cannabrava Filho é editor chefe da Diálogos do Sul
https://dialogosdosul.operamundi.uol.com.br/analise/60854/a-economia-afunda-os-bancos-lucram-e-sociedade-brasileira-mergulha-na-depressao?utm_source=Diálogos+do+Sul+Notícias&utm_campaign=534febbd43-EMAIL_CAMPAIGN&utm_medium=email&utm_term=0_0652f353b4-534febbd43-175029681&ct=t(EMAIL_CAMPAIGN)






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