sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

EXCLUSIVO – Hydro é acusada de invadir área de famílias tradicionais de Barcarena. Veja os vídeos

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ver-o-fato.com.br/por Paulo Jordão
  

    As imagens mostram um veículo de terceirizada da Hydro com fucnionários, além de policial militar   dando suporte à ação da empresa. Os comunitários dizem as terras pertencem às famílias tradicionais do Rio Tauá

A empresa multinacional Norsk Hydro está sendo acusada de invadir o território de famílias tradicionais de uma comunidade de Barcarena, para fazer mapeamento geográfico, com o objetivo de preparar projeto para expandir a sua área de atuação na região.

A denúncia foi feita por membros da Associação dos Agricultores de Famílias Tradicionais do Rio Tauá, que filmaram e enviaram ao Ver-o-Fato o momento em que funcionários da empresa GeoMapp, terceirada da multinacional, faziam imagens e mapeamento da área, utilizando drone, com apoio de uma viatura da Polícia Militar do Pará. Ou seja, recursos públicos da área de segurança em favor de empresa privada.

“A Hydro mandou a empresa GeoMapp fazer o monitoramento da nossa terra e enviou homens em uma viatura da Polícia Militar para nos intimidar”, afirmou o líder da comunidade, Carlos Augusto Espíndola. Segundo ele, o projeto de ampliação do Distrito Industrial de Barcarena está sendo realizado pela Companhia de Desenvolvimento Econômico do Pará (Codec).

No vídeo, o líder comunitário conversa com um cabo da PM, a quem mostra processos judiciais sobre a posse das terras. Em seguida, o vídeo mostra o carro da empresa e a viatura da PM se retirando do local. “Mandaram trabalhadores terceirizados para a área, mas como viram que não tem ordem judicial, foram embora sem terminar o trabalho”, disse o líder.

De acordo com informações dos comunitários, toda a área do Distrito Murucupi, em Barcarena, vai ser ocupada pela Codec para o desenvolvimento industrial da região, incluindo as terras do Tauá, Conde e Itupanema, as mais próximas do Porto de Vila do Conde e do complexo industrial de Barcarena.

“Está tudo sob ameaça e já começou ontem no Tauá esse tipo de monitoramento e a Hydro está mandando a polícia para constranger as pessoas”, denuncia o líder.

De acordo com os moradores, a associação dos agricultores fica no Ramal M5, no Km 11, da PA-483, sentido Alça Viária e é formada por famílias tradicionais, que foram retiradas de suas terras há mais de 38 anos, com promessa de indenização pela antiga CDI (Companhia de Desenvolvimento Industrial), do governo do Estado, que nunca foram pagas.

A Hydro faz mapeamento das terras, sob proteção da Polícia Militar

Ainda segundo o líder comunitário, a Codec está fazendo, junto com a Hydro um levantamento de todas as áreas do Distrito Industrial de Barcarena para lotear para empresas que ali querem se instalar, mas a Hydro quer uma parte das terras dos agricultores do Tauá – inclusive já invadiu uma área ambiental onde está instalada a bacia de rejeitos de bauxita DRS2 e de onde tiraram as moradias – para implantar uma nova bacia de rejeitos de minérios.

“O nosso chão é cheio de nascentes e todas as nascentes são protegidas por lei e eles querem matar as nascentes igual como fizeram com a bacia DRS2, em que mataram cinco nascentes de igarapés. Também fizeram na DRS1, que foi implantada na cabeceira do Rio Murucupi”, afirmou Carlos Espíndola.

“Eles querem tirar o povo na marra. Nós estamos com um processo há muitos anos com o governo do estado sobre essas indenizações e há quatro anos a Hydro entrou com um processo alegando que a terra é dela, mas nós temos documentos provando que estamos fora da área da empresa”, garante o líder.

Conforme Carlos Espíndola, o documento deles é antigo, de Prelazia, pois o Tauá já existe há mais de 100 anos. “Nós fomos retirados pela antiga Vale do Rio Doce, mas como não fomos indenizados, retomamos há cerca de quatro anos para o que restou do nosso território, onde nossos pais, avós, tios nasceram. Além do mais a Hydro está proibida pela justiça de fazer qualquer levantamento da área. Mesmo assim está mandando empresa com a Polícia Militar, o que é ilegal e inconstitucional porque a polícia não pode fazer esse tipo de trabalho de segurança patrimonial, pois deveria estar trabalhando para proteger a sociedade”, completou.

Na área, como mostram os vídeos, está sendo construída uma escola para as crianças que estão sem estudar. Tudo é feito com madeira da própria região e a construção é feita pelos próprios comunitários.

Sem ordem judicial, o veículo da empresa retira-se da área após o protesto de comunitários

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Com a palavra, a Hydro

Ver-o-Fato procurou a Norsk Hydro para que ela se manifeste sobre as denúncias dos comunitários do Tauá. A multinacional enviou à nossa redação a seguinte nota:

“A Hydro informa que a área em questão é de propriedade, em condomínio, das empresas Alunorte e Albras e que as proprietárias realizam frequentemente o mapeamento e monitoramento de todas as suas propriedades.

Na ocasião mencionada, o monitoramento foi acompanhado por agentes da segurança pública que patrulham a região, em função do conhecimento da ocorrência de crimes no local, tendo eles a responsabilidade por zelar pela segurança pública”.

No local está sendo construída uma escola para as famílias pobres do Rio Tauá

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