terça-feira, 5 de abril de 2022

Acampamento Terra Livre defende representatividade indígena na política e demarcação de territórios


“Voltamos presencialmente a pintar Brasília de urucum e jenipapo”, diz Sônia Guajajara sobre o Acampamento Terra Livre

Por: Anna Francischini | Edição: Aldrey Riechel | Fonte: Amazônia.org.br |

Retomar o Brasil, demarcar territórios indígenas e aldear a política. Estes são os objetivos da 18ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL).  Programado para iniciar às 19 horas, o acampamento já contava com grande movimentação durante todo o dia no espaço da Fundação Nacional das Artes (FUNARTE) em Brasília. O evento  vai até o dia 14 de abril, marcando o mês indígena. 

Em coletiva de imprensa realizada esta manhã, Sônia Guajajara, uma das principais lideranças indígenas do Brasil, falou sobre as expectativas da 18º edição do ATL; segundo ela, a estimativa é de que  7 a 8 mil indígenas estejam no acampamento após dois anos online: “voltamos presencialmente a pintar Brasília de urucum e jenipapo”. 

Aldear a Política

Nós chegamos dizendo que vamos aldear a política, porque se é no Congresso Nacional e no Executivo que estão decidindo sobre nossas vidas, que estão legislando as leis do país, é ali que nós temos que estar; 2022 é o ano histórico onde a APIB está lançando uma bancada indígena para entrar na disputa eleitoral.”, expõe Guajajara.

Acampamento Terra Livre 2022. Brasília. Foto: Anna Francischini
 

Em seu discurso, Sônia, que também é pré-candidata a deputada federal pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), discorreu sobre um dos objetivos do ATL 2022 e a importância da representatividade indígena na política brasileira. Para ela, essa “aldeação” é garantir uma representatividade nesses espaços de política institucional: “queremos fazer coro a voz da deputada Joenia Wapichana, que está lá como única indígena eleita deputada federal, precisamos aumentar e fazer ecoar essa voz.“. concluiu.

Demarcação de Territórios

Uma das principais pautas defendidas pelo ATL é a demarcação de Terras Indígenas (TIs) no país. Na coletiva, Sônia explica que: “13% do território nacional é terra indígena, mas temos um passivo muito grande de território a ser reconhecido e a ser demarcado, sobretudo nas regiões nordeste, sul, sudeste e centro oeste. A líder indígena ainda complementa que, “dos 13% dos territórios indígenas demarcados hoje no Brasil, uma média de 98% está na Amazônia Brasileira. Então nós temos apenas 2% distribuídos nas outras regiões. Isso faz com que a demarcação continue como a bandeira prioritária de luta dos povos indígenas”.

Ainda, em seu discurso, ela cita a fala do presidente da república, Jair Bolsonaro, que se posicionou desde o início do mandato contra a demarcação de TIs. Para a líder, “quando se tem um presidente que diz que na sua gestão não haverá um centímetro de terra demarcada para índio, não é porque ele diz isso que precisa ser assim.” e menciona ainda a constituição federal, que garante como dever da união a demarcação de todos os territórios indígenas.

Ao lado de Guajarara, a liderança indígena Kerexu Yxapyry relembrou os momentos de pandemia que os povos indígenas viveram. Durante o período, segundo ela, vários projetos de lei (PLs) se levantaram nesse momento e não pararam. Reforçando a morte dos povos indígenas dentro dos territórios”. De acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), organizadora do acampamento, foram contabilizadas 1.297 vidas perdidas para a COVD-19 e 162 povos indígenas impactados.

Kerexu também fala sobre a aldeação indígena na política nacional, estadual e municipal, já que é ali onde são criados os PLs e as leis contra os povos indígenas, contextualizando que, mesmo durante a pandemia, enquanto eles morriam por falta de políticas públicas, ainda tiveram que resistir contra os projetos de lei que os impactam diretamente. É o caso dos PLs 191/2020, que defende a exploração de TIs para mineração e Hidrelétricas e o 409/2007 que versa sobre o fim e a revisão das demarcações de terras indígenas.

Para Yxapyry, os povos indígenas ainda tem “essa luta que é proteger as nossas florestas, o meio ambiente, as águas, a fauna, as nossas medicinas, porque só assim, protegendo esses espaços e territórios, que a gente vai poder garantir de fato essas políticas públicas que já estão aí criadas e garantidas para a educação indígena, saúde indígena, para que consigamos fortalecer a nossa biodiversidade de povos e de todos os seres.

Finalizando a coletiva de imprensa, o cacique Marquinhos do povo Xucuru, também comenta sobre os projetos de lei que estão tramitando e que representam retrocessos para os povos indígenas. O cacique salienta a necessidade de denúncia: “nós precisamos denunciar isso porque é uma violência institucional que precisa ser estacionada, além de matar fisicamente as nossas lideranças, estão querendo dizimar todos os povos indígenas com apenas uma canetada. Então é preciso que o Brasil e que o mundo tenha consciência dessa violência institucional que esse estado comete a cada dia com os povos indígenas.”.

O Acampamento Terra Livre tem início oficialmente hoje (04) às 19 horas. Confira a agenda oficial da mobilização no site da APIB e acompanhe também os principais destaques do ATL por aqui.

Por: Anna Francischini

Edição: Aldrey Riechel
Fonte: Amazônia.org.br

 

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