Em homenagem ao Dia do Jornalista, comemorado na última quinta-feira (7), a Oboré Projetos Especiais e outras instituições apoiadoras da democracia, da liberdade de expressão e dos direitos humanos promoverão, no próximo sábado (9), uma série de atividades dedicadas a profissionais da imprensa. A celebração está prevista para começar às 11h, na Praça Memorial Vladimir Herzog, no bairro Bela Vista, em São Paulo.
Entre as ações programadas, destaca-se o tributo ao artista gráfico Elifas Andreato, falecido no último dia 29 de março aos 76 anos. Com mais de 40 anos de trabalho contínuo como artista plástico, escritor e compositor, Elifas será homenageado com o concerto musical “Todo mundo tem que falar”, do Grupo Bambas de Sampa.
Conhecido como ilustrador de mais de 300 capas de discos e álbuns, Elifas tornou-se um ícone da geração que protestava, por meio da arte, contra a ditadura militar brasileira nas décadas de 1970 e 1980. Em 2011, o artista chegou a ser homenageado no Prêmio Vladimir Herzog pela atuação e consequente perseguição sofrida durante o governo militar.
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O evento também contará com a entrega do “Troféu Audálio Dantas – Indignação, Coragem, Esperança”. Segundo o jornalista Sérgio Gomes, da Oboré, este será o terceiro ano consecutivo que entidades ligadas à família Kunc Dantas premiarão personalidades que têm se destacado na luta em defesa da justiça, da liberdade e da democracia.
Na edição de 2022, os premiados com o troféu serão o jornalista australiano e fundador do Wikileaks, Julian Assange e o grupo de 300 jornalistas que compõe o Consórcio de Veículos de Imprensa. Em relação a Assange, Sérgio explica que o prêmio será entregue “por tudo o que ele representa”.
“São 10 anos que ele [Julian Assange] está sem poder ver a luz do sol – entre o tempo que ficou preso na embaixada do Equador e esses três anos em prisão de segurança máxima em Londres. É o homem que desvelou todas as mutretas e coisas horrorosas da guerra dos Estados Unidos no Iraque. O Wikileaks foi, na verdade, um revelador de crimes inomináveis”, pontuou o jornalista filiado à Associação Mundial de Rádios Comunitárias (Amarc Brasil).
Já sobre os jornalistas do Consórcio formado pelos jornais e portais O Estado de S. Paulo, G1, O Globo, Extra, Folha de S.Paulo e UOL, o representante da Oboré ressalta o trabalho desenvolvido desde o início da pandemia de Covid-19 no Brasil. Para Gomes, os dados levantados e organizados pelos profissionais da imprensa “compensaram a mudez do Ministério da Saúde”.
“Os veículos normalmente têm sido reconhecidos, mas os jornalistas que fazem a cobertura, que fazem o trabalho, estes são raramente lembrados. Portanto, esse troféu vai para os jornalistas do consórcio”, esclareceu.
Segundo a Oboré, representantes de ambos os agraciados receberão em mãos o troféu, que traz a figura de São Jorge montado em seu dragão empunhando uma câmera e um microfone.
“Em nome da Verdade”
A programação contará, ainda, com a cerimônia de encerramento de 11 placas com os nomes dos 1006 jornalistas que, em 1976, assinaram o manifesto “Em nome da Verdade”. O documento questionava as circunstâncias da morte de Vladimir Herzog, jornalista torturado e assassinado, em outubro de 1975, por agentes do regime militar nas instalações do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) em São Paulo.
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Segundo Sérgio, o manifesto contestava ponto a ponto o relatório final do Inquérito Policial Militar (IPM) instaurado pelo Exército e que tinha por título: “Apurar as circunstâncias do suicídio de Vladimir Herzog”.
“Era um caso estranhíssimo de um IPM que já no título dava a conclusão pretendida. Os jornalistas e advogados examinaram esse relatório final eivado de uma série de contradições e, justamente, colocaram isso no papel. Sem usar nenhum tipo de adjetivo ou bravata, eles colocavam em questão que aquele era um relatório de um inquérito falso, fraudado”, recordou.
O jornalista acrescenta que os 1006 profissionais que “tiveram a coragem cívica” de assinar o manifesto em pleno governo militar eram, até hoje, pouco ou nada conhecidos, sendo mencionados apenas na dedicatória do livro “Dossiê Herzog”, de Fernando Pacheco Jordão.
“Eram nomes que precisavam vir a público e serem considerados por sua honra pela opinião pública. Hoje estão no livro e logo estarão em praça pública no que chamamos de ‘Muro das Evocações’”, disse Gomes em referência ao espaço da praça Vladimir Herzog onde também estão expostas diversas obras de artes associadas aos princípios e propósitos da geração de “Vlado”.
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Neste sentido, o fundador da Oboré comenta que, além do legado de Vladimir Herzog, a praça atrás da Câmara Municial de São Paulo também tem servido de memorial de toda uma geração que, a partir de valores como liberdade, justiça, solidariedade e companheirismo, lutou por medidas concretas relacionadas à anistia, à constituinte, aos direitos das mulheres, ao antirracismo e, de forma geral, pela verdade e pela democracia.
Segundo Sérgio, a Praça Memorial Vladimir Herzog é, hoje, “uma pequena praça muito simpática que, com o trabalho dos jornalistas, dos estudantes de jornalismo e dos artistas, está se transformando talvez na mais bela praça de São Paulo”.
Edição: Jaqueline Deister
Repórter da Agência Pulsar Brasil.
https://agenciapulsarbrasil.org/associada-da-amarc-promove-homenagens-pelo-dia-do-jornalista-em-sao-paulo/
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