domingo, 5 de dezembro de 2021

STTR de Santarém: 48 anos de luta pela garantia dos direitos dos lavradores


O Sindicato é um dos maiores de toda a América, sua história é marcada por lutas e conquistas para os trabalhadores e trabalhadoras rurais.

Por: Tapajós de Fato | 04/12/2021 17h51

 STTR de Santarém: 48 anos de luta pela garantia dos direitos dos lavradores

 

O início dos sindicatos no mundo

A história dos sindicatos começou na Europa, com trabalhadores que não eram lavradores, eram pessoas que trabalhavam em fábricas: homens, mulheres e até mesmo crianças que enfrentavam jornadas de trabalho de até 16 horas por dia, passavam fome e ganhando um valor muito abaixo do merecido. 
 

Insatisfeitos com a situação que enfrentavam, os trabalhadores começaram a formar grupos e pedir mais valorização pelo trabalho, pois acreditaram que reclamar sozinhos não ia dar certo. Como os patrões só estavam interessados no lucro que tinha a partir da força de trabalhadores do funcionários, se recusaram a dar qualquer melhoria para os trabalhadores. Mesmo com as reivindicações a situação só piorava cada vez, os trabalhadores se combinavam para que ninguém trabalhasse, para que desta forma os patrões atendessem os pedidos dos trabalhadores. Essa sociedade de trabalhadores ganhou o nome de SINDICATO.


Os sindicatos no Brasil

No Brasil, os primeiros sindicatos foram formados por trabalhadores que queriam melhores condições de trabalho. Mas os trabalhadores rurais também enfrentavam condições de trabalho, trabalhavam com enxada sem nenhum direito, e muitas vezes, sem ter nenhum pedaço de terra para fazerem suas próprias plantações e não tinham nenhuma lei que os amparasse. 


Em 1903 o governo brasileiro fez uma lei criando o sindicato para os trabalhadores do interior, mas os lavradores não se sentiam pertencentes, pois não participaram da construção. Em 1907 foram criados outros sindicatos pelo Brasil e só em 1913 foi liberado para funcionar qualquer sindicato no Brasil. No entanto, somente a partir da criação da Lei 4.214 de 2 de março de 1963 foi que o governo reconheceu os primeiros sindicatos de trabalhadores rurais. 
 

O Sindicato de Trabalhadores Rurais de Santarém

Em 1973 foi criado em Santarém o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR). Seu primeiro presidente foi Geraldo Henrique de Araújo, que permaneceu na presidência até 1977. A primeira sede do sindicato foi em Mojuí dos Campos, pois o presidente morava lá. Todo segundo domingo de cada mês era realizada uma assembleia, mas geralmente os assuntos não representavam as necessidades dos trabalhadores rurais. Às vezes eram até insultados quando tentavam falar alguma coisa dentro da reunião que tocasse na pele da diretoria. 


Era um sindicato que tinha todas as decisões tomadas de cima para baixo, as opiniões dos trabalhadores rurais não eram consideradas, os trabalhadores não entendiam o que era o sindicato e pagavam as mensalidades sem saber para que estavam pagando. Era um sindicato assistencialista, que servia apenas para o governo pagar o Funrural, uma espécie de FGTS para os trabalhadores na época . Era também uma organização sem bandeira de luta.
 

Diante das diversas insatisfações com o sindicato, os trabalhadores rurais, liderados por Geraldo Pastana, iniciaram um processo de fortalecimento de base conversando com trabalhadores de todas a s regiões de Santarém e em maio de 1977 lançaram a primeira chapa para concorrer à diretoria, mas esta não ganhou. 


Após a eleição, o grupo que concorreu à eleição e seus apoiadores fizeram aos delegados sindicais e todos os lavradores para conversar, discutir, analisar e unir forças para se prepararem para a próxima eleição do sindicato que ocorreria em 1980. 


O movimento foi ganhando força, no dia primeiro de maio de 1979 foi lançado o informativo Lamparina durante um encontro de delegados sindicais. No dia 29 de junho do mesmo ano fundou-se a Corrente Sindical Lavradores Unidos em um encontro na comunidade do Prata e em novembro do mesmo ano Geraldo Pastana foi lançado como cabeça de chapa para concorrer às eleições sindicais. 


Nos dias 4 e 25 de maio de 1980 ocorreu o processo de escolha da diretoria do Sindicato, foram duas chapas, uma encabeçada por Geraldo Pastana e outra por Alan Cardek Torres. Pastana recebeu 2517 votos e Cardek recebeu 272 votos. Foi um momento de muita festa e de renovação de esperança, a partir deste momento os trabalhadores se sentiram representados de fato, e viram que todo o processo de fortalecimento de base iniciado há anos atrás havia dado certo. 


O ponto mais marcante da retomada o sindicato, descrito no livro “Organização Consciência e Luta”, escrito por Geraldo Pastana, foi a posse da nova diretoria em que no final da solenidade, todos os trabalhadores, de mãos dadas cantaram o hino da corrente sindical, em que suas primeiras linhas dizem o seguinte: “no campo viver sem terra é padecer, ela é sangue que nos dá força para vencer. Suor da terra, viva aliança na construção da esperança”. Representando a força e a luta dos trabalhadores por mais diretos. 


Desde então muitas conquistas para os trabalhadores foram possíveis através da força do sindicato. No histórico dos 48 anos desta instituição, alguns nomes ganharam destaques, como o de Luzia Fati, a primeira mulher jovem a assumir a presidência de um dos maiores sindicatos da América, que é o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém. 


A presença feminina sempre foi muito forte dentro do sindicato, no início, as mulheres não tinham vez nem voz, mas foram lutando e ocupando os espaços. Além de Luzia Fati, Ivete Bastos também é outra mulher de garra que vem construindo, junto ao sindicato, um grande legado.
 

Ivete Bastos é a atual presidente do sindicato, ela já havia sido presidente por dois mandatos, e dentre suas várias lutas, a criação do Assentamento PAE Lago Grande é uma das mais importantes, pois garantiu direito à terra para mais de 35 mil famílias.


Edilson Figueira, que é vice-presidente do STTR de Santarém, contou para o Tapajós de Fato um pouco de sua história de luta pelos trabalhadores rurais no Sindicato, “em 2000 me tornei Delegado Sindical e fiquei até 2009 ocupando esta função”. Edilson diz que sua atuação dentro do Sindicato se dá porque seu pai fez parte do processo de retomada do sindicato e foi delegado sindical também.


Edilson acompanha as atividades do sindicato dos últimos 20 anos e diz que com a chegada de Bolsonaro, as ameaças e os conflitos agrários se intensificaram, mas que “o sindicato continuará trabalhando junto com os trabalhadores, pois sem a base a diretoria não é nada e sem a diretoria a base não consegue alcançar os objetivos planejados. Vamos continuar fazendo essa resistência aqui na nossa região com todos os trabalhadores rurais”- disse o vice-presidente do sindicato.


São 48 anos de luta por direitos para todos que trabalham no campo. Se milhares de famílias têm hoje uma terra para trabalhar é fruto da luta de muitos trabalhadores que, com tão pouco lutaram por isso. Da mesma forma que as pessoas que moram na cidade, que podem consumir produtos naturais da agricultura familiar, graças a essa luta que começou lá na década de 70 e que resultou no que se ver nas feiras da cidade, trabalhadores e trabalhadoras, que mesmo com todas as dificuldades, expõem suas produções que garantem a alimentação da população Santarém.


O Tapajós de Fato é fruto de uma semente que foi plantada no STTR em 2019, a partir de um encontro promovido pela organização, que reuniu comunicadores e comunicadoras populares de toda a região oeste do Pará, portanto, o TdF celebra este dia com grande euforia, ao lado de todos e todas que constroem essa história.

 

https://www.tapajosdefato.com.br/noticia/547/sttr-de-santarem-48-anos-de-luta-pela-garantia-dos-direitos-dos-lavradores

 

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