domingo, 16 de junho de 2024

Responsabilidade fiscal, sim. Em cima dos mais pobres, não


A obediência a um tal princípio não pode, porém, jamais dar margem a que o governo abra mão de seus compromissos com o combate às desigualdades sociais brasileiras

Brasil 247 | 16 de junho de 2024, 05:17 h






Diante da ladainha fiscalista, o presidente Lula não poderia ser mais claro na entrevista coletiva em que encerrou sua participação na reunião do G7, na Itália. Perguntado sobre se era a favor do corte de despesas, Lula não poderia ser mais claro: "Nós já fizemos o que ninguém esperava que precisava ser feito. Nós já fizemos a regulação do marco fiscal, já aprovamos a reforma tributária. Nós estamos demonstrando a nossa seriedade de garantir estabilidade jurídica, estabilidade política, estabilidade fiscal, estabilidade econômica e estabilidade social. Isso está garantido".

A manifestação presidencial acontece num momento de especial pressão dos agentes do rentismo, na mídia corporativa e no Parlamento, por corte dos investimentos em saúde e educação. De fato, há uma campanha de desestabilização do governo, potencializada pela aproximação das eleições municipais em outubro.

É uma campanha oca. O país, como reafirmou o presidente, testemunha uma situação fiscal de relativo conforto. As receitas crescem. Os gastos evoluem nos limites definidos pela regra do arcabouço fiscal.

O presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, devem sem dúvida estar muito atentos a exercer gestão fiscal responsável. Esse foi um compromisso eleitoral do candidato Lula que deve ser seguido à risca. Não há, a rigor, novidade nessa atitude presidencial. A mesma marca de seriedade esteve presente também nos mandatos anteriores de Lula na Presidência.

A obediência a um tal princípio não pode, porém, jamais dar margem a que o governo abra mão de seus compromissos com o combate às desigualdades sociais brasileiras. Na mesma entrevista deste sábado, ao mencionar um encontro que terá com Haddad para discutir alternativas econômicas, Lula fez questão de anunciar que se antecipava. Disse que não haverá ajuste à custa dos investimentos nas áreas que afetam os mais pobres. O presidente mencionou especificamente os recursos da educação e da saúde.

Lula mostra-se consciente ademais de uma operação conduzida pelo comitê central do rentismo – a Febraban – e sua mídia. A federação dos bancos, pelo presidente Isaac Sidney, manifestou na sexta-feira "apoio institucional" ao ministro Haddad, "enxergando nele toda uma determinação e uma firmeza na busca do equilíbrio fiscal".

Senão pela hipocrisia do apoio emitido por setor interessado nos juros estratosféricos praticados no país, avulta a intenção mal disfarçada de inserir uma cunha entre o ministro da Fazenda e o presidente Lula.

Escolado, o ministro terá percebido e reagido em outro contexto, disparando com alvo evidente, neste sábado: "Por que essa espuma toda para criar cizânia na sociedade? Por que não focamos no que vai mudar pra melhor a vida das pessoas?".

Toda firmeza e serenidade são poucas neste momento, quando versões e até apoios viperinos tentam desnortear um governo até agora vencedor. O primeiro passo de seus adversários é plantar a dúvida e semear a divisão. Diante dessas artimanhas, Lula, Haddad e todo o governo devem exercer toda prudência e descortino.


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