quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Após incêndios criminosos, grileiro é assassinado e cresce tensão em Junco do Maranhão

 

In De Olho nos Conflitos, Especiais, Grilagem, Principal, Últimas

Pecuarista Nestor Osvaldo Finger, o Gaúcho, era investigado por grilagem de terras, foi visto próximo de incêndios de paióis de camponeses e vinha ameaçando de morte líder da comunidade; para promotor, “tudo é muito assustador”

Por Luiza Sansão |

 

 

 

.Os dias têm sido cinzas e tensos para as famílias de lavradores do povoado Vilela, no município de Junco do Maranhão, norte do estado. Tão cinzas quanto os paióis de arroz que encontraram devastados na manhã do dia 23 de agosto, uma segunda-feira, na Gleba Campina. Tão tensos quanto o medo que assola agricultores da região com mais uma morte, dessa vez, do fazendeiro suspeito de grilagem Nestor Osvaldo Finger, o Gaúcho, ocorrida na quarta-feira (22), no município

Casebre foi encontrado destruído pelos moradores do  povoado. (Foto: Arquivo Pessoal)

Nestor Finger havia sido visto, por três testemunhas, no local onde  nove toneladas de arroz que alimentariam pelo menos seis famílias durante um ano foram incendiados em agosto. Tiros também foram dados contra a porta de um  casebre.

Benedita Corrêa Gomes, de 41 anos, presidente da Associação dos Trabalhadores Rurais do Povoado Vilela, lamenta:

— Foi muito triste. Nós já tivemos muitos dias tristes na nossa comunidade, porque foram vidas perdidas, vidas de pai de família, mãe de família. Muitas crianças e adultos vão ficar sem o alimento do dia a dia, por conta de uma tragédia dessa.

O lavrador Zaqueu Alencar Costa, de 51 anos, marido de Benedita, conta que o paiol queimado é das pessoas mais necessitadas do povoado, as mais pobres, aquelas “que vendem o almoço pra comprar a janta”.

SUSPEITO DE GRILAGEM, FAZENDEIRO AMEAÇAVA MATAR AGRICULTORES

“Ele já mandou vários recados pra mim, dizendo que não é pra ter medo dele, não, porque ele não mata, ele só manda matar”, contava Zaqueu ao De Olho nos Ruralistas, dias antes da morte de Finger. As ameaças e o incêndio criminoso são alguns dos fatos relatados nos diversos boletins de ocorrências registrados por camponeses da comunidade desde 2013, na delegacia do município de Junco do Maranhão. Uma das práticas recorrentes do fazendeiro, de acordo com os documentos, era atear fogo nos barracos.

Nestor Finger, investigado por grilagem, foi morto a tiros em Junco do Maranhão. (Foto: Redes Sociais)

 

Enquanto seu nome era registrado por diversos agricultores da região em boletins de ocorrência,  o Ministério Público do Maranhão investigava as suspeitas de grilagem de terras por parte de Finger.

Nascido no Rio Grande do Sul, Nestor Osvaldo Finger comprou uma propriedade ao lado da Gleba Campina em 2009. “No começo ele deu de bonzinho, deu de amigo com o povo, até ver que a terra era devoluta, saber as informações que ele queria”, conta Zaqueu. “Aí, então, foi que ele começou a querer comprar as terras das pessoas, o pessoal não vendia e ele inventou de tomar, de querer a área toda”.

Em 2012, o gaúcho alegou ser proprietário da área que desmembrou em três propriedades, a Fazenda Santa Érica I, II e III, de cerca de 7 mil hectares – área que, por sua vez, era parte de uma fazenda maior denominada Santa Inês, cujo registro remonta a uma carta de sesmaria. Foi nessa mesma época, que o conflito se acirrou de fato, quando Finger proibiu a realização de atividades rurais pelas famílias do povoado Vilela, cercando plantios e ameaçando de morte os moradores por meio de jagunços armados.

Um parecer elaborado pelo Ministério Público em 2019 comprova “fortes indícios de fraudes no destacamento da área do patrimônio público para o privado, conforme demonstram os documentos insertos nos autos, o translado de todo o processo e respectivo encaminhamento para Incra, Iterma e Procuradoria Geral do Estado”.

PROMOTOR VÊ TENSÃO AUMENTAR COM HOMICÍDIO

“É muito trágico tudo isso e coloca mais lenha na fogueira de uma situação que já estava bem esquentada”, afirma o promotor Haroldo Paiva de Brito, da 44ª Promotoria Especializada em Conflitos Agrários da Capital do Estado do Maranhão, que vinha investigando Finger. “Vêm morrendo pessoas a todo momento e de uma hora pra outra um dos principais suspeitos é assassinado. É muito assustador tudo isso”.

Finger foi encontrado com tiros nas costas e no rosto por volta das 15 horas de quarta-feira, 22 de setembro, em um rancho em Junco do Maranhão. Fazia cerca de três meses que ele havia viajado de Santo Ângelo (RS) para o Maranhão, segundo a família. A polícia classifica o crime como execução com possíveis indícios de ligação aos conflitos agrários na região.

“Nós sabíamos que ele andava na região, tinha contato com muitos políticos, outras pessoas”, detalha o promotor. Ele diz que é preciso saber qual disputa de terra teria provocado o assassinato.

EM JULHO, CASAL DIRIGENTE DO SINDICATO DE JUNCO FOI ASSASSINADO

Maria da Luz Benício de Sousa e Reginaldo Alves Barros mortos em julho de 2021. (Foto: Arquivo Pessoal)  

 

Os incêndios, as ameaças e a morte de Finger são mais alguns dos capítulos da violência que, há mais de dez anos, impõe uma rotina de medo às comunidades, em uma região onde pelo menos três camponeses foram assassinadas no contexto de conflitos agrários. O caso mais recente foi em 18 de junho: o duplo homicídio de um casal que lutava pelo direito à terra, Reginaldo Alves Barros e Maria da Luz Benício de Sousa, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTR). Os mandantes do crime, segundo a Polícia Civil do Maranhão, foram presos no dia 26 de agosto, durante operação denominada Terra Vermelha, e as investigações continuam para “prender os executores e outras pessoas que possam estar envolvidas com o crime”. Os nomes dos presos não foram informados pela polícia.

Outro caso que ainda está sendo investigado é o assassinato do camponês Raimundo Nonato Batista Costa, encontrado numa cova rasa na Gleba Campina, com marcas de tiros, depois de quatro dias desaparecido, em 19 de agosto de 2020. De acordo com a Polícia Civil, testemunhas estão sendo ouvidas pela Superintendência Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (SHPP). “Mais detalhes, neste momento, não serão divulgados para não atrapalhar o trabalho investigativo da polícia”, afirma a PC, em nota.

ESTADO DIZ QUE VAI INVESTIGAR INCÊNDIOS E ACOMPANHA O CONFLITO

A Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Participação Popular (Sedihpop) informou que a Polícia Militar esteve no local onde as nove toneladas de arroz foram queimadas criminosamente, mas ainda não foi possível identificar os responsáveis pelo delito e que a Polícia Civil adotará as devidas providências para investigar e identificar os executores e mandantes do crime.

A Sedihpop afirma que continuará acompanhando o andamento das investigações e que, em razão da escalada da violência contra a comunidade Vilela, articulou audiência pública no município no dia 05 de agosto, com a participação da Secretaria de Segurança Pública, incluindo o Comando da Polícia Militar e a delegacia local, promotoria especializada em Conflitos Agrários, Secretaria de Estado de Articulação Política (Secap), prefeitura, vereadores e população local, para tratar das situações de violência e graves ameaças, “tendo as autoridades locais se comprometido com a identificação e responsabilização dos algozes”.

O telhado foi ao chão com o fogo em Vilela. (Foto: Arquivo Pessoal)

 

 A reportagem perguntou à Comissão Estadual de Prevenção à Violência no Campo e na Cidade que medidas foram tomadas para o enfrentamento do conflito na região e por que não têm sido suficientes para evitar que as famílias sigam sendo ameaçadas. Em nota, o órgão respondeu que a comunidade Vilela vem sendo acompanhada pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Participação Popular, a partir da comissão, desde o recebimento da ordem judicial de reintegração de posse contra o povoado, em 21 de setembro de 2016, e que, “para mediação do caso, considerando a situação de ameaça e crimes no âmbito do conflito”, tomou uma série de providências (listadas na nota) com a finalidade de atender às demandas de articulação de políticas públicas necessárias para as ações emergenciais à proteção da vida das pessoas ameaçadas.

Afirma, entretanto, que, “considerando os reiterados crimes, a viabilização de propostas de acordos tornou-se infrutífera no âmbito da Coecv” e “não são ações para resolução do conflito possessório”. “Enquanto o processo judicial não for resolvido com a utilização dos recursos probatórios necessários para a constatação da veracidade da propriedade e da posse em disputa, haverá o agravamento do conflito de terras”, conclui a comissão.

Questionado por e-mail pelo De Olho Nos Ruralistas, o fazendeiro Nestor Finger não havia respondido. Após sua morte, foi tentado contato pela empresa com familiares, sem resposta também.

Luiza Sansão é jornalista especializada em direitos humanos. |

 

https://deolhonosruralistas.com.br/2021/09/29/apos-incendios-criminosos-grileiro-e-assassinado-e-cresce-tensao-em-junco-do-maranhao/


terça-feira, 28 de setembro de 2021

Advogada aponta pacto da Prevent Senior com gabinete paralelo para evitar lockdown Fonte: Agência Senado

 

 CPI DA PANDEMIA

Bruna Morato, advogada que representa 12 médicos da Prevent Senior, é a responsável por ajudar médicos a elaborar um dossiê com denúncias envolvendo a empresa

Fonte: Agência Senado | 28/09/2021, 19h30

Comissão Parlamentar de Inquérito da Pandemia (CPIPANDEMIA) realiza oitiva da advogada representante dos médicos que trabalharam na Prevent Senior e elaboraram um dossiê entregue à comissão com diversas denúncias sobre o tratamento da empresa aos pacientes com covid-19, inclusive com a alteração de prontuários.   Em sua fala inicial, a advogada Bruna Morato ressalta que não precisou de habeas corpus para não se incriminar, ao contrário de outros depoentes da CPI. Ela diz se inspirar no exemplo da bancada feminina na CPI. Declara seu
Roque de Sá/Agência Senado

A revelação da advogada Bruna Morato de um susposto pacto da Prevent Senior com o Ministério da Economia para validar o chamado "tratamento precoce", como forma de tentar evitar o lockdown, reforça a atuação do “gabinete paralelo” e do governo federal na defesa de medidas sem comprovação científica na pandemia e joga o foco sobre a atuação da pasta comandada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e da ANS. É o que apontou a maior parte dos senadores nesta terça-feira (28) durante a reunião da CPI da Pandemia. 

Já senadores governistas consideram que o caso parece mais “uma teoria da conspiração”. Eles também criticaram a CPI por ouvir uma advogada sem saber quem são os seus médicos que fazem as acusações.

Para Humberto Costa (PT-PE), o objetivo desse “pacto” seria dar legitimidade a esse tratamento comprovadamente sem eficácia e “fazer com que as pessoas fossem para o meio da rua”. O senador apontou uma concidência nas datas e afirmou que no dia da demissão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que havia feito críticas ao hospital comandado pela Prevent Senior em São Paulo, o Conselho Federal de Medicina (CFM) liberou a utilização do kit de "tratamento precoce" contra a covid-19. 

Rogério Carvalho (PT-SE) apresentou um vídeo que apontaria as relações e conexões entre Pedro Batista Júnior, diretor-executivo da Prevent Senior e os médicos Paolo Zanotto e Nise Yamaguchi, com membros do governo e com o Conselho Federal de Medicina na busca de uma "fórmula milagrosa" para a sociedade "voltar ao trabalho", mesmo com uma pandemia em curso. Ele defendeu a convocação de integrantes do Ministério da Economia. 

— O que foi feito no Brasil foi uma ação criminosa na condução da pandemia. A Prevent Senior recebeu do governo autorização para matar — disse Rogério. 

Marcos do Val (Podemos-ES), por sua vez, pediu ponderação aos membros da CPI sobre as denúncias envolvendo a Prevent Senior e disse que o caso parece mais “uma teoria da conspiração”. Ele questionou o fato de a advogada Bruna Morato representar 12 médicos que acusam a operadora, enquanto 5 mil profissionais que exercem essa função ainda continuam ativos na rede. Ele se somou à Marcos Rogério (DEM-RO), que chegou a afirmar que a CPI deveria ouvir os médicos e não a advogada. Segundo ele, Bruna seria "uma testemunha por procuração".

— Eu acho que é uma porcentagem muito pequena para a gente achar que a exceção é a regra. Porque não é possível que 5 mil médicos estariam em silêncio, compactuando com tudo isso que está sendo dito — disse Marcos do Val.

O presidente da CPI, Omar aziz (PSD-AM) ressaltou que nenhum dos 5 mil profissionais de saúde vieram a público desmentir que foram obrigados a prescrever o kit covid e outras irregularidades apontadas pelos 12 médicos. 

—  As acusações que estão sendo feitas pelos médicos não são de forma nenhum desmentidas pelos profissionais de saúde que estão atuando nessas redes. Quem desmente são os proprietários da Prevent Senior — apontou Omar. 

Pacto

Durante a reunião, Bruna Morato apontou que após tentativas frustradas de se aproximar do Ministério da Saúde então comandado por Luiz Henrique Mandetta, o diretor da Prevent Senior, Pedro benedito Batista Júnior, teria então buscado o Ministério da Economia para ajudar a evitar um lockdown nacional. A esperança tinha nome: hidroxicloroquina, disse a advogada Bruna Morato.

Sem êxito na aproximação com Mandetta, a Prevent Senior teria fechado uma "aliança" ou "pacto” com um conjunto de médicos que assessoravam o governo federal, "totalmente alinhados com o Ministério da Economia". Entre os médicos estavam membros do chamado "gabinete paralelo", como Nise Yamaguchi, Anthony Wong, Paolo Zanotto. Após a saída de Mandetta, eles ambém teriam atuado no Ministério da Saúde. 

— Já existia um grupo de assessores médicos próximos ao governo que tinham informações até então científicas muito próximas aos interesses do Ministério da Economia, que era com relação ao país não precisar aderir ao lockdown. Segundo as informações que eu tive, a Prevent Senior entra pra corroborar com essa possibilidade, ou seja, a possibilidade de as pessoas se exporem mais ao vírus, cientes de que existe uma possível cura ou um possível tratamento que reduziria a letalidade, então elas teriam mais coragem. A expressão que eu ouvi dos médicos foi que aquilo seria uma "pílula de esperança" — denunciou Bruna, que ressalvou nunca ter ouvido o nome do ministro Paulo Guedes nas conversas.

Senadores chegaram a questionar a advogada sobre a razão pela qual os médicos por ela representados não procuraram o Conselho Federal de Medicina para denunciar as irregularidades. 

— Esses médicos recebiam a informação de que o Conselho Federal de Medicina e de que o Cremesp, de São Paulo, ou seja o Conselho Regional de Medicina de São Paulo, teria relação com a empresa, de modo que eles tinham muito medo de levar essas denúncias ao Cremesp — apontou. 

ANS

No depoimento, a advogada também afirmou que a empresa “tinha segurança” para realizar experimentos e elaborar estudos para corroborar o tratamento precoce. Bruna Morato é a responsável por ajudar médicos em um dossiê com denúncias envolvendo a empresa. 

— A Prevent Senior tinha segurança que ela não sofreria fiscalização do Ministério da Saúde ou de outros órgãos vinculados ao Ministério da Saúde. Inclusive foi essa segurança que fez nascer neles o interesse de iniciar um protocolo experimental, cientes de que não seriam devidamente investigados ou averiguados pelo ministério — disse a advogada.

O relator, Renan Calheiros (MDB-AL), apontou que documentos em posse da comissão jogam suspeita também sobre a ANS, a Agência Nacional de Saúde Suplementar, responsável por fiscalizar operadoras de saúde como a Prevent Senior.

Há muitos documentos e comentários de que os diretores executivos da Prevent Senior quando sentiam alguma insatisfação de algum médico para pôr em prática o protocolo e aplicar o kit covid, eles diziam assim: "Olha, fica tranquilo que a ANS não chegará aqui, na Prevent Senior" — relatou Renan.

Ele e Omar Aziz (PSD-AM) defenderam a convocação pela CPI de um representante da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), responsável por regulamentar os planos de saúde no Brasil.

Cobaias

As denúncias incluem manipulação de dados, falta de transparência em relação aos pacientes e ocultação de mortes de pacientes que participaram de um estudo realizado para testar a eficácia da hidroxicloroquina, associada à azitromicina, para tratar a covid-19. Segundo Bruna Morato, a ordem para os médicos omitirem das declarações de óbito a covid-19 como causa de morte partiu da Diretoria-Executiva da Prevent Senior.

Para senadores, o depoimento reforça que a Prevent fez uso de "cobaias humanas" para experimentos de tratamento precoce contra a covid-19. Eliziane Gama (Cidadania-MA), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) , Rogério Carvalho e Renan Calheiros compararam a situação com experimentos da Alemanha nazista e lembraram que o lema da empresa ‘’lealdade e obediência” eram as palavras de ordem da SS, a polícia nazista. A Prevent também contava com funcionários chamados de “guardiões”, médicos que seriam responsáveis por garantir que plantonistas seguissem as normas da Prevent e prescrevessem os medicamentos sem eficácia. De acordo com a advogada, médicos da Prevent Senior tinham que "cantar o hino dos guardiões com a mão no peito".

 — O governo tentou implantar a imunidade de rebanho, tentou implantar, por exemplo, a utilização de seres humanos como cobaia, seja de forma direta, no caso do Amazonas, ali com a implantação e a distribuição em massa de hidroxicloroquina, quando o povo e quando a sociedade estava precisando, por exemplo, de oxigênio. E aí também com o TrateCov, e agora terceirizado através da Prevent Senior, com a utilização de cobaias humanas, que não é exagero dizer que nos relembra o que a gente viveu e o que a gente acompanhou historicamente no caso dos experimentos, os mais macabros e bizarros, por exemplo, do nazismo, nos campos de concentração — apontou Eliziane.

'Kit covid'

Entre outros pontos, a advogada afirmou que os médicos do plano de saúde não tinham autonomia e que os pacientes recebiam um “kit covid” com “receita pronta” para tratamento da covid-19

Para a depoente Bruna Morato, a Prevent Senior alterava a CID (Classificação Internacional de Doenças) no prontuário dos pacientes, retirando a menção à covid-19, "para que houvesse uma falsa sensação de sucesso em relação ao tratamento preventivo". 

Em seu depoimento, Pedro Batista Jr. chegou a admitir alteração da CID em prontuários médicos, mas negou as acusações contidas no dossiê, que classiicou de “fraudulento”. Para a advogada, o diretor da Prevent denunciou suposta violação de prontuários numa "tentativa desesperada de desconstruir a denúncia".

A advogada dos médicos revelou que a operadora desaconselhou funcionários a usarem equipamentos de proteção individuais (EPIs) para não “criar uma sensação de pânico” nos pacientes da empresa que procurassem atendimento. Ainda segundo Bruna Morato, profissionais da Prevent trabalhavam normalmente mesmo após terem testado positivo para o novo coronavírus. Questionada pelo senador Humberto Costa (PT-PE), ela afirmou:

— As informações que me foram transmitidas são que, sim, médicos e enfermeiros trabalharam infectados — disse Bruna Morato.

Diante da revelação, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues, questionou de onde vinha a orientação para que os profissionais trabalhassem contaminados. 

— A orientação, na verdade, era diante, acredito eu, da escassez do corpo clínico. Partindo da diretoria da Prevent Senior. Inclusive os superiores hierárquicos tinham essas informações — acrescentou a advogada.

Paliativos

Senadores também questionaram a depoente sobre denúncias de recomendação de adoção de tratamento paliativo pela Prevent Senior para pacientes que não estavam em estado terminal. Bruna Morato disse que havia um “desvio de finalidade” para esse tipo de tratamento.

— As famílias não tinham conhecimento que o paliativo é você permitir ou você deixar que esse paciente evolua para óbito conectado com uma bomba de morfina ou a outros tratamentos sem a possibilidade de reação. Esses paciente eram viáveis e, se tratados, poderiam sobreviver — afirmou Bruna.

Sigilo

Em resposta aos senadores Marcos Rogério e Marcos do Val, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) esclareceu que Bruna Morato, como advogada, está respaldada pela OAB para expor as confidências feitas pelos clientes, desde que autorizada, e manter o sigilo profissional.

Marcos Rogério insistiu para que advogada entregasse os nomes dos médicos que denunciaram a Prevent Senior por testar medicamentos em pacientes sem consentimento ou autorização do Conselho de Ética. 

— Não há como prestar clientes anônimos. A depoente diz representar 12 médicos em 5 mil e não sabemos quem são esses médicos — criticou. 

Marcos Rogério comparou a situação com a de outro depoente que compareceu à CPI: Túlio Silveira, advogado da Precisa Medicamentos. Mas Simone Tebet (MDB-MS) afirmou que são situações diferente: Túlio esteve na CPI como assessor jurídico da Precisa, e não como advogado. 

—Túlio era um suspeito porque ele era um assessor técnico da Precisa, que, inclusive, tinha na logo da Precisa assinado e encaminhado e-mail pro governo, pro Ministério da Saúde — apontou Simone.

Bruna Morato reforçou que o seu depoimento esta respaldado em documentação entregue à CPI.

Luciano Hang 

Em resposta ao relator, Renan Calheiros (MDB-AL), Bruna Morato informou que teve acesso ao prontuário de Regina Hang, mãe do empresário Luciano Hang, e informou que o documento mostra que ela recebeu tratamento preventivo, mas não consta autorização expressa para tal. Por isso, ela não tem como saber se a família tinha conhecimento. Renan Calheiros lembrou que Luciano Hang gravou mensagem em redes sociais dizendo que a mãe não tinha recebido o tratamento precoce e que, se tivesse recebido, talvez estivesse viva. 

A advogada revelou que o médico toxicologista Anthony Wong, que era defensor do "tratamento precoce", ficou internado junto a pacientes com outras doenças numa unidade da rede Prevent Senior não específica para covid-19. Wong morreu em 15 de janeiro deste ano. Segundo denúncia da revista Piauí, a morte do especialista foi decorrente de complicações causadas pelo coronavírus, informação que não consta no atestado de óbito.

A reunião da CPI foi aberta com um pedido do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), para que a CPI tenha isenção e imparcialidade nos trabalhos e no relatório final a ser votado. Segundo ele, o documento que está sendo elaborado pelo relator Renan Calheiros "não pode ter natureza de sentença".

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)

Fonte: Agência Senado

 

Advogada aponta pacto da Prevent Senior com gabinete paralelo para evitar lockdown

 

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

O desinformante: um canal para combater a desinformação

 

ERA DA INFORMAÇÃO

Site criado há dez dias abre espaço para reunir pessoas interessadas nesse debate crucial para a democracia

fake news
O *desinformante quer ser um espaço por meio do qual informações confiáveis ajudem a combater a desinformação, ação essencial na defesa da democracia 
 
São Paulo – No Brasil e no mundo a desinformação move montanhas. As mudanças na “arquitetura da informação”, principalmente de 2010 para cá, deram grande espaço às redes sociais. E, assim, reorganizaram o debate público a partir dessa tração de “conteúdos por afinidade”. É o que explica um dos fundadores do site *desinformante, o pesquisador e consultor em políticas de comunicação e cultura, João Brant. No ar desde o dia 16 de setembro, o espaço surgiu da constatação da gravidade do problemas da desinformação nos dias de hoje. “Mas que a gente não estava conseguindo olhar no atacado”, afirma Brant. Ou seja, “no geral, a gente está olhando no varejo, no amontoado de fake news”. Desse modo, como ele observa, a discussão sobre “saídas possíveis” vinha também um pouco tímida, comparada ao tamanho do problema.

Então, depois de quatro meses de “incubação”, nasceu o *desinformante: “um lugar de informações confiáveis sobre desinformação. Analisamos seu impacto na sociedade e discutimos as formas de combatê-la”, como se definem.

O objetivo é envolver pessoas não necessariamente especialistas, mas que estejam preocupadas com o tema. “A gente não vai sair do lugar, nesse debate sobre desinformação, sem envolver os grupos que fazem luta por justiça social, seja no campo socioambiental, na luta contra o racismo, direitos humanos. É essa turma que pode dar testemunhos diários do efeito da desinformação nas suas lutas”, avalia Brant.

Conteúdo afetivo

Nesta entrevista à RBA, o jornalista faz uma análise de como se chegou a esse estado de coisas, em que a desinformação tem espaço tão relevante, a ponto de ser, no Brasil e no mundo, um modus operandi de governos e autoridades públicas. “Na prática, se você privilegia informações mais chamativas, se os conteúdos que mais circulam são aqueles que mexem, que mobilizam afetos das pessoas, é muito provável que a desinformação ganhe espaço. E isso aconteceu no mundo inteiro.”

O site tem conteúdo fundamental para entender o papel da desinformação, por exemplo, na questão do marco temporal. Como resposta a uma mentira constantemente divulgada pelo governo e por ruralistas na tentativa de aprovar esse projeto que pode acabar por facilitar a grilagem de terras indígenas, o *desinformante traz informação. “Estudo publicado em 2019 por 14 pesquisadores brasileiros e estrangeiros na revista científica Land Use Policy (Política de Uso do Solo) mostra que 97.456 grandes propriedades rurais ocupam 1,8 milhão de km2, que correspondem a 21,5% do território nacional. As Terras Indígenas abrangem cerca de 13% do território (1,1 milhão de km2) e abrigam 572 mil pessoas, segundo o Censo de 2010 do IBGE. Comparativamente, cada grande proprietário rural é dono em média de 18,7 km2, enquanto cada indígena é de 1,9 km2.” 

Confira algumas notícias que você pode encontrar no *desinformante

Por que a ideia de criar o *desinformante?

A ideia surgiu de uma constatação de que a desinformação é um problema muito grande. Mas que a gente não estava conseguindo olhar para ela no atacado. Em geral a gente está olhando no varejo, no amontoado de fake news. E principalmente que a discussão sobre ‘saídas possíveis’ vinha também um pouco tímida se você considerar o tamanho do problema que está posto. Então, minha sensação é que a gente precisava de um espaço para criar um ambiente comum de debate sobre o diagnóstico e sobre saídas possíveis para conseguir avançar no debate sobre desinformação no Brasil.

E conseguir envolver pessoas que não sejam especialistas. A ideia é envolver pessoas comuns, eu diria, pessoas que se preocupam com o tema. Ou seja, militantes de outros áreas, pessoas com formação universitária ou que tenham algum tipo de preocupação com essa questão da democracia e da desinformação, mas que não sabem… é difícil tatear o problema todo. Elas conseguem olhar a questão partir das fake news isoladas, da necessidade de checar etc.

E, finalmente, da necessidade de envolver grupos afetados pela desinformação, o que é fundamental. A gente não vai sair do lugar nesse debate sobre desinformação sem envolver os grupos que fazem luta por justiça social, seja no campo socioambiental, na luta contra o racismo, direitos humanos. É essa turma que pode dar testemunhos diários do efeito da desinformação nas suas lutas.

Todos sujeitos a fake news

Como levar “informação confiável sobre desinformação” para quem não está interessado em se informar, em se dar ao trabalho de ler textos longos ou complexos, ou não consegue compreender o que lê?

Uma coisa é a dificuldade de receber conteúdo traduzido. Isso para nós vai ser um exercício, a gente não vai acertar de cara. Vamos entender como é a posição das pessoas, o pré-conhecimento das pessoas sobre o tema e o quão simplificado precisa ser o conteúdo. Nós não esperamos atingir as pessoas, eu diria, que não tenham essa preocupação ou não partam de algumas preocupações comuns de defesa da democracia, de perceber que a desinformação é um problema. Não temos essa pretensão. Nossa ideia é atingir a camada que não é nem de especialistas, nem completamente alheia ao assunto.

Afeto e tração

A dificuldade em compreender texto pode estar por trás da facilidade como se espalham as fake news?

Eu acho que precisamos perceber que todos nós estamos sujeitos a espalhar fake news, porque a questão da desinformação tem muito a ver com a mudança na arquitetura do ambiente informacional que a gente tem. Antes, a seleção de notícias era feita pelos jornalistas com um certo viés de algum nível de objetividade. A gente sabe que objetividade, neutralidade, nunca foram uma realidade total, mas isso se buscava como uma referência normativa.

Nesse momento, toda a tração do conteúdo, ou seja, o que faz o conteúdo se mover e chegar mais longe, tem a ver com afetos positivos e negativos das pessoas. Porque se eu dependo de quanto meus amigos curtiram determinado conteúdo para que ele seja visível pra mim, ou do quanto os amigos repassaram isso no WhatsApp para que ele chegue no meu WhatsApp, na prática eu dependo de que as pessoas que estejam naquele limite, entre passar ou não passar aquele conteúdo, decidam passar.

E isso se dá pela maneira como esse conteúdo te toca inconscientemente. A dimensão consciente é relevante, mas a dimensão inconsciente é mais. E aí entram afetos negativos, como rancor, raiva, medo. E entram afetos positivos, como humor, orgulho, empolgação. Eu diria que uma parte grande do debate que não toca as pessoas nem no afeto positivo, nem no negativo, que era boa parte do jornalismo anteriormente, fica sem tração. Sem ter quem empurre e reverbere esse conteúdo. E acho que esse é um dos problemas chave pra gente entender porque todos nós estamos de alguma forma sujeitos a repassar informações e notícias que talvez não sejam as mais relevantes do ponto de vista jornalístico, mas nos tocam no sentido pessoal.

Outra arquitetura

Isso é um fenômeno internacional, certo? Por que diferentes povos, com diferentes formações do ponto de vista educacional, vivem esse mesmo problema?

Acho que exatamente porque todos os povos viveram simultaneamente uma mudança na arquitetura da informação. De 2010 para cá, as redes sociais ganharam muito espaço, reorganizaram o debate público a partir dessa tração de conteúdos por afinidade. E essa questão, que tanto pega os algoritmos quanto algumas redes que não têm algoritmos, como o WhatsApp, a gente tem simplesmente a natureza humana guiando a difusão desses conteúdos. E em todos eles foi-se gerando um incentivo à desinformação.

Na prática, se você privilegia informações mais chamativas, se os conteúdos que mais circulam são aqueles que mexem, que mobilizam afetos das pessoas, é muito provável que a desinformação ganhe espaço. E isso aconteceu no mundo inteiro.

Você acha que essa questão afetiva explica o sucesso do jornalismo sensacionalista em que a notícia não é exatamente relevante, mas chocante?

Acho que nesse ponto tem um desejo de se mover pela emoção mesmo, pelo sensacionalismo. Mas não acho que seja a mesma coisa, não é desinformação. É um problema de outra ordem que existe faz tempo, o jornalismo marrom inglês, isso no mundo inteiro existe. O problema é que o ambiente informacional mudou e aí você tem essa dinâmica de circulação da informação que passou a privilegiar outros valores. Essa dimensão de uma notícia mais popularesca e superficial sempre foi uma questão e vai continuar sendo. Mas isso e desinformação são problemas diferentes, que se sobrepõem – mas são diferentes.

Saídas possíveis

Existe alguma maneira de fazer frente a isso? Como comunicar informação relevante e afetiva? Essa fórmula existe?

Acho que esse modelo de arquitetura das redes sociais, cuja circulação de informações está vinculada à mobilização de afetos, é muito difícil de ser revertida, mantida essa arquitetura. Mas acho que há sim. Não só mexer na arquitetura, pois há outros caminhos que podem mitigar esse problema. A gente lista nove saídas possíveis que passam um pouco por essa avaliação. E não é fórmula. A arquitetura do ambiente informacional define o modus circulandi, vamos dizer assim, da informação. E, no fundo, a arquitetura induz a comportamentos. Isso pra mim tem uma dimensão muito clara. Tem outras visões e a gente não vai cravar uma visão no *desinformante. O que a gente quer discutir é a questão do diagnóstico e das saídas possíveis.

Quantas pessoas fazem parte do *desinformante?

A equipe tem eu na coordenação-geral, e a Nina Santos, da Bahia, pesquisadora da Universidade de Paris, na coordenação acadêmica. Tem três profissionais de comunicação, as jornalistas, Ana d’Angelo, a Liz Nóbrega, do Rio Grande do Norte, e da Espanha o jornalista Mathias Felipe. E tem uma assistente das estratégias de comunicação, a Paula Campos.



sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Justiça condena Vale a indenizar vítima que presenciou tragédia de Brumadinho

 

MEIO AMBIENTE | MINAS GERAIS

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) condenou a mineradora Vale a pagar indenização de R$ 100 mil por danos morais a um caminhoneiro que trabalhava no local atingido pelo rompimento da barragem B1 na mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, em janeiro de 2019.

VER-O-FATO | por Redação | 24/09/2021

Justiça condena Vale a indenizar vítima que presenciou tragédia de Brumadinho
O motorista estava em seu caminhão quando, isolado pela avalanche de lama, viu a tragédia de perto.

No processo de indenização, o autor, que fazia transporte de minério no local naquele dia, afirma ter sofrido um “gigante abalo psicológico” por ter ficado “preso por horas em um verdadeiro cenário de guerra”. O motorista diz ter presenciado a avalanche de lama tirando a vida de colegas e destruindo fauna e flora da região.

O estouro da barragem de Brumadinho, em Minas, soterrou e matou 270 pessoas.

A juíza Renata Nascimento Borges, da 2ª Vara Cível, Criminal e de Execuções Penais de Brumadinho, entendeu que ficou comprovado o dano moral. Pontuou, ainda, que o abalo emocional dos indivíduos que vivenciaram a tragédia é presumido. “Uma vez que, em virtude do caos que vivenciaram de perto, acreditaram estar em situação de risco de morte”, acrescentou.

Após o incidente, o motorista desenvolveu problemas psicológicos: não dormia direito e só voltou ao trabalho por necessidade financeira. Foi diagnosticado com estresse grave e transtorno de adaptação.

A mineradora argumentou que o motorista não tinha prova de ter sofrido danos passíveis de indenização, além de não residir na cidade de Brumadinho e de ter retornado ao trabalho 15 dias após o rompimento. Para a juíza, tais afirmações não excluem o dano moral causado no motorista – assim como a obrigação da empresa de repará-lo. O motorista apresentou prova documental de que fazia o trajeto na região naquele dia.

A Vale ainda alegou ter feito doações e prestado assistência aos atingidos pelo rompimento da barragem. A juíza analisa que o fato de a ré ter minorado os efeitos da tragédia também não afasta a obrigação de indenizar o autor.

“O dano alegado, nesta ação, não é somente aquele referente ao abalo à saúde mental, mas, também – e não se limitando a apenas isso, dada a extensão dos inúmeros efeitos negativos do rompimento -, pelo risco iminente de morte experienciado pelo autor, pois ele é um sobrevivente. Ora, a vida, sabidamente, é o bem mais precioso existente, e qualquer indivíduo temeria perdê-la, frente ao ocorrido”, ressaltou a magistrada, na sentença.

Com a palavra, a Vale

“A Vale respeita a decisão do judiciário e, no momento, avalia os critérios utilizados na sentença. A empresa permanece comprometida em indenizar de forma rápida e definitiva todos os impactados pelo rompimento da barragem. Até o momento, aproximadamente R$ 2 bilhões foram pagos em indenizações individuais, abrangendo mais de 11 mil pessoas.” (AE)

 

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quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Norte Energia, dona de Belo Monte, quer usar árvores nobres do Xingu para produzir carvão

MEIO AMBIENTE | AMAZÔNIA



O destino de milhares de árvores nobres, incluindo espécies em extinção e protegidas por lei federal, deverá ser os fornos de uma siderúrgica sócia da Norte Energia, a dona da hidrelétrica de Belo Monte, na Região Amazônica. A concessionária pediu autorização ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para transformar em cinzas 3,5 mil metros cúbicos de madeira que foram extraídos da região, na fase de construção da usina em Vitória do Xingu, no Pará. Trata-se de aproximadamente 120 caminhões abarrotados de toras da Amazônia que poderão virar carvão.

O jornal O Estado de S. Paulo teve acesso a um documento que a dona da maior hidrelétrica do Brasil enviou ao Ibama no dia 1.º de setembro, para solicitar o “uso de madeira para fins energéticos”. Em seu pedido, a Norte Energia diz que fez um levantamento sobre as “condições físicas dos estoques de toras nos pátios de madeira” da usina, entre dezembro de 2020 e abril deste ano, e chegou à conclusão de que possui “3.502,40 m³ de toras de madeira, estocadas em pátio, que ainda apresentam condições de utilização”.

A utilização solicitada não é a construção de móveis, casas ou qualquer outra estrutura que demande madeira, mas o uso como combustível para alimentar os fornos da siderúrgica Sinobras, que é uma das sócias da Norte Energia.

“A empresa Sinobras – Siderúrgica Norte Brasil S.A. contatou a Norte Energia, demonstrando interesse no aproveitamento de toda a madeira situada nos pátios da UHE (usina hidrelétrica) Belo Monte para a produção de biorredutor energético, destinado ao processo fabril de siderurgia da empresa”, informa a concessionária, no documento.

Detalhamento

Na sequência, a empresa detalha o pedido. “Sendo assim, a Norte Energia solicita a autorização deste referido órgão (Ibama), para que a destinação de todo o volume das toras armazenadas nos diversos pátios seja aproveitada na forma de resíduos para fins energéticos.”

Dos 3,5 mil m³ de toras que seriam queimados, mais de 2 mil m³ são espécies raras e protegidas por lei, além de outras que a própria Norte Energia enquadra como de madeira nobre e de “alto valor comercial”.

O inventário das madeiras depositadas no entorno da hidrelétrica também concluiu que, além dos 3,5 mil m³ de toras que pretende queimar, há um volume gigantesco de material que apodreceu. São 18.497 metros cúbicos de madeira já classificados como “não aproveitáveis”.

A retirada da vegetação em Belo Monte, em 2015, teve o propósito de dar espaço ao reservatório de 478 quilômetros quadrados criado no Rio Xingu, além do canal artificial de mais 20 quilômetros de extensão da hidrelétrica. Essa remoção foi autorizada pelo Ibama, órgão federal responsável pelo licenciamento da usina e pela fiscalização de seus impactos ambientais. Essa retirada, portanto, foi feita de forma legal e com acompanhamento das autoridades responsáveis.

Por lei, porém, todo material extraído tem de ser catalogado e devidamente destinado, seja por meio de doações ou utilização na própria obra, por exemplo. Ocorre que milhares de troncos estão há mais de seis anos apodrecendo ao ar livre.

Até meados dos anos 1980, era comum a construção de hidrelétricas no Brasil sem a retirada de vegetação. O governo simplesmente autorizava o enchimento de reservatórios, que engoliam florestas e tudo o mais que estivesse no caminho. Foi o que ocorreu, por exemplo, na construção da Hidrelétrica de Balbina, em Presidente Figueiredo (AM), que inundou 2.360 km quadrados de mata nativa, área equivalente à das cidades de São Paulo e Campinas juntas, transformando-se em um dos maiores crimes ambientais da história.

Essas regras mudaram e as empresas passaram a ser obrigadas a retirar a vegetação, para fazer sua destinação em seguida. Ocorre que, na prática, o uso dessa madeira não tem ocorrido.

Motivos

A reportagem enviou uma série de questionamentos à Norte Energia sobre as causas de a madeira não ter uma destinação adequada durante todo esse período. A concessionária foi questionada sobre as razões de mais de 18 mil m³ de madeira não ser aproveitável hoje e por que a concessionária quer transformar madeiras nobres, que têm alto valor comercial no mercado, em carvão. A empresa, no entanto, não esclareceu esses pontos.

Por meio de nota, a concessionária disse apenas que “a carta mencionada trata de consultas de rotina ao Ibama, na condição de licenciador da UHE (usina hidrelétrica) Belo Monte, que tange a legislação e normativas ambientais”.

As perguntas também foram encaminhadas ao Ibama, órgão responsável pelo processo de licenciamento da usina e por acompanhar o cumprimento de exigências ambientais impostas à concessionária. O Ibama não explicou se a empresa atrasou a destinação do material, se deveria dar outra destinação à madeira e se acha correto queimar madeira em extinção e de alto valor comercial.

“Existe dificuldade de prefeituras e outros interessados de retirar e transportar tal madeira, especialmente por conta do valor de frete cobrado por terceiros”, informou o Ibama, autarquia do Ministério do Meio Ambiente.

O órgão federal atribuiu ainda o problema à grande quantidade de madeira que foi cortada para dar espaço à usina. “A empresa vem cumprindo as determinações do Ibama e, embora exista esforço para utilizar e/ou doar, os volumes de madeira suprimida são bastante significativos, não havendo vazão para todo o quantitativo.”

A respeito do pedido para queimar o material, o Ibama declarou que “o requerimento da Norte Energia, solicitando o uso de madeira para fins energéticos, chegou ao Ibama em 1.º de setembro deste ano e se encontra em análise”.

Outros casos

Belo Monte não é um caso isolado em acúmulo de madeira sem destinação. A Hidrelétrica de São Manoel, erguida na fronteira de Mato Grosso com o Pará, também acumula milhares de toras ao lado de sua barragem, sem nenhuma destinação.

As usinas da Amazônia foram erguidas em regiões marcadas pelo desmatamento ilegal e grilagem de terras.

Pará e Mato Grosso lideram rankings dos crimes na floresta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

https://ver-o-fato.com.br/norte-energia-dona-de-belo-monte-quer-usar-arvores-nobres-do-xingu-para-produzir-carvao/

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Combate às fake news: plataformas de redes sociais devem ter sede no Brasil?

  

COMBATE A FAKE NEWS

Agência Câmara | 2 de setembro de 2021| 6 minutos de leitura

Combate às fake news plataformas de redes sociais devem ter sede no Brasil 
 
 Questionamento moveu discussão em audiência na Câmara dos Deputados
 
 
Especialistas ouvidos nesta terça-feira (31) pelo grupo de trabalho da Câmara dos Deputados que analisa o chamado “PL das fake news” (PL 2630/20 e apensados) questionaram a exigência de que os provedores de redes sociais e de serviços de mensageria privada tenham sede no Brasil. Já a exigência de representantes legais no País dividiu a opinião dos debatedores.

Diretora do Instituto de Referência em Tecnologia e Sociedade (Iris), Luiza Brandão foi uma das que manifestou preocupação com a exigência contida no artigo 32 do projeto. “A obrigação de sede não é necessária e pode inclusive prejudicar o Brasil na economia global digital e significaria retrocessos de séculos na construção legislativa e nas relações internacionais”, apontou. Para ela, a obrigação de ter representantes legais também tem eficácia duvidosa, coloca empecilho ao caráter global da internet e é de difícil execução.

O artigo 32 do projeto de lei também prevê que as empresas deverão garantir o acesso remoto, a partir do Brasil, aos seus bancos de dados, os quais conterão informações referentes aos usuários brasileiros. “A garantia de acesso remoto não soluciona a coexistência de jurisdições e pode dificultar a colaboração entre países”, avaliou a diretora do Iris. Para ela, o caminho é investir mais nas trocas diplomáticas.

Advogada especialista em Direito Digital, Patrícia Peck concorda que a obrigação de sede geraria retrocesso do ponto de vista econômico e da competitividade internacional. “Podemos ter outros caminhos, como a obrigação de representante legal”, ponderou. Ela lembrou que tanto o Marco Civil da Internet como a Lei Geral de Proteção de Dados já alcançam empresas com sede fora do País. Para ela, a grande questão é tornar essas leis efetivas e exigir que as empresas cumpram a legislação brasileira.

Visão dos deputados

O relator da proposta, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), questiona justamente como fiscalizar a aplicação da lei e impor eventuais penas se as empresas não têm representação no Brasil. “Tem serviço de mensagem que não tem qualquer tipo de diálogo com o Estado brasileiro. Nós podemos apenas observar e assistir inertes à difusão de desinformação de temas que por vezes até alcançam a saúde pública”, observou.

Coordenadora do grupo de trabalho, a deputada Bruna Furlan (PSDB-SP) defende a exigência de representação no Brasil. “Acho que deve ter sede sim no Brasil, porque precisamos ter a quem recorrer quando um crime ou uma violação de direitos é cometida.” Já o deputado Rui Falcão (PT-SP), um dos que pediu a audiência, acredita que o artigo deve garantir o acesso do Brasil a dados dos usuários e prever multa e advertência para países que descumpram a regra.

Visão do Ministério Público Federal

A procuradora da República Fernanda Domingos, coordenadora do Grupo de Apoio sobre Criminalidade Cibernética do Ministério Público Federal (MPF), concorda que a exigência de sede nacional traz prejuízos para o Brasil, mas defende a necessidade de apontarem representantes legais no País. “O fato de existir essa exigência já responsabiliza aquele provedor por não poder se escusar de prestar informações, como tem acontecido”, frisou. Para pequenas empresas, ela acredita que possa ser indicada uma associação que as represente.

Fernanda Domingos sugeriu ainda a criminalização do financiamento e da organização destinada ao cometimento de atos ilícitos. Ela defende que a lei inclua a obrigação de as plataformas de redes sociais informarem ao MPF ou a outras autoridades indícios de cometimento de crimes, como no caso de pornografia infantil, para que medidas possam ser imediatamente tomadas.

Documento de identidade

Sobre a possibilidade de provedores requererem a apresentação de documento de identidade do usuário em situações como indícios de conta inautêntica, prevista no artigo 7ª, a procuradora destacou que “não é o fato de a conta ser inautêntica o problema, mas a sua utilização para fins ilícitos, para cometimento de crimes e fraudes”. Ela observou que as contas inautênticas também são utilizadas por ativistas políticos para evitar perseguições e, por isso, o artigo deveria ter ressalva quanto à utilização regular dessas contas.

Fernanda Domingos defendeu ainda que o Conselho de Transparência e Responsabilidade na Internet tenha também representantes da magistratura e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Pelo projeto de lei, o órgão será responsável pelo acompanhamento das medidas previstas na norma e terá 21 conselheiros, inclusive um do Conselho Nacional do Ministério Público.

Aumento de penas

O presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação do Distrito Federal (Assespro/DF), Rodrigo Fragola, sugeriu a supressão do artigo 7ª e o aprimoramento dos dispositivos que tratam do Conselho de Transparência. Ele pede mais representantes da sociedade civil no órgão e observa que, pelo texto atual, o conselho tem competências concorrentes com Agência Nacional de Proteção de Dados.

Fragola defendeu ainda o aumento das penas para quem produz e divulga notícias falsas, a criação de juizados especiais digitais para apuração desses crimes, o aumento da educação digital e maior transparência quanto aos conteúdos pagos e impulsionados. Além disso, para a Assespro, o projeto precisa ter uma definição mais clara do que é fake news ou desinformação, alinhada com o Marco Civil da Internet, com a Lei Proteção de Dados e com os acordos internacionais.

“A legislação deve ser mais objetiva e simples, evitando questões técnicas e específicas, se aproveitando de parte da legislação já existente, para evitar conflitos”, sugeriu. Ele teme a postergação da discussão pelo Congresso e a regulamentação do tema pelo governo federal em normas infralegais.

Rastreabilidade de mensagens

Já a professora da Universidade de Brasília (UnB) Laura Schertel Mendes criticou o artigo 10º da proposta, que trata da rastreabilidade das mensagens e que, para ela, não será eficaz para combater a desinformação e pode violar o direito à proteção de dados e o sigilo das comunicações. “Me chama a atenção a desproporcionalidade de colocar milhares de pessoas em suspeita nessa cadeia de rastreabilidade”, disse.

O artigo, que também gerou polêmica em audiências anteriores do GT, prevê que os serviços guardem os registros dos envios de mensagens encaminhadas em massa por três meses, resguardada a privacidade do conteúdo das mensagens, que só poderá ser acessado por ordem judicial. Pelo texto, “encaminhamento em massa” é o envio de uma mesma mensagem por mais de cinco usuários em um intervalo de até 15 dias, para grupos de conversas ou listas de transmissão, e que alcancem mais de mil pessoas.

Transações financeiras

O chefe do Departamento de Competição e de Estrutura do Mercado Financeiro do Banco Central, ngelo Duarte, defendeu que a legislação permita a inovação. Ele destacou que cerca de 2/3 das transações financeiras são realizadas pelo celular e que elas vêm crescendo. “Só no ano passado, houve crescimento de 40%, muito em função da pandemia”, disse. Ele apontou ainda queda das transações feitas pelo computador e observou que menos de 10% são feitas por canais físicos.

*Reportagem de Lara Haje, com edição de Rachel Librelon, originalmente publicada na Agência Câmara.

 
https://portal.comunique-se.com.br/combate-as-fake-news-plataformas-de-redes-sociais-devem-ter-sede-no-brasil/
 

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Nilson Chaves lança “Iluminados” em homenagem aos profissionais de saúde

 

GRATIDÃO AOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE

A música foi gravada com a participação de Simone Almeida e membros da equipe médica da Santa Casa de Misericórdia