segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Albrás: entre Brasil e Japão

 

(Artigo publicado em 2010)

Quem precisa ou gosta de entender a Amazônia, este é o maior pesquisador na temática ambiental, dentro do jornalismo brasileiro, para esta região do Brasil. 

foto: @grupoparlamentarbrasiljapao

 

A Albrás é a maior empresa com sede no Pará e na Amazônia. Em 24 anos de funcionamento, sua produção acumulada já alcança 9 milhões de toneladas de alumínio, destinado principalmente ao exterior e, em particular, ao Japão, que ficou com quase metade desse total. A receita dessas exportações no período supera 13 bilhões de dólares.

É a maior exportadora de alumínio e também a maior produtora do Brasil. É a 8º maior fábrica de alumínio do mundo e a líder no continente. Está a menos de 50 quilômetros em linha reta de Belém, mas raros paraenses a conhecem pessoalmente, sabem o que ela representa ou sequer que existe. Não parece que está em Barcarena: parece que foi instalada em Marte.

Já há uma boa maneira de apresentar a maior empresa do Estado aos paraenses. É através de um álbum, A história da Albrás, bem editado graficamente, em 232 páginas, com rica iconografia. Apesar de ser uma publicação institucional da companhia e ter sido escrita por um dos seus ex-presidentes, não é uma hagiografia nem chega a ser uma versão bitoladamente oficial.

Romeu do Nascimento Teixeira era realmente a pessoa mais habilitada a reconstituir, a partir de dentro, o que foram os 18 anos e meio de negociações nipo-brasileiras e os sete anos de implantação da Albrás. Ele foi o brasileiro que por mais tempo esteve na linha de frente do empreendimento, durante sete anos como seu mais duradouro presidente.

Mas não perdeu o humor e certo senso crítico ao relatar a façanha que foi colocar uma moderna e potente refinaria de alumínio para funcionar no meio da selva amazônica. Hoje ela produz 44% acima da capacidade de projeto, que era de 320 mil toneladas, sem grandes investimentos adicionais, o que representa quase um terço (31%, para ser exato) da produção nacional.

PROJETO DE DOIS GOVERNOS

A primeira questão que a Albrás suscita consiste em saber se ela foi concebida como um dos componentes do programa de integração da Amazônia à economia nacional, que os governos militares puseram em prática na transição do final da década de 60 para os anos 70 do século passado, ou se é um típico projeto internacional de enclave.

A resposta deverá apresentar componentes desses dois fatores e de alguns outros. Já havia planos para dar aproveitamento energético aos rios da Amazônia e a existência de minérios começou a ser confirmada e mensurada a partir da descoberta e exploração da jazida de manganês do Amapá pela Bethlehem Steel/Icomi, na década de 1950.

Fora dado o tiro de largada na corrida pelos valiosos recursos do subsolo da região e a principal condição para possibilitar seu aproveitamento era a oferta de energia, não só escassa como insuficiente na Amazônia. Principalmente para o minério que iria completar seu ciclo do metal primário, o lingote de alumínio (com a etapa intermediária da alumina).

Até o final dos anos 1960 apenas multinacionais haviam feito descobertas importantes de minérios na Amazônia, como manganês, bauxita, caulim, titânio, cassiterita e o principal deles, o minério de ferro de Carajás. A maior parte dessas descobertas aconteceu, certamente não por acaso, a partir de 1964, com as facilidades oferecidas ao capital estrangeiro pelo governo militar brasileiro.

No Brasil, as primeiras descobertas de bauxita ocorreram em 1917, feitas pela americana Alcoa, em Mariana, Minas Gerais. Importantes depósitos de bauxita já eram conhecidos na Guiana, mas só na década de 50 as multinacionais passaram a se interessar de vez pela Amazônia. A primeira delas, a Kaiser, se limitou a vistoriar as margens do rio Amazonas próximas ao litoral do Pará e do Amapá.

SENTAR SOBRE AS MINAS

Surpreendentemente, suas sondagens não se aprofundavam pelas camadas onde se acumulava o minério, como se não interessasse — ao menos ainda não — a avaliação econômica dos jazimentos. “Algum interesse estratégico ou político cercava de mistério a atuação dos estrangeiros na Amazônia”, observa Romeu Teixeira no livro. As multinacionais queriam apenas “sentar sobre as minas”.

A canadense Alcan, porém, vendo ameaçadas suas jazidas localizadas na Guiana inglesa e na Guiné, decidiu ir mais além, fazendo pesquisas na região central da margem esquerda do Amazonas. Foi assim que, em 1967, encontrou “a primeira boa reserva econômica”, na calha do rio Trombetas, em Oriximiná. Seu depósito continha 500 milhões de toneladas de bauxita, cinco vezes mais do que as reservas brasileiras de então.

A Alcan saiu na frente, mas adiou tanto seu projeto que acabou paralisando-o, em maio de 1972, quando ele já estava aprovado para receber colaboração financeira da Sudam (era o maior de todos os projetos até então aprovados). Alegou que havia excesso de minério no mercado e que suspenderia a implantação por tempo indeterminado. O governo federal, que pretendia transformar a Amazônia em fonte imediata de divisas, para sustentar o “milagre econômico”, obrigou-a a abrir o capital.

Assim a estatal Companhia Vale do Rio Doce ficou com 41% das ações da Mineração Rio do Norte e a CBA, do grupo Ermírio de Moraes, com 10%. Estava assegurada a maioria nacional onde, antes, havia o controle absoluto de uma multinacional. Os militares tinham uma motivação estratégica para a iniciativa: a CBA era, até então, o único produtor nacional do alumínio. Os outros dois eram multinacionais, do cartel das seis irmãs: a Alcan e a Alcoa.

O projeto Trombetas foi retomado em julho de 1974, após 26 meses de paralisação, para produzir 3,3 milhões de toneladas. Deixara de ser um empreendimento isolado: seu principal objetivo passou a ser viabilizar uma grande fábrica de alumínio no extremo norte do país. Completamente neófita nesse setor, ainda em 1973 a CVRD fez contatos no Japão à procura de novos sócios estrangeiros para participarem do empreendimento, conforme a reconstituição feita por Romeu Teixeira.

Já encontrou em atividades a Ardeco, uma companhia criada pelos japoneses dois anos antes para incrementar a busca por bauxita e que realizou sondagens na África e na América do Sul. Entre agosto e setembro de 1973 (quase um ano antes da retomada do projeto da MRN) uma missão da Ardeco visitou todos os locais que seriam entrelaçados para possibilitar a produção de alumínio: as jazidas de bauxita do Trombetas e de Paragominas, estas de propriedade da Rio Tinto Zinc, e o local onde surgiria a usina de Tucuruí, no rio Tocantins. Isao Kawaguchi, vice-presidente da Mitsui Aluminium, chefiou essa delegação e seria o maior protagonista da Albrás.

A MAIOR FÁBRICA DE ALUMÍNIO

Em 13 de novembro de 1973 o então todo-poderoso ministro Delfim Neto assinou, em Tóquio, o primeiro memorando de entendimento para a implantação de uma fábrica de alumínio e da hidrelétrica de Tucuruí, ambos no Pará. De pronto, a Federação das Indústrias do Japão (Keindaren) enviou outra missão, com técnicos em siderurgia, energia e alumínio para estudar os projetos.

Seus pareceres fundamentaram a decisão da Vale e do consórcio japonês LMSA (depois substituído pela Nalco, em 1977, e, por fim, pela NAAC) para implantar a fábrica de alumínio na Amazônia pelo governo japonês e 32 empresas privadas daquele país, incluindo os cinco maiores produtores de alumínio do Japão. Deveria ser a maior e melhor fábrica de alumínio do Brasil. Os japoneses tomavam a mesma iniciativa em Gana e na Indonésia.

Eles corriam contra o tempo. Era um projeto não só empresarial, mas governamental, da própria nação. O peso do governo ainda se fazia sentir quando a Albrás começou a produzir, em 1985: havia grandes estoques de alumínio espalhados pelo mundo e os preços estavam próximos de mil dólares, que não garantiam a remuneração do investimento (cuja taxa era baixa, de pouco mais de 7% ao ano). O Japão estava parando de produzir alumínio, suas fábricas quase todas fechadas e as empresas descapitalizadas. O governo japonês teve que bancar para que a Albrás prosseguisse.

Em meados de 1970 o Japão já se tornara o maior importador mundial de alumínio. Durante a década de 60 os japoneses conseguiram multiplicar por cinco sua produção interna para atender ao “milagre econômico”, que fizera o país ressurgir como potência mundial depois de ter sido arrasado na Segunda Grande Guerra. Mas a importação crescera o dobro, atingindo 258 mil toneladas, equivalente a pouco mais de um terço da produção nacional (ou 727 mil toneladas).

O primeiro choque do petróleo, em outubro de 1973, provocou o fim da busca de autonomia em alumínio, o produto industrial que mais consome energia. Foi preciso converter — às pressas e de forma radical — o parque manufatureiro do metal. Agora, a meta era acabar com a produção interna, que se tornava inviável pelo alto custo da energia. O fechamento de fábricas começou em 1979. Dois anos depois quase metade da capacidade instalada (de 1,4 milhão de toneladas) já havia sido desativada.

JAPÃO EM CRISE

Exemplo dessa transformação foi a trajetória da Mitsui Aluminium: criada em 1968, teve que encerrar suas atividades 21 anos depois por carência de energia. Uma fábrica da Sumitomo foi mais meteórica: inaugurada em 1977, foi fechada em 1982. Em 1977 os japoneses ainda pareciam ter esperanças de superar a crise do petróleo. Foi quando sua produção atingiu 1,5 milhão de toneladas, representando quase 10% da produção mundial.

A maior fábrica era da Sumitomo, com capacidade instalada de 515 mil toneladas (a única maior do que a futura Albrás). Mas, a partir de 1980, como efeito da segunda crise do petróleo, do ano anterior, a produção interna caiu vertiginosamente, chegando a um valor simbólico, de 40 mil toneladas, no final da década. Toda a produção japonesa teve que migrar e o melhor local para se instalar era o Pará.

No início, eles imaginaram investir muito mais. Tanto em Barcarena mesma, por total carência de infraestrutura para suportar um investimento tão complexo, como na central de energia, que precisaria ser de alta escala para dar conta da forte demanda de uma refinaria de alumínio (iria consumir uma vez e meia mais energia do que Belém). Por isso, o orçamento total definido em 1974 era de 3,3 bilhões de dólares, sendo US$ 2,2 bilhões para as fábricas de alumínio e alumina, US$ 800 milhões a título de participação na hidrelétrica (que deveria custar US$ 2,1 bilhões) e US$ 300 milhões para a infraestrutura de apoio às fábricas.

Em maio de 1975 o tamanho da Albrás foi reduzido à metade: de 640 mil (o que a colocava como a maior do mundo) para 320 mil toneladas anuais (ainda como uma das maiores). Outra modificação foi a separação dos projetos de alumina e alumínio, que passaram a ser independentes. Em 1979, só o custo da fábrica de alumínio estava em US$ 1,5 bilhão de dólares. O valor da Alunorte era então de US$ 572 milhões para uma produção de apenas 800 mil toneladas. Era menos do que a previsão inicial.

Os japoneses começaram a perceber que poderiam investir muito menos se transferissem alguns encargos para a parte brasileira, sobretudo o governo, e eliminassem sua participação no projeto da hidrelétrica. As dificuldades de um entendimento entre os parceiros sobre diversos pontos do projeto iriam impossibilitar o general Geisel de assinar um acordo formal de constituição da Albrás durante sua imponente visita a Tóquio, em 1976.

Por isso, ele autorizou o ministro das Minas e Energia, o nissei Shigeaki Ueki, “se preciso for”, a assinar “contratos de gaveta” para que o acordo fosse sacramentado. “Por isso, Ueki deixou algumas cartas se comprometendo com os japoneses em pontos que seriam difíceis de serem atendidos no futuro”, observa Romeu.

Um dos pontos de atrito, segundo ele, eram os 2% a mais em favor da Vale sobre o consórcio japonês na composição do capital da Albrás (51% a 49%). Essa diferença “não agradava aos japoneses, e houve diversas tentativas de conseguir que a participação fosse igualitária, mas o governo brasileiro jamais concordou”.

A RECUSA DO BNDES

No entanto, essa mesma diferença foi usada como argumento para forçar o BNDES a finalmente aceitar financiar o projeto, o que o banco vinha se recusando a fazer. Seus técnicos argumentavam que embora o controle nominal do capital fosse brasileiro, na prática eram os japoneses que mandavam na Albrás. Queriam mudanças no acordo de acionistas.

A posição dos técnicos foi superada por interferências políticas e o contrato de financiamento para a segunda fase da implantação, de US$ 423 milhões (de um custo total de US$ 659 milhões), foi assinado em março de 1982. Ironicamente, as regras foram as mesmas do empréstimo para a primeira fase, feito pelo Eximbank japonês, no valor de US$ 373 milhões (de um total de US$ 708 milhões).

Por isso, a correção monetária do empréstimo brasileiro foi em parte atrelada à variação da taxa da moeda japonesa, o iene, “o que veio prejudicar muito a Albrás e os seus acionistas”. Mas beneficiou — e muito — os financiadores japoneses. O investimento total acabou sendo de US$ 1,37 bilhão, apenas 6,2% acima do orçamento de 1980, para surpresa do governo do Japão, que imaginava ter que investir de sua parte 36% a mais do que efetivamente aplicou.

O projeto Asahan, na Indonésia, que era paralelo ao da Albrás, dobrou de valor, passando de US$ 1,1 bilhão para US$ 2 bilhões. A produção era de apenas 225 mil toneladas de alumínio, mas o orçamento incluía uma hidrelétrica de 513 MW, equivalente a quase duas das 23 máquinas de Tucuruí, que acabou sendo excluída do esquema de fontes da Albrás (onde apareceu inicialmente com US$ 800 milhões).

A construção de Asahan começou em 1979 e a primeira linha entrou em operação em 1982. Os japoneses tinham 75% (sendo 50% do governo) e o governo indonésio 25%. Nela, mandavam mais abertamente. Em compensação, pagaram mais alto por isso.

A Albrás entrou em operação em julho de 1985. A primeira exportação de lingote foi em 4 de abril de 1986, quando o navio Sun Rokko Colombo desatracou do porto de Vila do Conde carregado com 26,5 mil toneladas de metal destinados aos Estados Unidos. A primeira exportação para o Japão só aconteceu seis meses depois. Foram 16,7 mil toneladas embarcadas para o porto de Yokohama. A Alunorte responde por 15% das necessidades japonesas de alumínio. É a maior fábrica japonesa fora do Japão.

JAPÃO X EUA

Para chegar a esse resultado, a Albrás precisou se entestar com um empreendimento paralelo, que com ela iria competir e desde o início procurou sufocá-la. À frente dessa empreitada estava ninguém menos do que a maior indústria de alumínio do mundo, a americana Alcoa, a líder do cartel das “seis irmãs”, empenhada em rearrumar esse oligopólio durante a transição da crise mundial de energia.

Sugestivamente, as duas selecionaram o mesmo local para nele instalarem sua fábrica: a ilha de Mosqueiro. No primeiro contato com o então governador Aloysio Chaves, em 23 de outubro de 1975, Eduardo Carvalho, diretor da Vale, pediu apoio para instalar a fábrica de alumínio na ilha: “A forte recusa do governador em relação a esse local, por ser um balneário próximo a Belém, empurrou a Albrás para Barcarena”, testemunha Romeu. A Alcoa, que nem foi recebida pelo secretário de planejamento do Estado, Fernando Coutinho Jorge, se mudou para São Luís do Maranhão.

Romeu Teixeira admite que houve competição entre os dois projetos, contribuindo para acirrar a tradicional rivalidade entre Pará e Maranhão. Segundo ele, as “campanhas e críticas contra os excessivos benefícios fiscais” concedidos à Albrás poderiam ter sido “bem mais brandos se os benefícios não tivessem sido estendidos à Alcoa/Alumar”.

Dentre os vários benefícios fiscais e tributários estavam redução de imposto de renda, isenção de imposto de importação e sobre produtos industrializados (IPI), dispensa do depósito compulsório sobre financiamentos externos, benefício de impostos sobre equipamentos nacionais, isenção de impostos estaduais e municipais. Mas o maior de todos foi sobre a tarifa da energia elétrica.

Os japoneses acabaram poupando seu capital de risco não entrando em Tucuruí, mas acompanharam meticulosamente, de forma direta ou indireta, o avançar do cronograma físico-financeiro da obra, que lhes era vital. Sem muita energia, não seria possível produzir o alumínio previsto. Os dois projetos tinham que ser simultâneos e o menos oneroso possível.

Já em setembro de 1974 o ministro Shigeaki Ueki sobrevoou o local onde seria erguida a hidrelétrica de Tucuruí na companhia do embaixador japonês. Outro nissei, Akihiro Ikeda, que deixou a presidência da Alunorte para ser secretário-geral do ministro da Fazenda, Delfim Netto (outro personagem destacado no enredo), teve participação decisiva tanto no projeto da Albrás quanto no de Tucuruí.

O FATOR ENERGIA

Diz Romeu que na construção de Tucuruí, “o grande aliado era o fabuloso contrato turn key com a maior empreiteira do país [ele não diz o nome da Construtora Camargo Corrêa] que, de certa forma, garantia o fluxo de recursos. Mas, talvez pela mesma razão, os custos de implantação estavam tendo um enorme aumento, o que poderia trazer consequências para a tarifa de energia”.

A perspectiva preocupava muito a Albrás. Em 1976 a empresa firmou com a Eletronorte um protocolo estabelecendo que o preço da energia elétrica “seria variável em função do preço do alumínio, com uma tarifa mínima de 8 mills [milésimos de dólar] por kWh”.

Apesar dessa tarifa altamente favorável, “a NAAC pleiteava ainda melhores condições”. O anúncio desses valores provocou “o aumento da pressão da opinião pública”. De tal forma que, “antes que as pressões recrudescessem, tornava-se urgente assinar o contrato com a Eletronorte”.

Os benefícios tarifários foram aprovados em agosto de 1979, sobre uma base ligeiramente melhorada, de 8 para 10,5 mills/kWh. O contrato com a Eletronorte foi assinado em novembro de 1980. Embora a Albrás tenha antecipado em dois anos a reserva de energia para capitalizar a Eletronorte, nos 20 anos de vigência do contrato a partir de 1984 (renovado em 2004 por mais duas décadas), o subsídio tarifário equivaleu ao investimento feito na fábrica de alumínio. Ou seja: devolveu uma fábrica nova à empresa.

Em boa hora foi o acerto. Em 1984, quando visitou a Albrás, o cearense César Cals, que substituíra Ueki no Ministério de Minas e Energia, manifestou satisfação com o projeto do alumínio, que estava dentro do orçamento, enquanto a obra de Tucuruí o havia estourado em US$ 2 bilhões. Ou seja: tinha dobrado de custo.

POR QUE ENCARECEU?

A vantagem de um só empreiteiro, como acontecia em Tucuruí, que podia executar o serviço com maior rapidez, não fora alcançado, já que a usina atrasara. E a desvantagem da hidrelétrica em relação a um empreendimento com muitos empreiteiros, que, na concorrência, podem diminuir seus preços, estava visivelmente escancarada em relação à Albrás, que cumpriu o orçamento.

O de Tucuruí passou de US$ 10 bilhões e ninguém sabe explicar como ficou tão caro, embora o ex-presidente da Vale e ex-ministro das Minas e Energia, Eliezer Batista, fundamental tanto na história de Carajás quanto da Albrás-Alunorte, tenha sugerido uma razão: corrupção.

O contrato foi assinado, a energia foi fornecida, a fábrica bateu recordes, mas a relação entre a hidrelétrica e a refinaria de alumínio se mantinha precária porque havia uma única linha a transmitir a brutal carga de energia pelos 320 quilômetros entre Tucuruí e Barcarena. Em fevereiro de 1980 a Albrás fez a primeira solicitação de duplicação dessa linha singela, que custaria US$ 87 milhões, mas a obra só foi executada em 2002, 11 anos depois do grande blecaute de março de 1991.

Durante 12 horas faltou energia, interrompida por um acidente na linha de transmissão. A Albrás perdeu 40 mil toneladas de alumínio, ficou parada por vários meses e seu prejuízo ultrapassou em US$ 20 milhões a cobertura do seguro. Tudo porque uma pequena peça da linha (no valor de US$ 20) quebrou.

Enquanto, com todos os seus percalços (e muitas vantagens), a Albrás seguia em frente, sua vizinha, a Alunorte, projetada para transformar a bauxita do Trombetas em alumina, marcava passo. Na Alunorte a participação dos sócios era diferente: 60,8% para os brasileiros e 39,2% para os japoneses. Essa participação equivalia exatamente a quanto da produção de alumina seria utilizada pela Albrás para produzir a sua própria cota de alumínio, que era de 49% do total. Não queriam ir um milímetro além dos seus interesses. Talvez por isso, não se interessaram por investir na mineração. Nunca aceitaram fazer parte da Mineração Rio do Norte. A participação japonesa na Alunorte é, hoje, de 5,3%.

Já a Alcan tinha opção sobre 25% da empresa de alumina, mas desistiu. No entanto, participou de toda a implantação, através de sua sócia japonesa, a NLM, a segunda maior produtora de alumínio do Japão, na qual tinha metade das ações. A NLM, que “contribuiu de forma tão importante para implantar o projeto de alumínio”, não conseguiu levar adiante “seu próprio projeto de alumina”, constata Romeu Teixeira.

Ele busca a explicação em duas vertentes, uma séria e outra irônica. A NLM podia carregar a sina da Alcan, “de sempre perder o fôlego quando faltava pouco para concretizar seus grandes projetos no Brasil”. Talvez porque tivesse faltado a ela “um pouco da brilhante e corajosa ‘irresponsabilidade’ de Kawaguchi. Ou, quem sabe, beberam pouco”.

Na Albrás beberam muito: entre 1973 e 1985, segundo Romeu, bom de copo, foram consumidas 535 mil garrafas de cerveja, o que daria a média de 165 garrafas por dia. Sem incluir outras bebidas de maior octanagem, como o saquê.

Romeu assegura que houve pressão da Alcoa sobre o governo brasileiro “para que a Vale adiasse indefinidamente o projeto da Alunorte”. Mas essa pressão só foi eficaz porque a Vale, em dificuldade de caixa e passando por um dos seus cíclicos momentos de visão curta, aceitou a pressão para não ter que investir na Alunorte. O primeiro embarque da MRN foi em 13 de agosto de 1979, 21 mil toneladas para o Canadá.

O fornecimento para o mercado interno começou indo para a Alumar, em São Luís, em 1984. Só 11 anos depois a Alunorte começou a receber minério do Trombetas, quando, finalmente, entrou em produção. Durante esse período o Pará exportou bauxita e importou alumina para a Albrás, principalmente do Suriname, de uma subsidiária da Alcoa. Deve ter perdido mais de um bilhão de dólares em divisas nesse período por conta desse traçado irracional.

Quem mais ganhou e quem mais perdeu nessa incrível ciranda de dados e relatos? Passado um quarto de século do início da produção de alumínio na Amazônia, ainda não há um balanço satisfatório. Mas o belo álbum que Romeu Teixeira escreveu e ajudou a produzir passa a se tornar uma fonte indispensável na busca da resposta, de alto interesse para o Brasil — e, em particular, para que o Pará não passe a ser apenas um detalhe nessa saga de poderosos.

 

https://lucioflaviopinto.wordpress.com/2022/01/30/albras-entre-brasil-e-japao/


domingo, 30 de janeiro de 2022

Polícia resgata menor grávida e outros 12 em condição análoga à escravidão

 

Trabalhadores em condições análogas à escravidão são resgatados em Caçador (SC) - Polícia Civil de Santa Catarina

Do UOL, no Rio 30/01/2022 14h30Atualizada em 30/01/2022 15h27

Trabalhadores em condições análogas à escravidão são resgatados em Caçador (SC) - Polícia Civil de Santa Catarina
Trabalhadores em condições análogas à escravidão são resgatados em Caçador (SC) Imagem: Polícia Civil de Santa Catarina

Uma adolescente grávida e outras 12 pessoas foram resgatadas em condição análoga à escravidão em uma plantação de cebola em Caçador, Santa Catarina.


De acordo com a Polícia Civil, o local estava insalubre, com apenas um banheiro, e pouca comida. Imagens divulgadas mostram que eles dormiam em beliches, e a geladeira estava suja e sem alimentos. O responsável por levar os trabalhadores à plantação foi preso em flagrante.


Os trabalhadores eram de vários estados, não só de Santa Catarina. Eles foram até a cidade de Caçador com a promessa de receber o salário por produção, além de ganhar comida e alojamento sem custos adicionais. 


Na realidade, os trabalhadores eram obrigados a trabalhar 11 horas por dia, e pagar por alimento e moradia. Com isso, os ganhos eram metade do previsto. 


O empresário responsável pela plantação e pela contratação dos trabalhadores não teve a identidade divulgada. A Polícia Civil afirma que ele está preso e que "os fatos foram comunicados à Justiça Federal".



https://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/8f/2022/01/30/trabalhadores-em-condicoes-analogas-a-escravidao-sao-resgatados-em-cacador-sc-1643563620959_v2_450x1.jpg.webp
Trabalhadores foram obrigados a pagar pela própria comida, que era pouca Imagem: Polícia Civil de Santa Catarina.


https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2022/01/30/trabalhadores-analoga-escravidao-santa-catarina.htm?utm_source=chrome&utm_medium=webalert&utm_campaign=noticias

 

 



Caminhos para bloquear o Telegram no Brasil levam ao Supremo

 

Mídia

Seja na Justiça Eleitoral ou na comum, eventual decisão de tirar o aplicativo de mensagens do ar deve ser questionada no STF 

Por Alexandre Aragão | 30/01/2022 12:48
 
Telegram (Unsplash)

Créditos da foto: Telegram (Unsplash)
Em dezembro, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, enviou um ofício em inglês que se encerra com um convite ao diálogo: “I hope to hear from you soon” — “aguardo retorno de você em breve”.


O destinatário era Pavel Durov, cidadão russo de 37 anos, morador do emirado de Dubai, cofundador e CEO do Telegram, presente em 53% dos celulares brasileiros. O ministro menciona o dado no texto e acrescenta que “teorias conspiratórias e informações falsas sobre o sistema eleitoral estão sendo disseminadas no Brasil” por meio do aplicativo de mensagens.

Em sua página de perguntas frequentes, o Telegram afirma que, “até hoje, compartilhamos 0 bytes de dados de usuários com terceiros, inclusive governos”. Como tantas outras autoridades, Barroso foi ignorado.

Na quarta-feira passada (19/1), o ministro disse que pretende debater com os colegas de tribunal possíveis providências contra o Telegram, indicando a possibilidade de bloqueio do aplicativo.

A Justiça Eleitoral é apenas um dos caminhos possíveis para que isso ocorra. Assim como aconteceu duas vezes com o WhatsApp, que pertence à empresa Meta (ex-Facebook), juízes de primeira instância também poderiam determinar um eventual bloqueio do Telegram. As rotas têm em comum a alta probabilidade de confluírem ao Supremo Tribunal Federal.

Justiça Eleitoral

“O arranjo institucional entre o TSE e o STF é muito especial”, comenta Diogo Rais, professor de Direito Eleitoral na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Para ele, caso o bloqueio ocorra por decisão do tribunal eleitoral, deverá haver articulação prévia com o STF — conforme indica também a fala do ministro Barroso.

“O TSE é composto por sete ministros efetivos e sete substitutos. Do STF, vêm três efetivos e três substitutos”, segue Rais com o raciocínio. “Simultaneamente, há seis representantes do STF no TSE, ou seja, a maioria dos onze ministros também está no tribunal eleitoral.”

Partidos políticos contrários ao bloqueio do Telegram teriam legitimidade para propôr ações no Supremo questionando uma eventual decisão do TSE. O Partido Liberal, ao qual o presidente Jair Bolsonaro se filiou no ano passado para concorrer à reeleição, seria forte candidato a tomar a dianteira da causa.

Porém, como a maioria dos ministros do STF compõe o tribunal eleitoral e deve anuir com uma eventual decisão antes do bloqueio, as chances de o Supremo revertê-la seriam menores do que no caso de uma decisão oriunda de instâncias ordinárias. Além da possibilidade de adiar a decisão indefinidamente, por meio dos instrumentos regimentais que os ministros dispõem para tanto.

Atualmente, há duas ações em tramitação no tribunal relacionadas ao tema, ambas questionando se o Marco Civil da Internet pode determinar a suspensão ou o bloqueio de um serviço oferecido por uma empresa que se recusa a passar informações à Justiça.

As ações tratam de casos envolvendo o WhatsApp.

* “No primeiro bloqueio, ainda não havia criptografia ponta-a-ponta e eles não tinham representação no Brasil. Havia o Facebook, mas eles não se responsabilizavam pelo WhatsApp”, relembra a procuradora da República Fernanda Domingos, do Ministério Público Federal de São Paulo, que atua em casos de crimes cibernéticos.

* “O segundo bloqueio aconteceu mais por um desconhecimento sobre a tecnologia de criptografia ponta-a-ponta”, afirma Domingos. “Naquele momento, ou o WhatsApp não respondia ou apresentava respostas em inglês.”

Desde a adoção da tecnologia de criptografia ponta-a-ponta como padrão, o WhatsApp não é tecnicamente capaz de acessar o conteúdo das mensagens trocadas por seus usuários. Os conteúdos são codificados e decodificados apenas nos aparelhos dos usuários — daí o termo “ponta-a-ponta”.

No entanto, a empresa tem acesso a metadados — por exemplo, quais usuários conversam entre si, em que grupos cada usuário participa, que usuários compõem um determinado grupo, quais mensagens estão sendo repassadas com muita frequência, entre outras milhares de informações.

Atualmente, o WhatsApp mantém representação no país e coopera com autoridades brasileiras. “Informações de grupos, informações cadastrais, o que não seja conteúdo de mensagens, eles fornecem com ordens judiciais sem problema nenhum”, afirma Domingos. “Naqueles casos [em que houve bloqueio], na minha visão, o que irritou os juízes é que eram investigações muito graves e eles já tinham tentado aplicar multa.”

A postura atual do WhatsApp é diametralmente oposta à do Telegram. “Eles não respondem nunca, para ninguém”, diz a procuradora da República. “Ignoram todas as autoridades”, ela resume.

“A empresa não dá nem bom dia”, concorda Diogo Rais. “Ignora por completo a força do Poder Judiciário brasileiro”, diz o professor. “Isso mostra uma política organizacional refratária, afastada de qualquer instituição, de qualquer país.”

Em entrevista à Marie Claire, na semana passada, a ministra substituta do TSE Maria Claudia Bucchianeri ecoou esse pensamento: “O Marco Civil só responsabiliza plataformas digitais se descumprirem ordens judiciais, e temos uma plataforma que não recebe ordem judicial. Isso precisa mudar”, ela disse. “Proibiremos o Telegram no Brasil? Algo precisa ser feito.”

As ações em tramitação no STF relacionadas aos casos do WhatsApp têm relatorias da ministra Rosa Weber e do ministro Edson Fachin. Nos dois casos, os relatores votaram pelo entendimento de que juízes não podem determinar o bloqueio de aplicativos de mensagens por descumprimento de ordem judicial.

Ambas as ações, no entanto, estão paradas desde maio de 2020 após pedidos de vista do ministro Alexandre de Moraes. Ele também relata o inquérito das fake news, que investiga a atuação de redes coordenadas de desinformação, inclusive no Telegram.

Em outubro, durante o julgamento no TSE das ações que pediam a cassação da chapa Bolsonaro–Mourão pelo uso de disparos em massa nas eleições de 2018, Moraes foi taxativo ao dizer que naquele ano “houve disparo em massa”. “Se os autores da ação negligenciaram a prova, isso é outra questão. Há gabinete de ódio”, continuou o ministro.

“A Justiça Eleitoral pode ser cega, mas não pode ser tola. Não podemos aqui criar de forma alguma um precedente avestruz. Todo mundo sabe o que ocorreu. Todo mundo sabe o mecanismo utilizado nas eleições e depois das eleições.”

Justiça Comum


Enquanto as ações no Supremo não são decididas, com uma conclusão sobre a validade do trecho específico do Marco Civil da Internet, permanece no ar também a possibilidade de juízes de primeira instância determinarem o bloqueio do Telegram — assim como ocorreu nas ações envolvendo o WhatsApp.

Essa alternativa, sem articulação com o STF, teria menos chances de prosperar e ser duradoura do que a saída pela via da Justiça Eleitoral, segundo avaliam os entrevistados. “Deve haver gravidade suficiente que justifique esse pedido, mas isso não depende da gente, depende das investigações”, diz a procuradora da República Fernanda Domingos.

“Esse cenário é razoável, considerando todo esse processo”, afirma Rais, ressaltando que uma eventual decisão com base no Marco Civil da Internet chegaria, de novo, ao Supremo. “É como se todos os caminhos levassem ao ministro Alexandre de Moraes.”

Um deputado federal que participou das discussões durante a tramitação do Marco Civil da Internet opina, em condição de anonimato, que não há outra saída viável senão bloquear o Telegram. Para ele, não seria possível fazer a empresa colaborar com as autoridades apenas por meio de mudanças legislativas. “O problema não é a lei, é o Telegram.”

Já o deputado Vinícius Poit (Novo-SP), que presidiu a Frente Digital no biênio 2020–21, acredita que um eventual bloqueio feriria direitos fundamentais tanto da empresa como de usuários. “Uma possível decisão nesse sentido implicaria negativamente na promoção do acesso à informação”, afirma.

“Existe um abuso de poder monocrático, ao passo em que por meio de uma única decisão proferida por um magistrado pode ser determinado o bloqueio de uma plataforma”, ele diz. “Qualquer decisão desse tipo deveria, ao menos, ser colegiada.”

Poit lembra que o texto do PL 2.630/20, conhecido como PL das Fake News, busca limitar a distribuição em massa de conteúdos em aplicativos de mensagens. O projeto foi aprovado no Senado, mas ainda precisa passar pela Câmara. O deputado acredita que uma mudança legislativa nesse sentido também feriria a liberdade de empresas e usuários.

“Atacar a questão da disseminação de conteúdos por meio de um contingenciamento do alcance de compartilhamento e limitando a quantidade de usuários em grupos é uma questão delicada”, avalia. Para o deputado, uma mudança nesse sentido implicaria “na interferência do Estado em empresas privadas”.

Alcance

As “milícias digitais” citadas por Moraes em sua decisão poderiam ser desarticuladas no Telegram caso o serviço fosse bloqueado no Brasil. Mas permaneceriam ativas em outras plataformas e, além disso, poderiam continuar acessando o Telegram por meio de VPNs (“virtual private network”, em inglês, “rede virtual privada”) — método capaz de dissimular a origem do tráfego de dados —, mesmo que com alcance menor.

“Para um usuário comum, cortaria o acesso. Um usuário mais sofisticado, que vai na dark web ou faz qualquer coisa do tipo, conseguiria acessar”, diz o engenheiro de telecomunicações Eduardo Tude, presidente da Teleco, empresa de consultoria do setor.

“Para o Telegram em si, que é quem a Justiça pretenderia atingir, seria um baque, representaria perda de usuários no Brasil”, ele afirma. Decisões judiciais do tipo são cumpridas pelas prestadoras de acesso à internet. “As empresas têm ferramentas que identificam esse tráfego”, explica Tude.

Das pessoas que têm acesso à internet no Brasil, 98% se comunicam pelo WhatsApp ao menos uma vez por mês. O percentual de uso do Telegram é de 53%, segundo dados do ano passado. Apesar da diferença relevante na quantidade de usuários nas duas plataformas, conteúdos podem viralizar muito mais rapidamente no Telegram. O limite em um grupo de WhatsApp é de 256 pessoas. No Telegram, é de 200 mil pessoas.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) criou um canal de distribuição oficial no aplicativo no início de 2021. Em outubro, quando os serviços do Facebook — inclusive o WhatsApp — saíram do ar em todo o mundo durante cerca de sete horas, o Telegram aumentou sua base em 70 milhões de usuários em um único dia. Naquele mês, Bolsonaro chegou à marca de 1 milhão de inscritos em seu canal.

Uma estratégia usada pelo presidente para aumentar o alcance de seu canal no Telegram é divulgá-lo em plataformas com mais usuários brasileiros, incentivando que usem o aplicativo para receber informações.

* No Twitter, onde tem 7 milhões de seguidores, Bolsonaro mantém no perfil um link para seu canal de distribuição no Telegram, que tem pouco mais de 1 milhão de inscritos.

* No Instagram, onde tem 19 milhões de seguidores, o presidente possui um link para seu perfil no Gettr, rede fundada por um ex-auxiliar de Donald Trump e usada por ativistas de extrema-direita, onde Bolsonaro tem 582 mil seguidores.

Outros pré-candidatos à presidência também têm canais oficiais no Telegram, porém com números muito menores que os de Bolsonaro:

* O ex-presidente Lula da Silva (PT) possui 47 mil inscritos;

* O ex-ministro Sergio Moro (Podemos) disse em depoimento na Operação Spoofing que deixou de usar o Telegram por não considerar o aplicativo confiável. A investigação apura o vazamento de mensagens trocadas entre ele e procuradores da Lava Jato por meio do aplicativo, no caso que ficou conhecido como Vaza Jato, após reportagens do site The Intercept Brasil. Moro não tem canal oficial no Telegram;

* O ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) tem 19 mil inscritos;

* O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), não possui canal pessoal. O governo paulista mantém um canal institucional com 19 mil inscritos.

*Publicado originalmente em JOTA

https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Midia-e-Redes-Sociais/Caminhos-para-bloquear-o-Telegram-no-Brasil-levam-ao-Supremo/12/52593

 

Na maior UTI de Covid-19 do Brasil, mais de 90% dos casos graves são em não vacinados

 

 O Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, no Rio, havia dado alta ao último paciente com coronavírus em novembro de 2021, e sua equipe esperava que o pior tivesse passado. Durou pouco. Em janeiro, os casos graves explodiram

Ana Lucia Azevedo e Fotos de Márcia Foletto | 30/01/2022 - 03:30 / Atualizado em 30/01/2022 - 11:07

Na última quinta-feira, o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla , no Rio, estava com 350 dos seus 420 leitos dedicados a pacientes com Covid- 19 Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo
Na última quinta-feira, o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla , no Rio, estava com 350 dos seus 420 leitos dedicados a pacientes com Covid- 19 Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo   

RIO — A Ômicron gerou pandemias dentro da pandemia. A primeira é uma onda que pega muita gente, mas, graças às vacinas, a maioria casos sem gravidade. A segunda pandemia é a das pessoas não vacinadas ou apenas com o esquema vacinal incompleto. Para elas, a Ômicron tem potência de tsunami e se mostra tão devastadora quanto as variantes anteriores do vírus.

A face agressiva da Ômicron é visível nos leitos de UTI do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Ela está expressa nos rostos dos pacientes intubados e ligados a máquinas. Está estampada na angústia daqueles fora do tubo, mas prostrados, sem forças para reagir ao ataque da Covid-19 e cientes da gravidade de seu estado.

A maioria dos casos de Covid-19 que agrava e mata — mais de 90% — é de não vacinados ou indivíduos com vacinação incompleta, mostram dados do hospital, que, por seu tamanho, é um microcosmo da pandemia no Brasil.

A Covid-19 grave da Ômicron é como a da Delta e a da Gama das ondas anteriores da pandemia: tira o ar, rouba as forças, inflama, infesta o corpo com trombos. Não há som nas salas de UTI do Gazolla, além daqueles dos equipamentos. Para quem adoece, 2022 chegou como uma volta ao pior de 2020.

A Ômicron aparentemente tem um menor potencial de levar ao agravamento. Mas observamos que os casos que evoluem para uma maior gravidade são os de não vacinados ou com esquema vacinal incompleto (sem a terceira dose). Muitos deles estão intubados ou à beira de ir para a intubação. Quando a Covid-19 da Ômicron agrava, é como a das demais variantes — afirma o diretor do Gazolla, Roberto Rangel.

Nesses pacientes sem proteção de vacina se vê com nitidez o comprometimento pulmonar severo e o padrão de vidro fosco, com opacidades. Estão lá as alterações fisiopatológicas típicas das demais variantes do coronavírus, como trombos disseminados. Tudo isso se traduz em intenso sofrimento, oculto sob o jargão médico de desconforto respiratório e síndrome respiratória aguda grave.

— Temos uma população muito vacinada e, por isso, se criou uma ilusão que a Ômicron é leve. Mas, para quem não tomou vacina, é tão perigosa quanto as outras variantes. Temos uma pandemia de doença leve para os vacinados e outra grave para quem não quis se vacinar ou está com o esquema incompleto — enfatiza Rangel.

https://oglobo.globo.com/saude/medicina/na-maior-uti-de-covid-19-do-brasil-mais-de-90-dos-casos-graves-sao-em-nao-vacinados-25372019

sábado, 29 de janeiro de 2022

Lula: “Quando os pobres ganham bem, todos ganham”

 

Em entrevista a rádio paraense, Lula explica que o país não se desenvolverá enquanto excluir a maior parte de sua população. Ele também comentou a pandemia e o fim da ação do tríplex