terça-feira, 30 de novembro de 2021

Dois casos da variante Ômicron são confirmados no Brasil

CORONAVIROS

  Kaique Lima 30/11/2021 17h35, atualizada em 30/11/2021 19h18

 Dois casos da variante Ômicron são confirmados no Brasil


O laboratório do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, confirmou dois casos da variante Ômicron da Covid-19. Os casos são o primeiro da nova cepa a serem confirmados no Brasil. As vítimas são um homem de 41 anos e sua esposa, de 37.

 

Um dos resultados é do passageiro que desembarcou em Guarulhos no último dia 23 de novembro voltando da África do Sul. Existe um terceiro caso suspeito, de um passageiro que veio da Etiópia para o Aeroporto Internacional de Guarulhos, mas este ainda está em investigação.

 

Anvisa já foi notificada

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já foi notificada sobre os resultados positivos dos testes. A agência enviou os dados para o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, que já confirmou que os casos realmente são da variante Ômicron.

 

Fachada do Instituto Adolfo Lutz
Amostras foram enviadas ao Instituto Adolfo Lutz para a realização de novas análises. Crédito: Governo do Estado de São Paulo/Divulgação   

 

 O laboratório do Hospital Albert Einstein também já informou a Anvisa sobre o processo de sequenciamento genético no último dia 29/11. Já nesta terça-feira (30), a instituição informou que havia confirmado, com base em análises prévias, que a variante Ômicron foi identificada pela primeira vez no Brasil.

 

A Anvisa também já enviou um ofício para o Ministério da Saúde e para as secretarias de saúde do município e do estado de São Paulo sobre o diagnóstico. Segundo eles, isso é extremamente necessário, para que sejam tomadas as medidas de saúde pública adequadas sejam tomadas o mais rápido possível.

 

O que é a Ômicron?

Este é o primeiro caso da variante B.1.1.529, que foi batizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como Ômicron. A nova cepa causa preocupação por seu alto número de mutações. Segunda a organização apresenta risco altíssimo para novos surtos da doença.

 

O Olhar Digital preparou uma reportagem especial com tudo o que você precisa saber sobre a nova variante da Covid-19. Clique aqui para conferir a matéria completa sobre a vente Ômicron e quais são os riscos que ela traz, agora que chegou no Brasil

 


 

 https://olhardigital.com.br/2021/11/30/coronavirus/dois-casos-da-variante-omicron-sao-confirmados-no-brasil/?utm_campaign=newsletter_posicao_01&utm_medium=imagem&utm_source=newsletter


Projeto de produção de polpas e frutas empodera mulheres de São Félix do Xingu

 

Parte da produção das mulheres é destinada para merenda escolares da cidade

 

Um paraíso de árvores frutíferas no quintal de casa é o cenário que atrai o olhar na propriedade de Darlene Ferreira, que sedia a Associação das Mulheres Produtoras de Polpa de Fruta (AMPPF) na cidade de São Félix do Xingu. Pés de acerola, abacate, cacau, graviola, jaca, goiaba, caju e manga adornam o ambiente de trabalho dessas mulheres que também inclui a plantação de novas mudas como de Ipê rosa, muiracatiara e sementes de açaí e maracujá em um viveiro também no local.

A atual presidente do grupo, dona Maria Josefa, relembra da companheira Diomar, fundadora da associação e imagina o quanto ela estaria feliz vendo o crescimento do paraíso particular que virou uma fonte de renda extra para as mulheres da região. “Nós estávamos falando ali no meio do viveiro ‘se ela estivesse aqui, como ela estaria?’ Porque ela era a cabeça da associação, encorajava todas as mulheres que entravam, ela dava a coragem dela pra nós, porque sem isso nós não estaríamos aqui hoje”, destaca dona Josefa.

Produção da Associação das Mulheres Produtoras de Polpa de Fruta (AMPPF). Foto Nicole Matos / Amazônia.org  

 

Rendendo Frutos

A produção de polpa de fruta feita pelo grupo é totalmente artesanal, com frutas retiradas dos quintais agroflorestais das associadas que moram em propriedades das vilas de Tancredo Neves, Maguary e Nereu, em São Félix do Xingu. A gratidão de fazer parte do grupo é nítida no rosto das integrantes que agradecem a oportunidade de participar do projeto e ter a chance de conseguir uma independência financeira.

“Eu entrei pelo fato de ver que através dessa associação nós estaríamos aproveitando as frutas plantadas no nosso quintal que antes se perdiam. Quando essa associação começou foi uma porta que se abriu para que pudéssemos aproveitar nossas frutas e ter uma renda extra para a família no dia a dia. Tem sido muito bom e cada vez mais estamos crescendo”, conta Maria Nilde, uma das integrantes do grupo.

A distribuição das polpas é principalmente designada para a merenda escolar, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) que tem como diretriz, que no mínimo 30% dos itens de alimentos do programa sejam adquiridos de agricultores familiares locais.

Além da produção de polpa, em parceria com o Imaflora, o grupo tem recebido mudas de árvores nativas e frutíferas para cultivar e futuramente vender para ganhar mais um complemento em suas rendas.

A união faz a força

A Associação das Mulheres Produtoras de Polpa de Fruta (AMPPF) é uma organização que reúne agricultoras familiares de São Félix do Xingu, região do Sudoeste do Pará. Criada oficialmente em 2012, a organização ganhou corpo a partir de projetos, programas e outras ações de incentivo à organização social e à geração de renda. Atualmente a associação conta com 25 integrantes mulheres e cinco homens

 

Por: Nicole Matos
Fonte: Amazônia.org.br
Imagem de Destaque: Mulheres da Associação das Mulheres Produtoras de Polpa de Fruta (AMPPF). Foto Nicole Matos

 

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Paulo Freire e a aposta na comunicação libertadora

Pesquisador da comunicação brasileira aponta: a obra do educador vai muito além da alfabetização. Ao desvelar a “cultura do silêncio”, intensificada pelo neoliberalismo, ele propunha o diálogo e a cultura como convites potentes à emancipação

A tragédia do mercúrio no Tapajós

 

Todos os indígenas de três aldeias Munduruku no Pará estão contaminados por mercúrio do garimpo

Aldem Bourscheit – Reportagem do InfoAmazonia para o projeto PlenaMata.

Sete estudos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostram que mulheres e crianças são as mais vulneráveis à intoxicação por mercúrio, que atinge todas as 200 pessoas nas aldeias Sawré Muybu, Poxo Muybu e Sawré Aboy, na Terra Indígena Sawré Muybu, do povo Munduruku, no oeste do Pará. A origem da contaminação é o garimpo de ouro, que cresceu quase 500% em áreas indígenas, especialmente na Amazônia, desde 2010 e hoje conta com incentivo e apoio do governo Bolsonaro. Terras, peixes e águas estão contaminados e aumentam os riscos a populações rurais e urbanas.

Área do estudo da Fiocruz, com a localização das 3 aldeias (pontos vermelhos). Imagem:  IJERPH

A média de contaminação acima dos limites toleráveis é de seis em cada dez indígenas (40% na aldeia Muybu, de 60% na Poxo e de 90% na Aboy). Os territórios estão às margens dos rios Tapajós e Jamanxim, onde há garimpo desde os anos 1950. Em abril, o ambientalista Cássio Beda morreu após dois anos vivendo e consumindo peixes na bacia do rio Tapajós, onde apoiava demandas de povos indígenas.

Todos os indígenas das 3 aldeias da TI Sawré Muybu estão contamidados em algum nível. 6 em cada 10 têm mercúrio no sangue acima do limite tolerado pela OMS.

“Os indígenas da Amazônia dependem dos recursos naturais para viver, mas os impactos crescentes das atividades humanas ameaçam sua saúde e sua subsistência”, destaca o mais recente dos estudos da Fiocruz, publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health. As pesquisas começaram após denúncias quanto à contaminação por mercúrio por entidades como a Associação Pariri, que representa 11 aldeias Munduruku no Médio Tapajós. Os testes em cabelos e sangue dos indígenas e também nos pescados consumidos ocorreram no fim de 2019.

Coordenador das investigações sobre a contaminação por mercúrio entre os Munduruku, Paulo Basta alerta que todos os habitantes das aldeias avaliadas têm alto risco de adoecimento porque não há nível seguro de mercúrio no organismo humano. “É uma calamidade que associa crises sanitária e ambiental, com ampliação das contaminações e do desmatamento, e de contínua violação de direitos, com invasões de garimpeiros e madeireiros que se arrastam por décadas”, alertou o pesquisador na Fiocruz.

É uma calamidade que associa crises sanitária e ambiental, com ampliação das contaminações e do desmatamento, e de contínua violação de direitos, com invasões de garimpeiros e madeireiros que se arrastam por décadas. (Paulo Basta, pesquisador da Fiocruz)

Os estudos esclarecem que comer peixes nos povoados aumenta as chances de contaminação. O corpo humano não tem mercúrio e não elimina o que absorve por contato direto ou consumo de animais e água contaminados. O metal tóxico é associado à malformação de bebês e doenças neurológicas, como demência, tonturas, tremores, problemas de audição e visão. Os efeitos são cumulativos e podem levar à morte. 

Alessandra Korap Munduruku, da Associação Pariri, avalia que muitas doenças e mortes não são ligadas ao poluente pela precariedade dos serviços de saúde na floresta tropical, especialmente para os indígenas. Ou seja, quando adoecem ou morrem, os atestados não associam os óbitos ao mercúrio. “Os peixes com mercúrio e agrotóxicos não vivem amarrados, sobem e descem os rios. Única fonte de alimento de muitas pessoas, o peixe não é mais um alimento seguro na Amazônia”, lamentou em debate recente.


 

O avanço do garimpo em terras indígenas da Amazônia. Destacadas em branco, os limites das TIs dos povos Munduruku, Kayapó e Yanomami, os mais afetados pelo garimpo.

 As maiores manchas de garimpo em terras indígenas no Brasil estão em áreas Munduruku e Kayapó, no Pará, e Yanomami, no Amazonas e Roraima, mostra o MapBiomas. Entre 2010 e 2020, a atividade cresceu 495% em áreas indígenas e 301% em parques nacionais e outras unidades de conservação na Amazônia. Quase toda (94%) a área ocupada por garimpos no país está em meio à floresta. Na região, a atividade é quase toda ilegal e cresceu em 1,5 mil hectares anuais entre 1985 e 2009 e em 6,5 mil hectares ao ano a partir de 2010. Uma ferramenta do Ministério Público Federal (MPF) estima que a extração de 1 kg de ouro provoque quase R$ 2 milhões em danos socioambientais em meio à floresta.

Desenvolvido por instituições como Fiocruz e WWF-Brasil, o Observatório do Mercúrio revela que o garimpo ilegal é comum em toda a Amazônia sul-americana. No Brasil, além das TIs Munduruku, Kayapó e Yanomami, ocorre em terras indígenas como a Baú e Xikrin do Cateté, no Pará; na Alto Turiaçu, no Pará e Maranhão; na Rio Biá, no Amazonas, e na Waimiri-Atroari, no Amazonas e Roraima. O banco de dados reúne 40 anos de estudos sobre intoxicações por mercúrio na Amazônia, ações do Ministério Público Federal (MPF), desmatamento, contaminações de pessoas e peixes. Veja no mapa abaixo como as áreas com garimpos estão próximas os povoados indígenas onde foi detectada a contaminação.

A situação é agravada por ações do governo Jair Bolsonaro e projetos legislativos que tramitam no Congresso. Assinado pelo Executivo federal, o PL 191/2020 abre terras indígenas ao garimpo, a hidrelétricas e à exploração de petróleo. Há também outros projetos, como o PL 490, que autorizam a exploração dessas áreas e aumentarão o caso fundiário na Amazônia. Recentemente, a Funai proibiu pesquisadores da Fiocruz, ligada ao Ministério da Saúde, de estudarem impactos do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. 

“Este governo não tem o mínimo interesse de ter acesso ou negará as informações dos estudos sobre efeitos do garimpo entre os indígenas”, destacou Paulo Basta, da Fiocruz. Alessandra Munduruku diz que não há como frear a contaminação sem ação do poder público. “Tem que ter fiscalização forte e não legalizar as invasões dos territórios indígenas. O mercúrio está matando muita gente. O governo nos quer pobres e doentes para minar nossos direitos”, disse. 


Convenção de Minamata ainda no papel

Os perigos do mercúrio chamam a atenção do mundo desde 1956, quando pessoas e animais começaram a morrer por consumir peixes contaminados por dejetos industriais lançados ao longo de 20 anos na cidade japonesa de Minamata. Pelo menos 50 mil pessoas foram intoxicadas. Nos anos 1970, 40 mil iraquianos foram contaminados ao consumir pães produzidos com trigo que recebeu um fungicida à base de mercúrio. O metal tóxico perdura por até 100 anos após lançado nos ambientes. 

Tragédias como estas levaram à Convenção de Minamata, que desde 2013 pede o banimento global da produção e uso do mercúrio em itens como lâmpadas, cloro e soda cáustica. Um total de 128 países assinaram o acordo, promulgado pelo Brasil em 2018. Até agora, porém, o país não deu passos concretos para eliminar a substância, avalia Marcelo Oliveira, especialista em Conservação do WWF-Brasil. “A convenção segue no papel, mas sua aplicação é indispensável para a saúde da população brasileira. As intoxicações por mercúrio não afetam apenas indígenas, populações rurais e tradicionais, elas chegam em áreas urbanas pelo consumo de peixes contaminados”, destacou.

 

https://lucioflaviopinto.wordpress.com/2021/11/27/a-tragedia-do-mercurio-no-tapajos/

 

sábado, 27 de novembro de 2021

Como criar uma cultura de metas e indicadores na gestão pública?

Os princípios da administração pública que todos precisa conhecer

Por Por Camila Nogueira

 LIMPE - Princípios administrativos brasileiros

Você sabia que há princípios da carreira pública que devem ser seguidos por todos os profissionais da área? Exatamente. São cinco princípios da administração pública que norteiam as ações dos que já atuam ou desejam atuar na área.

Os princípios são os de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Eles foram incorporados à Constituição Federal em 1988, no artigo 37, e são conhecidos como LIMPE. Vamos entender cada um deles:

Legalidade

Como o próprio nome já diz, o princípio de legalidade norteia as ações dos funcionários da administração pública de acordo com a valorização do que está escrito na lei e acima dos interesses privados. A atuação do Poder Executivo deve atender o interesse dos cidadãos

A administração pública que se afaste deste princípio poderá responder por suas ações nas formas civil e criminal . 

Impessoalidade

Este princípio busca traduzir a noção de que todos os cidadãos devem ser tratados de forma igualitária, sem discriminação. Ele pode ser dividido em duas partes.

1 - A relação com os particulares

Dita regras de forma a deixar claro que o objetivo das relações é a finalidade pública, sem promover interesses pessoais. Isso significa que é proibida a nomeação de amigos ou parentes para cargos públicos

2 - Em relação à própria administração pública

Proíbe a promoção pessoal de agentes públicos. Isso significa que o prefeito de uma cidade não pode realizar atos, obras ou serviços para se autopromover.

Moralidade administrativa

Este princípio obriga os agentes públicos a atuarem de acordo com os princípios éticos. Ele não se refere exatamente à moral comum. Trata dos valores morais, que estão postos nas normas jurídicas. Mesmo assim, toda ofensa à moral social também é considerada uma ofensa a este princípio. A nomeação de parentes em cargos comissionados, por exemplo, é uma das práticas que desrespeitam a moralidade administrativa.

Publicidade

Este princípio da administração pública tem por objetivo garantir o estado democrático de direito sobre o qual a nossa sociedade é fundamentada: o poder pertence ao povo. Isto significa que todas as instituições e órgãos públicos devem disponibilizar dados e informações como forma de prestar contas à sociedade. Somente alguns casos previstos em lei, como a segurança nacional, podem ser exceção a esta regra.

Eficiência

A melhor forma de definir o princípio da eficiência é por meio do conceito da boa administração. É dever do servidor público oferecer o melhor serviço possível, sem ferir a lei, preservando os recursos públicos e em tempo razoável. 

Conhecer estes cinco princípios é fundamental para quem deseja se especializar em gestão pública. Converse com um de nossos especialistas e entenda melhor.

 

 https://inscricaoficr.catolica.edu.br/blog/principios-da-administracao-publica

 

Governo Bolsonaro aumenta verba da Globo e diminui a de TVs religiosas

POLÍTICA

Emissora volta a ficar em primeiro lugar, superando Record e SBT; repasses para grupos evangélicos e católicos caem para...


Por Da Redação veja.abril | Atualizado em 24 nov 2021, 14h34 - Publicado em 24 nov 2021, 13h09

Bolsonaro segura cartaz contra a TV Globo durante visita a Cascavel (PR) Alan Santos/PR

Tida como uma das “inimigas” da gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), a TV Globo voltou a ser a emissora que recebe a maior fatia das verbas destinadas à publicidade do governo federal  pagas por meio da Secretaria Especial de Comunicação (Secom) do Palácio do Planalto. Em 2021, até o início de novembro, a TV recebeu repasse de 54 milhões de reais, ante 50 milhões em 2020 e 33,3 milhões em 2019 – como o ano ainda não terminou, há a possibilidade de o crescimento ser ainda maior.

 Record e SBT, que em 2019 e 2020 ocuparam, respectivamente, a primeira e a segunda colocações, voltaram a ficar em segundo e terceiro lugar na lista de maiores pagamentos (veja mais detalhes no gráfico abaixo)

Em contraposição aos caixas mais cheios da Globo, as TVs religiosas, que falam com um dos eleitorados mais fiéis a Bolsonaro, viram minguar o dinheiro pago pela Secom para divulgação das atividades  do governo federal. Juntando as sete emissoras evangélicas e católicas que receberam verba do governo a partir de 2019, a quantia, que ficou estável entre 2019 e 2020 (de 3,8 milhões de reais para 3,2 milhões de reais), caiu neste ano para 1,1 milhão de reais – apesar de o ano ainda não ter acabado, é pouco provável que o valor destinado a elas fique próximo dos anos anteriores. 
 
Repasses da Secom para emissoras de TV 



A Sara Nossa Terra, rede de televisão de conteúdo evangélico com sede em Brasília, foi a que mais viu cair a sua arrecadação. Enquanto em 2019 os repasses da Secom chegaram a 1,9 milhão de reais, este ano o montante é até agora de apenas 331,1 mil reais. No ano passado, a emissora recebeu 1,2 milhão de reais.

Nova fase
A mudança na distribuição de verbas para publicidade ocorre após o TCU (Tribunal de Contas da União) ter divulgado, em agosto do ano passado, dados de uma auditoria que apontou falta de critérios técnicos no rateio do dinheiro. Um dos critérios que devem ser utilizados para essa divisão, por exemplo, é o da audiência – a Globo tem mais que Record e SBT.

O período também marca uma mudança na gestão. Em junho de 2020, Fábio Faria assume o recém-criado Ministério das Comunicações, que passa ter sob o seu guarda-chuva a Secom, então dirigida por Fabio Wajngarten, que acabaria deixando o posto em março de 2021. 
 

https://veja.abril.com.br/blog/maquiavel/governo-bolsonaro-aumenta-verba-da-globo-e-diminui-a-de-tvs-religiosas/


sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Incansáveis guardiãs da (ainda) maior reserva de araucárias do mundo

Mulheres Kaingang e Guarani enfrentam o agronegócio e sustentam a luta para manter a floresta em pé, travando batalha de gênero com os homens indígenas

Por Vanessa Neres | ODS 13, ODS 15 • Publicada em 17 de novembro de 2021 - 09:00 • Atualizada em 23 de novembro de 2021 - 09:13 
 
https://projetocolabora.com.br/wp-content/uploads/2021/11/araucarias-duda-menegassi.jpeg
As araucárias: Terra Mangueirinha, que guarda a maior reserva do mundo, está sob ataque. Foto Duda Menegassi/((oeco)))

Vozes da Floresta oferece bolsas-reportagens e mentorias para jovens comunicadores indígenas. Em 2021, quatro selecionados produziram reportagens abordando as discussões da COP26 e como elas impactam seus povos e territórios. O projeto tem apoio do British Council e parceria com o #Colabora e ((o))eco.

A Terra Indígena Mangueirinha, no sudoeste do Paraná, abriga 789 famílias, entre indígenas das etnias Kaingang e Guarani, que vivem ali há séculos, cercados pela maior reserva de araucárias do mundo. Preservar o inestimável patrimônio ambiental tem sido batalha tão dura como longeva – em 1947, a árvore representou perto de 80% da madeira exportada pelo Brasil. Hoje, no território indígena de 17.240 hectares, está uma das principais florestas da espécie, típica do Sul e do Sudeste.

O Brasil deve a sobrevivência das araucárias naquele trecho da baía do Rio Iguaçu às tenazes mulheres que vivem por lá. A conservação está diretamente ligada à luta dos Kaingang e dos Guarani Mbyá pelo direito à terra tradicional, garantido desde o início do século passado. Em 1903, por terem ajudado a construir estrada na região, os indígenas, receberam a escritura de toda a área, do governo estadual.

A partir da década de 1970, empresas exploradoras de madeira reivindicaram direitos sobre pedaços do território, estabelecendo litígio que se arrastou até 2005. Após uma década de estudos antropológicos e arqueológicos que comprovaram a ocupação original, a Justiça deu ganho de causa aos indígenas, formalizando a posse do território. Atualmente, a TI Mangueirinha é formada por seis aldeias: Passo Liso, Mato Branco, Paiol Queimado, Água Santa, Palmeirinha do Iguaçu e Aldeia Sede, onde estão as principais edificações, como escola, posto de saúde e posto da Funai.

Mas a luta parece que jamais encontrará um fim.

A floresta de araucárias é conhecida pelos indígenas como “mata preta” ou “pinhal preto”, integrando mosaico de vegetação com predominância da bracatinga, denominada “mata branca”. Com o passar dos anos e as mudanças de paradigmas referentes ao meio ambiente, a prática de abrir novas áreas para lavoura foi se tornando cada vez mais frequente entre os indígenas de Mangueirinha, consolidando a agricultura como uma das principais atividades econômicas. As lavouras ocupam hoje 14% do território.

A Terra Indígena Mangueirinha (em escuro no mapa): luta de mais de um século pela posse do território. Reprodução
A Terra Indígena Mangueirinha (em escuro no mapa): luta de mais de um século pela posse do território. Reprodução   

A Associação dos Produtores Indígenas de Mangueirinha (Aproinma) organiza e apoia a produção com agricultura mecanizada em áreas coletivas e individuais. Cerca de 104 hectares de lavoura comunitária (soja, principalmente) são cultivados exclusivamente para gerar renda, realizar a manutenção do maquinário e manter a associação. Para famílias que plantam menos de 6,6 hectares, o apoio prestado pela Aproinma é gratuito. A entidade ainda administra os recursos advindos do ICMS Ecológico, repassados pelas prefeituras de Mangueirinha, Coronel Vivida e Chopinzinho, destinados às áreas que possuem reservas florestais de conservação no Paraná.

O dilema entre manter a floresta em pé e ampliar a área da lavoura espreita as comunidades, gerando conflitos que separam até famílias nas aldeias. Hoje, a floresta de araucárias está reduzida a 3% de sua área original e menos de 1% pode ser considerada floresta primária. A devastação é resultado tanto do corte das árvores para fins madeireiros como para a abertura de áreas agrícolas, geralmente associadas a solos mais férteis, como a “terra roxa” do Paraná.

Fica com as mulheres a missão de salvar a floresta, protegendo o meio ambiente, para manter viva a TI Mangueirinha. Uma das guardiãs é a Kaingang Jociele Luiz, 29 anos, que estuda pedagogia e dá aulas na comunidade. Mãe de dois filhos, ela atua em causas indígenas desde a adolescência. “Muitas lutas são herdadas e a preservação é mais uma, não apenas obrigação de todo indígena, que nasce sabendo a importância da terra preservada”, aponta ela. “Muitas pessoas não veem que o compromisso com a preservação diz respeito a tudo que envolve a proteção da nossa biodiversidade. Tem a ver com a preservação da vida humana na Terra”.

A indígena observa os biomas se esvaindo de modo gradual mas constante – e se espanta quando chamam de desenvolvimento. “Não acredito que isso seja desenvolver, mas destruir. O que aprendi com minha mãe foi proteger os meus e o meu povo enquanto a maior parte da população não indígena pensa no agora, e os que pensam no futuro só se preocupam em deixar uma boa situação econômica para seus filhos”, analisa. “Mas aí pergunto: o que vale o dinheiro se você não vai poder comprar o ar e a água para o seu filho amanhã?”

O porvir motiva também o engajamento de outra Kaingang, Derci Alves. Ela ensina aos filhos a importância de viver em comunidade, para fortalecer a luta contra os preconceitos que espreitam os povos indígenas. “Nossa ancestralidade é maior, e nosso orgulho indígena precisa prevalecer”, convoca, garantindo sequer se lembrar quando começou a luta pelas araucárias. “Isso vem conosco, essa conexão com tudo que está na natureza, só lembro que quando ouvíamos o chamado, agasalhávamos os filhos e íamos, para protestar fechando a BR”.

Para Derci, a vida não faz sentido sem a proteção do território exatamente como é. “Lutamos contra muitos crimes, o genocídio, a fome entre outras pragas que estão aí para dizimar os povos indígenas”, lamenta, contando que a luta exige enfrentar as novas formas de destruição do solo sagrado. “Mas o bom é que muda dos dois lados – hoje temos muitas formas de denunciar o que afeta nossa comunidade”.

Jociele confirma. “Hoje a gente tem mais autonomia de sair dos nossos territórios para falar das nossas pautas; temos contatos com outros povos e discutimos formas de nos proteger”, lista. “Acima de tudo, podemos espalhar a semente da proteção do meio ambiente. Não estou falando só da minha aldeia, mas do planeta”.

 

"Onde estão as árvores que estavam aqui?", questionam indígenas da Mangueirinha: áreas de preservação de araucárias nativas. Foto Isadora Stentzler
“Onde estão as árvores que estavam aqui?”, questionam indígenas da Mangueirinha: áreas de preservação de araucárias nativas. Foto Isadora Stentzler

Nascida e criada na Mangueirinha, Carla Carneiro, também professora, se define como indígena em ascendência graças à educação. Mãe de uma filha, enxerga no ensino a ponte para transmitir a cultura e o respeito pelo sagrado por tudo que rodeia os povos tradicionais. “O ar, a água, as plantas, o alimento que cultivamos fazem parte de uma grande rede. O ar se conecta com as árvores que se conectam com o solo, que se conecta com a água, que se conecta com os seres vivos”, argumenta a indígena. “Se um dia uma dessas conexões acabar, toda a rede se perde, o que significará a extinção. Daí a importância da proteção de nossa floresta nativa. Parar de destruir o meio ambiente não basta! Temos de reflorestar, pois a partir do momento em que você planta uma árvore, está plantando água, ar – vida”.

A professora se divide em relação às políticas de preservação. Reconhece o potencial da teoria que está no papel, mas é cética sobre a transposição para vida real. “O impedimento para a proteção concreta está nos que deveriam aplicar as leis. Aquelas falas todas cultas adiantam pouco sem ações práticas”, critica. “Muitas políticas ajudam e muito os povos indígenas, mas precisa haver ajuda mais efetiva, mostrando, por exemplo que o desmatamento dá lucro, mas a preservação rende muito mais. Isso é pouco falado, não está nos meios de comunicação”, atesta.

Carla ainda lamenta o desequilíbrio na atenção às populações ameaçadas, muito concentrada na Amazônia. “Algumas políticas públicas deveriam englobar mais territórios e regiões. Não é só a Amazônia que tem povos indígenas”, sublinha. “Aqui no sul mesmo tem vários parentes que lutam quase solitários na preservação de nosso bioma para o futuro”.

Para outra guardiã, a dona de casa Roseli Carneiro Cipriano, o amanhã com a floresta em pé exige mais comprometimento dos governantes. “Eles não podem esquecer que sem os indígenas protegendo o meio ambiente, não vai sobrar nada”, sustenta ela, 58 anos. “Não luto por mim, mas por meus filhos e netos, por meu povo e também pelos homens brancos. A preservação não vai beneficiar apenas a nós”. Com tristeza, ela aponta que a preocupação está cada vez mais restrita aos povos da própria floresta. “Infelizmente só um povo luta pela vida de todos os povos. Uma pena, gostaria muito que os não indígenas tivessem a visão de que a terra não é apenas lucro, mas riqueza também”, ensina. “Ela nos dá vida. Quer algo mais valioso do que viver e não apenas tentar sobreviver?”

 

Do povo Kaingang, é influencer, comunicadora indígena e maquiadora. Graduanda de pedagogia na Universidade Estadual do Centro Oeste (Unicentro), leciona no ensino fundamental do Colégio Estadual Indígena Kokoj Ty Han Já, na Terra Indígena Mangueirinha (PR).

 

https://projetocolabora.com.br/ods13/incansaveis-guardias-da-ainda-maior-reserva-de-araucarias-do-mundo/

 

Corte Interamericana condena Brasil por feminicídio ocorrido em 1998

 

 Violência contra a mulher

 

 Ana Bardella De Universa | 25/11/2021 14h52

 

O ex-deputado estadual Aércio Pereira no juri popular que o condenou por homicídio - Francisco França - 2017/Jornal da Paraíba
O ex-deputado estadual Aércio Pereira no juri popular que o condenou por homicídio Imagem: Francisco França - 2017/Jornal da Paraíba

 

Na última quarta-feira (24) o Estado brasileiro foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por um caso de feminicídio ocorrido em 1998, em João Pessoa (PB). 


A jovem Marcia Barbosa de Souza, de 20 anos, negra e de recursos econômicos escassos, saiu do interior da Paraíba e se mudou para a capital em busca de emprego. Poucos dias depois da sua chegada, foi assassinada pelo então deputado estadual Aércio Pereira por asfixia. Seu corpo foi encontrado em um terreno baldio.


Na época, Aércio não se tornou réu do caso em razão da imunidade parlamentar: a ação penal só poderia ser instaurada com a autorização da Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba, que negou a continuidade do processo duas vezes. 


Aércio se reelegeu e permaneceu gozando de liberdade. Ele só foi julgado pelo crime cinco anos depois, quando recebeu uma sentença de 16 anos de prisão pelo homicídio e ocultamento de cadáver da jovem — na época, a legislação brasileira ainda não especificava esse tipo de crime como feminicídio.


A investigação apurou que o deputado havia feito uma ligação para o hotel na qual a jovem estava hospedada, oferecendo a ela um emprego em uma fábrica de sapatos. Horas depois, Márcia usou o celular dele para fazer uma ligação, na qual soava aflita e preocupada. Sua família foi avisada de que ela corria perigo, mas por falta de recursos financeiros, nenhum parente pode ir ao seu encontro naquela mesma noite. 


Em razão da idade avançada e de um estado de saúde debilitado, Aércio nunca chegou a ser detido. Ele faleceu cinco meses depois da sentença, em liberdade, por problemas cardiovasculares. Desde a noite do crime, a família da jovem busca por justiça.


Condenação do Brasil pela Corte Interamericana de Direitos Humanos 


O caso foi levado à Corte Interamericana de Direitos Humanos por meio do Gabinete Assessoria Jurídica Organizações Populares (GAJOP) e do Centro pela Justiça e Direito Internacional (CEJIL). Após o julgamento, a Corte reconheceu a responsabilidade do Estado brasileiro na violação de artigos da Convenção Americana sobre Direitos Humanos.


À Universa, Rodrigo Deodato, professor de direito da UNICAP de Pernambuco e representante da família da vítima no tribunal pelo GAJOP, explicou mais sobre a decisão. "O Estado foi condenado a constituir uma base de informações e estatísticas sobre a situação dos feminicídios no país, a fim de que eles sirvam como base para a constituição de políticas publicas", aponta. 


Além disso, o Brasil deve pagar uma indenização aos familiares de Márcia e o estado Paraíba deve estabelecer uma política pública de empregabilidade e profissionalização de mulheres. "Essa foi uma demanda apontada pelos parentes de Márcia, justamente por ela ter se mudado para a capital em busca de emprego", aponta Rodrtigo.


Por fim, pela primeira vez, a Corte Interamericana também estabeleceu parâmetros a serem considerados em relação à imunidade parlamentar, que, segundo Rodrigo, "não pode servir como manto para a impunidade". 


Embora as medidas sejam de caráter obrigatório, uma vez que o Brasil aceitou a jurisdição da Convenção Americana de Direitos Humanos, se comprometendo a cumpri-la, o professor relembra que nem sempre elas são respeitadas. "Por isso é importante ressaltar que o caso ainda não está encerrado. Agora tem início a terceira e última fase: a Corte começa a checar o cumprimento dos pontos resolutivos da sentença. Periodicamente, irá requisitar informações aos representantes das vítimas e ao Estado". 


Estratégia da defesa manchou a reputação da vítima


Consultada pela reportagem, a jurista Soraia Mendes, que também participou da análise do processo, chamou a atenção para a estratégia adotada pela defesa de Aércio Pereira, que visava prejudicar a imagem de Márcia.

 
"Existia uma busca incessante pela construção de uma figura da vítima como uma mulher usuária de drogas, prostituta, interesseira. Existem mais de 150 recortes de jornais fazendo menção ao caso, a maior parte deles contribuindo para a construção dessa imagem, de uma vítima que é, entre muitas aspas, 'merecedora' de morrer", aponta.


Rodrigo, que estava presente no julgamento de Aércio Pereira, chama atenção para o machismo presente na sociedade. "Márcia tinha 20 anos e um comportamento considerado à frente do contexto em que vivia. A defesa evocava sempre valores morais e elementos como o uso de bebidas, fumo e comportamento dito inadequado. Mas Márcia era uma jovem como qualquer outra. Apenas buscava viver ser feliz e dar uma nova oportunidade de vida para sua família. Isso foi usado pela defesa, que dava a entender que, se ela estivesse em sua casa, no interior — e não saído com um homem à noite — não teria sido estuprada e morta", finaliza.


https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2021/11/25/brasil-e-condenado-internacionalmente-por-feminicidio-ocorrido-em-1998.htm?utm_source=chrome&utm_medium=webalert&utm_campaign=universa&utm_content=211126002_78758

 

 

 última quarta-feira (24) o Estado brasileiro foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por um caso de feminicídio ocorrido em 1998, em João Pessoa (PB). A jovem Marcia Barbosa de Souza, de 20 anos, negra e de recursos econômicos escassos, saiu do interior da Paraíba e se mudou para a capital em busca de emprego. Poucos dias depois da sua chegada, foi assassinada pelo então deputado estadual Aércio Pereira por asfixia. Seu corpo foi encontrado em um terreno baldio.... - Veja mais em https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2021/11/25/brasil-e-condenado-internacionalmente-por-feminicidio-ocorrido-em-1998.htm?utm_source=chrome&utm_medium=webalert&utm_campaign=universa&utm_content=211126002_78758&cmpid=copiaecola
Na última quarta-feira (24) o Estado brasileiro foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por um caso de feminicídio ocorrido em 1998, em João Pessoa (PB). A jovem Marcia Barbosa de Souza, de 20 anos, negra e de recursos econômicos escassos, saiu do interior da Paraíba e se mudou para a capital em busca de emprego. Poucos dias depois da sua chegada, foi assassinada pelo então deputado estadual Aércio Pereira por asfixia. Seu corpo foi encontrado em um terreno baldio.... - Veja mais em https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2021/11/25/brasil-e-condenado-internacionalmente-por-feminicidio-ocorrido-em-1998.htm?utm_source=chrome&utm_medium=webalert&utm_campaign=universa&utm_content=211126002_78758&cmpid=copiaecola

Entenda por que a falta de titulação de terras quilombolas agrava conflitos no Maranhão

 

 

Dos 27 processos em aberto para análise técnica na Fundação Palmares, 19 são no estado do nordeste

Chineses e militares americanos desembarcam no Maranhão em busca de terras estratégicas para os lucros bilionários de seus negócios, enquanto quilombolas sofrem uma onda crescente de violência, despejos e ameaças.

A ampliação da base espacial de Alcântara, por meio da construção do Centro de Lançamento é um dos casos emblemáticos do estado, que ameaça a vida de quilombolas e, segundo o Mapa de Conflitos, já gerou violações ao direito de manutenção à cultura quilombola, insegurança alimentar, proibição de livre circulação no território, falta de acesso às políticas públicas de educação, saúde, saneamento básico e transporte, entre outras violências.

Dados disponibilizados em junho de 2021 pela Fundação Cultural Palmares (FCP), órgão federal vinculado ao Ministério da Cultura, apontam que de 27 processos em aberto para análise técnica de certificação de territórios quilombolas, mais da metade (19) são referentes a territórios no Maranhão.

Sem o efetivo direito à terra e com a cumplicidade do governo brasileiro, esses territórios são impactados por grileiros e grandes empreendimentos, a exemplo da duplicação da BR-135, da construção e ampliação de linhas de transmissão de energia elétrica e da ampliação do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), que ameaça a permanência e vida de 800 famílias de quilombolas e indígenas da região.

O quilombola João da Cruz, articulador do Movimento Quilombola do Maranhão (MOQUIBOM), explica que a titulação das terras está intimamente ligada à preservação da vida dos quilombolas.

 

Comunidades quilombolas do Maranhão em protesto contra remoções de áreas seculares / José Cruz / EBC

 

“Titulando as nossas terras, os nossos quilombos, dificilmente nós teremos esses conflitos, que todos os dias você vê falar, de quilombolas sendo mortos por todos os cantos. É disso que a gente depende para viver. Você vê que a gente resiste tanto, com companheiros morrendo a todas as horas, mas a gente resiste e não sai dos quilombos, mesmo com toda essa pressão em cima dos quilombolas e dos quilombos”, explica Cruz.

A pressão relatada por Cruz remonta, entre outros, ao assassinato brutal de Flaviano Pinto Neto, quilombola que hoje dá nome à comunidade Negro Flaviano, na baixada maranhense.

 “Essa é a luta que a gente faz diariamente, diuturnamente, para que a gente mantenha as nossas terras tituladas. E isso não é de hoje, são há 521 anos que a gente vem lutando. Morreram muitos como Zumbi, Dandara e outros ancestrais já deram suas vidas. Negro Flaviano, aqui e vários outros que já faleceram nessa batalha, lutando pelo bem viver, que significa a titulação dos nossos territórios.”

 

Flaviano Pinto Neto era líder da Comunidade quilombola do Charco, localizada no município de São Vicente Ferrer, no Maranhão. / Renata Neder


 

O território de Formoso, em Penalva (MA), região da baixada maranhense, é o que acumula o maior número de comunidades em fase de análise técnica no estado, bem como uma das áreas com maior incidência de conflitos.

Formoso é o nome de um lago da região, considerado o mais abundante e importante da região e, segundo a crença dos locais, é protegido por entidades espirituais, chamadas de Encantados, que vivem em suas ilhas flutuantes.

Para os quilombolas e estudiosos da área, a proteção mística e cultural dos encantados mantém o sustento das populações locais, a abundância das suas atividades produtivas e de subsistência com produtos extraídos dos próprios territórios.

Assessor do Fórum Carajás, entidade que tem atuado há mais de 10 anos em defesa de comunidades tradicionais do Maranhão, Mayron Régis reforça que o avanço dos conflitos de terras está relacionado ao agronegócio e à inércia dos governos.

“O agravamento dos conflitos nas terras quilombolas tem a ver com o avanço do agronegócio, legitimado tanto pelo governo federal, quanto pelo governo estadual. Essas comunidades quilombolas vivem nesses territórios há décadas, até mais de um século. É imprescindível que o Estado cumpra seu papel funcional de titular e regularizar as terras em nome das comunidades quilombolas”, denuncia.

 

Encantaria tem força no Maranhão e está ligada às relações com o território e modos de vida dos ancestrais / Mundicarmo Ferretti

 

O Iterma, por meio da Coordenadora da Comissão de Territórios Tradicionais do órgão, Anny Linhares, explica que a demora para a titulação das terras está relacionada a diversos elementos, tais como a grande demanda, os altos custos de pesquisas para a elaboração de diagnósticos, além da falta de recursos para a desapropriação de terras, que geram custos significativos para o poder público.

Anny aponta que por iniciativas estaduais, o Maranhão tem se destacado na implantação de políticas públicas em defesa das comunidades quilombolas e que, durante o governo Flávio Dino, garantiu um dos arcabouços jurídicos mais completos do Nordeste.

“É um dos arcabouços mais completos trabalhados no âmbito da região Nordeste. Atualmente somente o estado do Maranhão e o estado da Bahia apresentam um arcabouço jurídico completo, no que tange à lei, à regulamentação dessa lei e à instrução normativa aplicada no âmbito da instituição”.

Sobre os conflitos nos territórios, o Iterma garante que vem acolhido denúncias, levantado informações de situações de conflitos, efetuando os registros e orientado as comunidades no sentido de prevenção, denúncias e caminhos aos órgãos de defesa, trabalho esse publicado periodicamente no caderno Iterma Quilombos.

“Algumas informações são disseminadas de forma propositalmente erradas, para gerar medo, gerar desconfiança, desmobilizar grupos e criminalizar as lideranças. Então identificando essas situações e ouvindo diversas dúvidas no campo que pensamos em elaborar o caderno Iterma Quilombos”, explica.

Certificação e titulação

A chamada Certidão de Autodefinição de Comunidade Remanescente de Quilombo emitida pela FCP é o primeiro passo para a tentativa de garantir a titulação definitiva das comunidades, feita posteriormente pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

No estado, a Instrução Normativa Nº 01/2020 também concede ao Instituto de Colonização e Terras do Estado do Maranhão (Iterma) o reconhecimento, a delimitação, a demarcação e a titulação da propriedade dos territórios ocupados por comunidades quilombolas, sem prejuízo da competência comum e concorrentes da União e dos Municípios.

De acordo com dados da FCP, até o momento, foram identificadas no Maranhão 843 comunidades autodeclaradas quilombolas, sendo 590 com a garantia de certificação da Fundação. Com informações do Iterma, apuramos que somente 68 teriam a titulação definitiva, sendo 65 por meio do Iterma e 3 pelo Incra, ainda que na maioria dos casos a titulação não tenha vindo acompanhada de acesso às políticas públicas garantidas por lei e garantias de segurança.

Segundo dados publicados pelo Iterma, desde o ano de 2020, nenhum território quilombola do Maranhão recebeu titulação definitiva.

Por: Mariana Castro
Fonte: Brasil de Fato
Edição: Vinícius Segalla

 

https://amazonia.org.br/entenda-por-que-a-falta-de-titulacao-de-terras-quilombolas-agrava-conflitos-no-maranhao/