quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Guedes ajudou a economia do Brasil ou fracassou em 2020? Analistas comentam

 Economia



Antonio Temóteo/Do UOL, em Brasília/31/12/2020 04h00

O ministro da Economia, Paulo Guedes, não conseguiu fazer avançar no Congresso Nacional em 2020 a agenda de reformas fiscais para reequilibrar as contas públicas. Também as privatizações prometidas não evoluíram. As propostas de reforma administrativa e parte da tributária foram enviadas ao Legislativo, mas ainda não têm nem sequer relatórios apresentados.

Guedes também não conseguiu criar o programa social que substituirá o Bolsa Família, com a unificação de benefícios sociais e protagonizou disputas públicas com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e com o ministro do Desenvolvimento, Regional, Rogério Marinho. Por outro lado, a equipe econômica conseguiu reduzir parte do efeito negativo da pandemia de coronavírus na economia, liberando ajuda a empresas e trabalhadores. A avaliação é de especialistas ouvidos pelo UOL. Alguns dizem que Guedes ajudou o país, mas outros dizem que ele foi "incompetente". Veja em detalhes a seguir.

Guedes tem de dividir resultados com Maia


Os especialistas também afirmam que pelo segundo ano consecutivo Guedes teve de dividir o protagonismo com Maia. O presidente da Câmara ajudou na elaboração ou na aprovação das propostas para enfrentar a pandemia. Exemplos são o pagamento do auxílio emergencial, a liberação de crédito para empresas, a renegociação de dívidas e o programa de redução de salários e de jornada de trabalho.


Enquanto a queda do PIB (Produto Interno Bruto) ultrapassará 10% em vários países - entre os exemplos estão Espanha e Itália -, no Brasil, a retração é estimada em 4,5%. Mesmo que a redução do PIB seja menor que a de outros países, será a maior queda da história da economia brasileira em um único ano, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Pessimismo com recuperação econômica.

Mesmo que o governo e o Congresso tenham reduzido os danos econômicos em 2020, os especialistas estão pessimistas com a recuperação da economia em 2021, sobretudo no primeiro trimestre, sem o início da vacinação e com o fim do auxílio emergencial.

Até a Argentina, que é um país quebrado, já tem uma vacina. A população brasileira e os empresários têm medo de uma segunda onda do coronavírus, mas o Brasil não tem perspectiva de um programa de vacinação. O setor de serviços, o maior da economia, está abalado pela crise do coronavírus e pode sofrer de novo se nada for feito. Nova quarentena, com restrição de mobilidade, vai quebrar várias empresas.”

Margarida Gutierrez, economista e professora da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Danos foram reduzidos, mas desafios continuam.

Margarida Gutierrez declarou que as críticas feitas ao ministro da Economia, de que ele só prometeu e não cumpriu nada, são exageradas, já que a pandemia afetou todo o país. Ela afirmou que o Brasil terá uma das menores quedas de PIB em relação aos demais países.

Avaliar o Guedes é avaliar que o Brasil se sustentou bem durante a crise. Essa performance é melhor que a maioria dos países. Deve-se ao pacote fiscal e ao BC [Banco Central], que elevaram a liquidez e disponibilizaram quase R$ 3 trilhões. Somente o nosso pacote fiscal chega a R$ 620 bilhões, o equivalente a 8,5% do PIB. Sob esse ponto de vista, não podia ser melhor.”

Margarida Gutierrez.

Apesar de considerar o resultado positivo no combate à pandemia, Margarida afirmou que o desequilíbrio das contas do governo é recorde, e 2021 será um ano de redução de gastos públicos.

O problema é como equacionar isso e dar sustentabilidade para a dívida pública. As demandas sociais são imensas. Vão exigir uma calibragem da política fiscal [gastos do governo], econômica e retirada de estímulos. Estamos muito atrasados na vacinação. Teremos um primeiro trimestre ruim.”

Margarida Gutierrez..

A economista afirmou que o país precisará manter algum estímulo fiscal ou auxílio para os pobres, mas precisará aprovar as reformas fiscais para manter alguma credibilidade e se recuperar. A manutenção de benefícios sociais sem nenhuma aprovação de propostas pelo Congresso afundará o país em uma recessão, avalia.

Ministro não soube lidar com pandemia, diz economista.

O economista José Luís Oreiro, professor do Departamento de Economia da UnB (Universidade de Brasília), declarou que em 2020 chamou atenção o fato de Guedes "não ter a mais remota ideia do que fazer para lidar com a pandemia do coronavírus".

Segundo Orereiro, Guedes errou ao declarar em março que o Brasil liquidaria o coronavírus com R$ 5 bilhões. Além disso, ao sinalizar um auxílio emergencial de R$ 200, Guedes mostrou que estava perdido.

O ministro da Economia foi contra o auxílio emergencial. Queria um coronavoucher de R$ 200. O Congresso Nacional que votou a criação do auxílio de R$ 600, com o protagonismo do deputado Rodrigo Maia.”

José Luís Oreiro.

"Economista incompetente"

Guedes se mostrou incompetente. Também não tem a menor ideia do que fazer após a crise José Luis Oreiro.

O economista da UnB criticou a decisão de Guedes de tirar férias até janeiro enquanto o país está mergulhado em uma crise enorme. Ele afirmou que o governo e Guedes acreditam que em 1º de janeiro de 2021, como em um passe de mágica, a economia vai voltar a crescer e o vírus vai sumir.

O cenário para 2021 é uma economia sem auxílio emergencial, com aumento dos casos de coronavírus e sem nenhuma perspectiva de início da vacinação. Vai ser a tempestade perfeita em janeiro, fevereiro e março. Estamos indo par ao caos. Torço para que em 2021 a gente tenha outro ministro da Economia José Luís Oreiro.

Ano de brigas com Maia e Marinho

O ministro da Economia também protagonizou diversas brigas com o Maia e Marinho ao longo de 2020.

Em um deles, Guedes, afirmou, sem provas, de que havia boatos de que o presidente da Câmara fizera um acordo com a esquerda para não pautar as privatizações. Guedes também afirmou também que o debate sobre o tema está interditado. Maia rebateu dizendo que Guedes estava "desequilibrado"

Em outro episódio, Guedes afirmou em audiência pública no Congresso que a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) financiava estudos para "ministro gastador" furar o teto de gastos, em referência a Marinho.

O UOL obteve com exclusividade uma cópia do contrato que detalha o objetivo do estudo financiado pela Febraban e outras 10 entidades, citado por Guedes. A proposta prevê investimentos públicos e privados em obras de infraestrutura, mas não aponta estouro de gastos e apoia a "política liberal" do governo. Política liberal defende controle de gastos públicos.


https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/12/31/guedes-reformas-privatizacoes-danos-pandemia.htm?utm_source=chrome&utm_medium=webalert&utm_campaign=economia

Guedes tem de dividir resultados com Maia Os especialistas também afirmam que pelo segundo ano consecutivo Guedes teve de dividir o protagonismo com Maia. O presidente da Câmara ajudou na elaboração ou na aprovação das propostas para enfrentar a pandemia. Exemplos são o pagamento do auxílio emergencial, a liberação de crédito para empresas, a renegociação de dívidas e o programa de redução de salários e de jornada de trabalho. Enquanto a queda do PIB (Produto Interno Bruto) ultrapassará 10% em vários países - entre os exemplos estão Espanha e Itália -, no Brasil, a retração é estimada em 4,5%. Mesmo que a redução do PIB seja menor que a de outros países, será a maior queda da... - Veja mais em https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/12/31/guedes-reformas-privatizacoes-danos-pandemia.htm?utm_source=chrome&utm_medium=webalert&utm_campaign=economia&cmpid=copiaecola
Guedes tem de dividir resultados com Maia Os especialistas também afirmam que pelo segundo ano consecutivo Guedes teve de dividir o protagonismo com Maia. O presidente da Câmara ajudou na elaboração ou na aprovação das propostas para enfrentar a pandemia. Exemplos são o pagamento do auxílio emergencial, a liberação de crédito para empresas, a renegociação de dívidas e o programa de redução de salários e de jornada de trabalho. Enquanto a queda do PIB (Produto Interno Bruto) ultrapassará 10% em vários países - entre os exemplos estão Espanha e Itália -, no Brasil, a retração é estimada em 4,5%. Mesmo que a redução do PIB seja menor que a de outros países, será a maior queda da... - Veja mais em https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/12/31/guedes-reformas-privatizacoes-danos-pandemia.htm?utm_source=chrome&utm_medium=webalert&utm_campaign=economia&cmpid=copiaecola
Guedes tem de dividir resultados com Maia Os especialistas também afirmam que pelo segundo ano consecutivo Guedes teve de dividir o protagonismo com Maia. O presidente da Câmara ajudou na elaboração ou na aprovação das propostas para enfrentar a pandemia. Exemplos são o pagamento do auxílio emergencial, a liberação de crédito para empresas, a renegociação de dívidas e o programa de redução de salários e de jornada de trabalho. Enquanto a queda do PIB (Produto Interno Bruto) ultrapassará 10% em vários países - entre os exemplos estão Espanha e Itália -, no Brasil, a retração é estimada em 4,5%. Mesmo que a redução do PIB seja menor que a de outros países, será a maior queda da... - Veja mais em https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2020/12/31/guedes-reformas-privatizacoes-danos-pandemia.htm?utm_source=chrome&utm_medium=webalert&utm_campaign=economia&cmpid=copiaecola

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

O que é verdade e o que é fake sobre as vacinas contra a covid-19

 Bruna Yamaguti* postado em 29/12/2020 09:40 / atualizado em 29/12/2020 09:47

Especialistas respondem as principais fake news envolvendo as vacinas em produção e alertam para a importância do combate à desinformação

(crédito: Filippo Monteforte/AFP)


Meses após o início da pandemia que modificou o dia a dia do planeta, muitas perguntas ainda permanecem sem respostas. As vacinas em produção dão esperança, mas também causam aflição em parte da população, apesar de serem fundamentais para que o combate ao novo coronavírus seja efetivo. Segundo levantamento realizado pelo Ibope em agosto deste ano, 1 em cada 4 brasileiros pode não se vacinar contra a covid-19, e cerca de 34% dos entrevistados declararam pelo menos um motivo atrelado à desinformação.

Em 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o movimento antivacina como um dos maiores perigos sanitários do mundo e o incluiu no relatório que lista as dez maiores ameaças à saúde global. Outra pesquisa feita pelo grupo União Pró-Vacina (UPVacina), da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, aponta que houve um aumento de 383% em postagens com conteúdo falso ou distorcido sobre vacinas contra a covid-19 no Brasil nos últimos dois meses.

Pensando nisso, o Correio conversou com especialistas para sanar as principais dúvidas sobre o assunto e mostrar o que é verdade e o que é mentira sobre a tão aguardada, e por vezes temida, imunização.

Mitos e verdades sobre as vacinas contra a covid-19
(foto: Bruna Yamaguti/CB/D.A Press)

Algumas pessoas acreditam que um tipo específico de vacina contra a covid-19 — as de RNA mensageiro, produzidas pelas empresas Pfizer e Moderna — podem causar alterações no material genético humano. Essa crença, no entanto, não tem nenhum embasamento científico, uma vez que as fórmulas desses medicamentos sequer entram em contato com o nosso DNA.

“Essas vacinas já estão sendo estudadas há um tempo para outras doenças de agentes infecciosos, como o zika e a raiva. Elas consistem no uso de uma fita de RNA mensageiro, ou seja, que carrega uma ‘mensagem’ ou informação de como construir uma proteína. A proteína em questão é a proteína S da espícula do SARS-CoV-2. Ao receber a vacina, esses RNA mensageiros são entregues às células, que, com a instrução dada, produzem a proteína e a apresentam para o nosso sistema imune, que vai ‘treinar’ para reconhecê-la e montar uma resposta especializada para isso”, explica a biomédica e doutora em neurociências Mellanie Fontes-Dutra.

“Não existem comprovações científicas sobre alterações no nosso DNA promovidas por vacinas de RNA. Elas são rapidamente degradadas dentro de nossas células, após a leitura da informação para a construção das proteínas. Outra coisa que deve-se levar em conta são os compartimentos celulares em que o DNA e o RNA encontram-se, que são diferentes. O DNA fica no núcleo, uma região específica dentro da célula que tem uma regulação imensa do que entra e do que sai. Já o RNA mensageiro está no citoplasma, uma região externa ao núcleo”, completa a profissional.

Mitos e verdades sobre as vacinas contra a covid-19 (foto: Bruna Yamaguti/CB/D.A Press)

Essa teoria da conspiração ganhou força após o cofundador da empresa Microsoft Bill Gates declarar em uma entrevista que, eventualmente, "teremos alguns certificados digitais" para identificar quem se recuperou da covid-19, foi testado ou que recebeu a vacina, sem qualquer menção a microchips. A afirmação, contudo, foi suficiente para que uma série de boatos começassem a se espalhar pela internet e dessem origem à falsa notícia de que Gates planejava implantar microchips de rastreamento na população mundial.

Um argumento que tenta sustentar essa teoria faz referência a um estudo, financiado pela fundação do empresário, sobre uma “tinta invisível” que poderia ser aplicada na pele para identificar aqueles que já se vacinaram contra o coronavírus. O projeto funcionaria como um registro de vacinação, mas não teria tecnologia para permitir o rastreamento de pessoas, nem a inclusão de informações em banco de dados para vigilância.

Mitos e verdades sobre as vacinas contra a covid-19(foto: Bruna Yamaguti/CB/D.A Press)


Esse rumor afirma que algumas vacinas contra a covid-19 utilizam tecidos celulares de fetos abortados ou de tumores em suas formulações. A informação, porém, é falsa.

“As vacinas nunca trouxeram em suas composições resíduos de fetos abortados e tumores, muito menos agora que a ciência desenvolveu tecnologias cada vez mais de ponta e super atuais, com a máxima intenção de preservar vidas”, pontua o professor de epidemiologia da Universidade de Brasília (UnB) Wildo Navegantes de Araújo. “São tecnologicamente avançadas e inertes ao corpo humano”, acrescenta. 

Mitos e verdades sobre as vacinas contra a covid-19 (foto: Bruna Yamaguti/CB/D.A Press)


Em 1998, um médico britânico chamado Andrew Wakefield publicou um estudo desenvolvido por ele no qual afirmava que o autismo em crianças poderia ser causado pela vacina tríplice viral. No entanto, vários estudos realizados posteriormente a esta publicação comprovaram que as conclusões feitas por Wakefield estavam completamente erradas. O artigo foi retirado de circulação e, além disso, o médico perdeu seu registro profissional e foi culpado por má conduta ética, médica e científica. Na época, foi comprovado também, no tribunal, que havia conflitos de interesse envolvidos na pesquisa.

“Essa foi a primeira grande fake news envolvendo vacinas. O profissional que disseminou essa informação falsa teve que se retratar e perdeu o registro profissional dele. Devido à gravidade, até hoje sofremos as consequências disso. Foi realizado um estudo muito sério na Dinamarca com mais de 600 mil crianças, em uma avaliação bastante aprofundada, onde se descartou realmente essa associação entre as vacinas e o autismo”, conta a médica infectologista Valéria Paes.

Mitos e verdades sobre as vacinas contra a covid-19 (foto: Bruna Yamaguti/CB/D.A Press)


Algumas pessoas acreditam que certas vacinas, por carregarem o vírus inativado ou atenuado, podem ser as causadoras das doenças às quais foram destinadas a combater. Esse medo, porém, não tem qualquer embasamento científico.

“Em hipótese alguma as vacinas hoje disponíveis, ou em processo de fase III nas pesquisas registradas e acompanhadas pelos Comitês de Ética de Pesquisa em Seres Humanos nos diversos países, podem levar a infectar alguém com o SARS-CoV-2. O que pode acontecer é a situação em que uma pessoa já infectada, mas incubando o vírus naturalmente pego de alguém doente, venha a tomar a vacina. Ao desenvolver a doença, ela atribui à vacina tomada dias antes mas, na verdade, já seria o desenvolvimento da doença, que estava latente nesta pessoa”, explica o médico epidemiologista Wildo Navegantes de Araújo.

Mitos e verdades sobre as vacinas contra a covid-19 (foto: Bruna Yamaguti/CB/D.A Press)


Até o momento, temos mais de 200 imunizantes contra a covid-19 em estudo — 10 deles nas fases finais de teste — e algumas vacinas em produção. Antes de serem disponibilizadas à população, elas passam por uma série de testes minuciosos e extremamente cuidadosos. Confira a seguir quais são as etapas de uma nova vacina no Brasil, segundo o Instituto Butantan:

  1. Prova de conceito: prova o efeito da vacina sobre determinada doença;
  2. Pré-clínico em animais: esse efeito e todos os quesitos de segurança para a saúde são verificados em um primeiro grupo de indivíduos. Tudo é feito em BPL (Boas Práticas de Laboratório) com acompanhamento do Controle de Qualidade e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa);
  3. Estudos clínicos: a Anvisa autoriza o início dos estudos clínicos em seres humanos;
  4. Fase I: com um grupo de pessoas, nesta primeira fase testa-se a segurança do medicamento, levando em conta as reações que as substâncias podem causar no organismo;
  5. Fase II: os testes, neste momento são muito semelhantes ao anterior, porém o grupo testado é maior;
  6. Fase III: o grupo testado é ampliado para a avaliação da eficácia;
  7. Registro do produto na Anvisa: a última etapa é feita obedecendo aos seguintes critérios: avaliação do processo produtivo, certificação da fábrica e do produto e resultado de eficácia.
Mitos e verdades sobre as vacinas contra a covid-19 (foto: Bruna Yamaguti/CB/D.A Press)


Sim, é verdade que as vacinas, tanto as produzidas contra a covid-19, quanto quaisquer outras, possam causar algum tipo de reação adversa, dependendo do paciente. Porém, isso não é motivo para deixar de se vacinar, nem as torna menos seguras ou eficazes.

“As vacinas podem causar efeitos colaterais, porém são tão raros e leves, clinicamente falando, que o benefício acaba sendo muito maior que as possíveis reações adversas. Até o momento, os países que começaram a vacinar documentaram pouquíssimos casos de reação adversa, menos de 0.0001% de pessoas com reações leves”, afirma o epidemiologista Wildo Navegantes de Araújo.

“Com a imunização, milhares de casos graves e óbitos relacionados ao coronavírus serão evitados, além da retomada da economia das sociedades. Com certeza, valerá a pena tomar esta vacina”, arremata o profissional.

*Estagiária sob supervisão de Fernando Jordão


https://www.correiobraziliense.com.br/ciencia-e-saude/2020/12/4897446-o-que-e-verdade-e-o-que-e-fake-sobre-as-vacinas-contra-a-covid-19.html?utm_source=push&&utm_medium=push




segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Hospital Regional de Tucuruí recebe 10 novos respiradores e monitores para atendimento à Covid-19

 

Posted: 27 Dec 2020 03:26 PM PST

Os 10 Ventiladores Pulmonares e Monitores Multiparâmetro novos serão utilizados no combate à Covid-19, na região do Lago de Tucuruí



O Hospital Regional de Tucuruí - HRT, no sudeste do Pará, unidade administrada pela Organização Social Instituto Diretrizes, recebeu neste domingo (27/12), em Belém, uma remessa com 10 Ventiladores Pulmonares e Monitores Multiparâmetro novos, que serão utilizados no combate à Covid-19, na região do Lago de Tucuruí.

A Diretoria do Instituto Diretrizes, agradeceu ao governador Helder Barbalho e a Secretaria de Saúde do Pará, na pessoa do secretário Rômulo Rodovalho Gomes, pelo incansável empenho no combate ao Coronavírus, através das políticas de saúde e abastecimento das unidades hospitalares, com suprimentos, equipamentos e equipes profissionais.

“Os equipamentos recebidos refletem a preocupação do governador Helder Barbalho, através da Secretaria de Saúde com o atendimento à população. A tecnologia, aliada ao potencial humano, que encontramos no HRT, proporciona um atendimento digno e humanizado a todos”, disse a diretora técnica do HRT, Dra. Rafaela Butkowsky.

O diretor do HRT, Maílson Peixoto, fez agradecimentos à Secretaria de Saúde, à coordenação do Instituto Diretrizes e equipe guerreira do Hospital Regional de Tucuruí, que sempre têm se colocado à disposição da população, principalmente nestes últimos dias, em que houve um grande aumento na taxa de ocupação da UTI, que passará dos atuais 9 leitos, dando um salto para 19 leitos de UTI exclusivos para à Covid-19.

“Com o apoio de todos temos conseguido enfrentar a pandemia e dar assistência aos pacientes da região, através do constante diálogo com as equipes, que precisam de respostas urgentes para o atendimento aos pacientes”, afirmou o diretor.

Com a chegada dos novos equipamentos, o HRT passa a manter uma ala de UTI-Covid com 19 leitos e mais 9 leitos clínicos para a retaguarda. Ativada em maio deste ano, está ala se manteve ativamente em funcionamento no combate à pandemia, contando com equipe especializada e equipamentos modernos.

Para a diretora técnica do HRT, Dra. Rafaela Butkowsky, a união de todos, neste cenário caótico é importante, “a medicina é uma arte que deve ser praticada com amor, carinho e muito rigor.  A somatória de conhecimentos técnicos aliados à tecnologia, nos proporciona oferecer aos nossos pacientes um atendimento de melhor qualidade”, comenta.

O diretor de enfermagem do HRT, Lucas Evangelista, está acompanhando o recebimento dos novos equipamentos, que foram embarcados na manhã deste domingo, 27, em Belém, e seguem viagem para o município de Tucuruí.

Com a chegada dos respiradores e monitores, será questão de tempo, para a entrada em funcionamento dos novos 10 leitos de UTI Covid-19 totalmente equipados no Hospital Regional de Tucuruí.





http://jornaldetucurui.blogspot.com/2020/12/com-gestao-eficiente-hospital-regional.html?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+JornalDeTucuruERegio+%28Jornal+de+Tucuruí+e+Região%29

O Desmatamento da Amazônia Brasileira: 12 – Crescimento populacional e Dinâmica doméstica

 

Por Philip Martin FearnsidePublicado em: 28/12/2020 às 13:30




O aumento da população tem um efeito significativo no desmatamento da Amazônia brasileira [1]. No entanto, interpretar o relacionamento é mais complicado do que se possa imaginar. Estudos que examinam unidades políticas como países, estados ou municípios, ou unidades geográficas arbitrárias, como células de grade, encontrarão resultados sobre mudanças populacionais e taxa de desmatamento que vão em ambas as direções e concluirão que não há relação entre essas duas variáveis.

O primeiro passo para dar sentido a esses dados é remover a população urbana da análise. Embora a população urbana tenha um efeito, é muito diferente do efeito dos atores diretos do desmatamento. Em seguida, deve haver um desdobramento pelos diferentes atores rurais que estão presentes antes e depois da transformação do uso da terra em estudo, como o desmatamento em um determinado período. Esses dados não existem para o Brasil. A única solução é obter informações detalhadas de estudos de caso em locais específicos. É importante que os locais escolhidos sejam “típicos” de grandes áreas de desmatamento.

Os locais sendo convertidos em pastagens para pecuária na Amazônia brasileira representam uma prioridade óbvia. Duas questões-chave que afetam a relação entre população e desmatamento são: (1) quem são os atores, como fazendeiros versus pequenos agricultores, e (2) qual população e uso da terra está sendo substituído. Se a situação for de pequenos agricultores substituindo floresta “desocupada”, então uma população maior (de pequenos agricultores) se traduz em mais desmatamento. Se forem fazendeiros substituindo a floresta “desocupada”, então a mesma relação se aplica, embora o número de pessoas seja menor e a quantidade de desmatamento per capita seja muito maior. Se a situação for de pecuaristas substituindo pequenos agricultores, a população humana diminuirá e a taxa de desmatamento per capita aumentará, resultando em uma relação negativa entre mudança populacional e taxa de desmatamento.

Uma teoria sobre a população é que o aumento da migração rural-urbana resultará no abandono de grandes áreas que atualmente são usadas para agricultura e pecuária, levando ao estabelecimento de florestas secundárias e recuperação da biodiversidade [2]. Infelizmente, além da existência de migração rural-urbana significativa [3], esta teoria tem pouca semelhança com os eventos na Amazônia [4]. Quem migra para as cidades geralmente são ribeirinhos ou outros habitantes ao longo dos rios amazônicos que desmatam muito pouco. Se os atores maiores desistissem de suas operações e se mudassem para as cidades, suas terras seriam vendidas a outros que continuariam a usar as áreas desmatadas (às vezes com intervalos em sucessão secundária). A pastagem requer muito pouco trabalho uma vez estabelecida e uma pequena população pode ocupar uma área muito grande.

Dinâmica doméstica

Os processos familiares entre os pequenos agricultores resultam em desmatamento e os usos da terra nas áreas desmatadas mudarem seguindo padrões previsíveis na medida em que progride o ciclo-de-vida desde jovens casais com filhos pequenos até fases subsequentes [5-7]. Estes efeitos são, em grande parte, independentes de motivos de busca de lucro que podem ser usados como alavancas por programas de incentivo para mudar o comportamento de desmatamento. Estes incluem mudanças demográficas do agregado familiar e as circunstâncias econômicas de cada família [8]. No estágio do ciclo-de-vida familiar em que a capacidade de trabalho está no máximo, bem como a demanda de consumo para sustentar os dependentes, o desmatamento avança na velocidade máxima e é improvável que seja influenciado por intervenções políticas externas. A minimização dos riscos tem precedência sobre a maximização dos lucros [9]. [10]


A imagem que ilustra este artigo é mostra o limite da zona norte de Manaus com a floresta, é parte do ensaio Uma Certa Amazônia, de Alberto César Araújo/Amazônia Real


Notas

[1] Laurance, W.F., A.K.M. Albernaz, G. Schroth, P.M. Fearnside, S. Bergen, E.M. Venticinque & C. da Costa.2002. Predictors of deforestation in the Brazilian AmazonJournal of Biogeography 29: 737-748.

[2] Wright, S.J. & H.C. Muller-Landau. 2006. The future of tropical speciesBiotropica 38: 287–301.

[3] Parry, L., B. Day, S. Amaral & C.A. Peres. 2010. Drivers of rural exodus from Amazonian headwatersPopulation and Environment 32(2):137–176.

[4] Fearnside, P.M. 2008. Will urbanization cause deforested areas to be abandoned in Brazilian Amazonia? Environmental Conservation 35(3): 197-199.

[5] Perz, S.G. 2001. Household demographic factors as life cycle determinants of land use in the AmazonPopulation Research and Policy Review 20: 159-186.

[6] Perz, S.G. & R.T. Walker 2002. Household life cycles and secondary forest cover among small farm colonists in the AmazonWorld Development 30(6): 1009–1027.

[7] Walker, R.T., E. Moran & L. Anselin. 2000. Deforestation and cattle ranching in the Brazilian Amazon: External capital and household processesWorld Development 28: 683-699.

[8] Caldas, M.M., R. Walker, E. Arima, S. Perz, S. Aldrich & C. Simmons. 2007. Theorizing land cover and land use change: The peasant economy of Amazonian deforestationAnnals of the Association of American Geographers 97(1): 86–110.

[9] Walker, R.T., S. Perz, M. Caldas & L.G.T. Silva. 2002. Land use and land cover change in forest frontiers: The role of household life cyclesInternational Regional Science Review 25(2): 169–199.

[10] Esta série é uma tradução atualizada de: Fearnside, P.M. 2017. Deforestation of the Brazilian Amazon. In: H. Shugart (ed.) Oxford Research Encyclopedia of Environmental Science. Oxford University Press, New York, EUA.


Leia os outros artigos da série:

O Desmatamento da Amazônia Brasileira: 1 – Resumo da série

O Desmatamento da Amazônia Brasileira: 2 – O que é desmatamento?

O Desmatamento da Amazônia Brasileira: 3 – Por que o desmatamento é importante?

O Desmatamento da Amazônia Brasileira: 4 – Detecção por satélite

O Desmatamento da Amazônia Brasileira: 5 – Ciclos econômicos e especulação imobiliária

O Desmatamento da Amazônia Brasileira: 6 – Commodities e governança

O Desmatamento da Amazônia Brasileira: 7 – Incentivos fiscais e Posse de terra

O Desmatamento da Amazônia Brasileira: 8 – Lavagem de dinheiro, exploração madeireira e mineração

O Desmatamento da Amazônia Brasileira: 9 – Estradas

O Desmatamento da Amazônia Brasileira: 10 – Soja

O Desmatamento da Amazônia Brasileira: 11 – Pecuária


Philip Martin Fearnside

É doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan (EUA) e pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM), onde vive desde 1978. É membro da Academia Brasileira de Ciências. Recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC), em 2007. Tem mais de 600 publicações científicas e mais de 500 textos de divulgação de sua autoria que podem ser acessados aqui. https://philip.inpa.gov.br














domingo, 27 de dezembro de 2020

Governo do Pará anuncia mais leitos e novo decreto com medidas restritivas no réveillon

 


Neste mês de dezembro, houve um aumento na busca por leitos de UTI e de atendimento clínico de casos do novo coronavírus

Enize Vidigal - 26.12.20 13h25




Neste mês de dezembro, o Pará teve o maior índice de demanda por leitos de UTI e de atendimento clínico desde julho, com 356 pedidos de vagas registrados até este sábado, 26. Em razão disso, o governador Helder Barbalho anunciou o aumento preventivo da oferta de leitos – em mais 55 de UTI e 10 clínicos -, o ajuste no bandeiramento das regiões do Tapajós e do Xingu, que passaram do amarelo para o laranja (risco médio) e, ainda, a publicação de um novo decreto mais restritivo, na segunda-feira, 28. As forças de Segurança Pública irão atuar para cumprir decisões judiciais e decretos, priorizando o que for mais restritivo, ressaltou Helder.


 Atualmente, o Pará contabiliza 289.795 casos confirmados, dos quais 270.836 se recuperaram e 7.124 óbitos confirmados por Covid-19. “Em junho chegamos a 67.149 casos, teve queda até novembro, com 18.148 casos. Já em dezembro, no dia 26, já tivemos 400 casos a mais do que novembro. Portanto, há uma curva de ascendência comparado ao mês de novembro. É por esta razão que nos leva à preocupação à ação preventiva para proteger a população”, disse o governador em live realizada na manhã deste sábado.

O objetivo é evitar medidas mais restritivas, como o lockdown enquanto não é possível imunizar a população. “Para que não esperemos chegar o caos, uma medida de um passo atrás nas restrições e no bandeiramento são fundamentais (...) Iremos agir para ter controle sobre o cenário epidemiológico, sobre o quadro da estrutura hospitalar aos pacientes de Covid e que isso não venha a impactar em outras estratégias de saúde demandadas pela população”.

“Desde de julho, viemos para próximo à normalidade da vida das pessoas. Suportamos com estabilidade as férias, o Círio – mesmo tendo sido diferente, mas com aglomerações –, eleições com bastante aglomeração nos 144 municípios e festas de natal. Todo esse calendário nos permitiu observar a estabilidade no quadro. Porém, as projeções fazem necessário que tomemos medidas restritivas severas que possam impactar diretamente no dia a dia das pessoas e ainda mais na economia do nosso estado”, anunciou Helder. “Não podemos imaginar q pelo fato da vida ter voltado quase à normalidade, não há mais perigo entre nós”.

Bandeiramento por regiões no Pará  (Reprodução YouTube Governo do Pará)

O Secretário Adjunto de Gestão de Políticas de Saúde, Sipriano Ferraz, que também participou da live, disse que o estado estava com quadro de estabilidade devido à redução do número de casos, óbitos e internações até novembro, e, por isso, o número de leitos disponíveis chegou a ser reduzido. O hospital de retaguarda do Hangar, por exemplo, chegou a ter 420 leitos e passou para 160. “Nos últimos dias observamos tendência de variação que pode nos preocupar nos próximos 30 dias”, disse. Atualmente, estão ocupados 66% dos leitos de UTI e 41% dos leitos clínicos.

“Precisamos agir de forma pró-ativa e já deixar a retaguarda de leitos pronta caso se concretize o que as curvas de tendência estão mostrando. Não podemos descuidar, fomentar aglomeração, deixar de usar máscara, lavar as mãos e usar álcool em gel. Essas medida vão nos dar suporte para tentar barrar a tendência de aumento de Covid no estado”, destacou Sipriano.

Região Metropolitana

O reitor da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Marcel Botelho, que integra um grupo de pesquisadores de várias universidades e de especialistas da Saúde (Sespa), ressaltou, na live, que a situação é de estabilidade na avaliação do conjunto do estado. Porém, na análise por região, verifica-se a redução na demanda hospitalar somente na área Metropolitana de Belém e tendência de aumento nas demais regiões.

Sipriano e Helder completaram que o Hangar recebe grande parte dos pacientes de outras regiões que precisam de leitos clínicos e de UTI, especialmente vindos do Marajó Oriental e de parte do Nordeste Paraense, já que é o hospital de referência no atendimento de Covid no estado.

Bandeiramento

O bandeiramento nas regiões paraenses sofreu reajuste. A oferta e demanda por leitos hospitalares, a disponibilidade de equipamentos e material hospitalar são consideradas no bandeiramento, que vai do azul (risco mínimo- taxa de transmissão mínima e alta capacidade de resposta do sistema de saúde), passando pelo verde (risco baixo- taxa de transmissão baixa e alta capacidade de resposta), amarelo (risco intermediário- taxa de transmissão intermediária e média capacidade de resposta), laranja (risco médio- taxa de transmissão média e média capacidade de resposta) até o vermelho (risco alto- taxa de transmissão alta e baixa capacidade de resposta do sistema de saúde).

Houve mudança na classificação do Tapajós e do Xingu, que estavam em amarelo e passaram para o laranja, conforme anunciou o coordenador do programa Retoma Pará, Adler Silveira. Enquanto, a RMB, Baixo Tocantins e Marajó Oriental continuam no bandeiramento verde; o Araguaia e o Baixo Amazonas se mantém no laranja; enquanto Carajás, Nordeste e Marajó Ocidental se mantém em emarelo.

Sobre a mudança no bandeiramento do Tapajós e Xingu, o governador explicou que foi considerada a avaliação sobre o baixo percentual da população que teve contato com o vírus, cerca de 15%, que é a menor do estado. “A RMB chegou a 42% de contágio. E no Xingu e Tapajós variando em 15%, ou seja, o maior número de pessoas está exposta a vir a ter contato com o vírus”.

Decreto e Fiscalização

“Mediante o novo bandeiramento, decisões se fazem necessárias. Estaremos comunicando no Diário Oficial do Estado de segunda-feira (28/12) algumas medidas restritivas que dizem respeito fundamentalmente a aglomerações de pessoas em eventos coletivos”, anunciou o governador, sem maiores detalhes.

“Na capital temos um decreto municipal que proíbe festas a partir das 18h do dia 31 e será cumprido. Nos demais (municípios) vamos permitir 50% da ocupação da capacidade dos estabelecimentos, mas com limite de até 200 pessoas”, disse.

Em outro momento da live, o governador afirmou que as regiões terão festas limitadas a um número menor de pessoas, dependendo do bandeiramento: “Onde o bandeiramento passa para amarelo, como por exemplo Salinas, Bragança e Algodoal, estamos limitando a 30% a ocupação de cada estabelecimento ou até 150 pessoas”.

O secretário de Segurança Pública, Uálame Machado, assegurou na live que o novo decreto estadual vai trazer “exigências que serão rigorosamente cumpridas”. Ele afirmou que haverá fiscalização para que as decisões judiciais e decretos municipais e estaduais sejam cumpridos e que será dada prioridade às medidas que forem mais restritivas.

“Temos decisões judiciais em Mosqueiro, Salinas e Santarém e decretos municipais que estabelecem regras mais rigorosas. Em Mosqueiro, há decreto municipal que proíbe o funcionamento dos estabelecimentos a partir de 18 horas do dia 31. Em Salinópolis, há decisão de eventos para até 150 pessoas e alguns estabelecimentos conseguiram liminar para 50% da capacidade, o que pode ser uma capacidade para 1 mil pessoas. Fiscalizaremos o Nordeste, em especial Salinas, observando o limite que for definido no decreto estadual com até 150 pessoas, observando o protocolo de disponibilização de álcool, uso de máscaras e distanciamento”.

 “O Pará está com a média de 37% de isolamento nos dias comuns e 45% nos feriados. Nos preocupa o retorno dos eventos comerciais e privados em residências. Estamos com a operação ‘Festas Seguras’ em andamento, porém focado muito na preservação de vidas com segurança e cumprimento de protocolo (sanitário). Estamos com equipes nos principais balneários”, falou o secretário.

https://www.oliberal.com/para/governador-do-para-anuncia-mais-leitos-e-novo-decreto-com-medidas-restritivas-no-reveillon-1.339646?fbclid=IwAR3OcegRCyo8ExbrrBYTeIsGsnJ2qp5BkMC7poEWTgsVwBpsarNgNLvrz1I



quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Assassinatos de jornalistas mais que dobram em todo o mundo

 



Os homicídios retaliatórios de jornalistas tiveram um aumento global significativo em 2020 em comparação ao ano anterior, mas as mortes em coberturas de guerra caíram drasticamente. Um relatório especial do CPJ por Jennifer Dunham

22 de dezembro de 2020

NOVA YORK

O número de jornalistas assassinados em retaliação por seu trabalho mais do que dobrou em 2020, quando grupos de criminosas ou de militantes visaram repórteres que trabalham em países violentos, mas democráticos. 

Globalmente, pelo menos 30 jornalistas foram mortos em 2020; 21 deles foram alvo de  assassinato em represália por seu trabalho, um salto em relação aos 10 assassinatos do ano anterior, enquanto os demais foram mortos em combate ou fogo cruzado, ou em outra missão que se tornou perigosa. Um trabalhador de mídia também foi morto. México,  Afeganistão e as Filipinas tiveram o maior número de homicídios retaliatórios.

O CPJ ainda está investigando as mortes de outros 15 jornalistas em todo o mundo para determinar se o motivo foi o jornalismo. Os números refletem o período de 1º de janeiro a 15 de dezembro de 2020, e o total de assassinatos se compara a 26 jornalistas mortos com motivo confirmado em todo o ano de 2019 – que foi o menor nos registros do CPJ desde 2000.

Enquanto os assassinatos aumentaram em 2020, o número de mortes relacionadas ao combate – três – caiu para o nível mais baixo desde 2000, conforme a intensidade dos conflitos no Oriente Médio diminuiu e a pandemia de COVID-19 dominou a atenção da mídia e tornou difícil para os jornalistas viajarem. Os três jornalistas foram mortos documentando a continuação do conflito perto de Idlib, no norte da Síria, e em decorrência de ataques aéreos por supostas forças russas aliadas ao regime do presidente sírio Bashar al-Assad.

Funcionários e apoiadores da ABS-CBN, a maior rede de TV das Filipinas, se manifestaram em frente à sede em Quezon City em 10 de julho de 2020. Antes que os legisladores rejeitassem a renovação da licença e a fechassem, o presidente Rodrigo Duterte ameaçou a emissora por sua cobertura crítica. (AP / Aaron Favila)



No México, pelo menos quatro jornalistas foram alvos de assassinato em 2020, e mais um foi morto a tiros enquanto cobria uma cena de crime; o CPJ está investigando o motivo de ao menos quatro outras mortes de jornalistas. O México é há muito o país mais perigoso do hemisfério ocidental para a imprensa, que opera em meio a uma complexa teia de criminosos, grupos de tráfico de drogas e corrupção oficial arraigada.

Quando assumiu o cargo em dezembro de 2018, o presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador se comprometeu a tomar medidas concretas para acabar com a violência contra a imprensa e a impunidade por assassinatos de jornalistas. No entanto, esse ciclo continua inabalável, conforme constatou o CPJ em seu mais recente Índice Global de Impunidade, que destaca os países onde jornalistas são assassinados e seus homicidas ficam em liberdade. Na maioria dos casos, nenhum suspeito foi condenado, de acordo com as pesquisas do CPJ, e os mandantes continuam em liberdade. López Obrador raramente se envolveu com o CPJ e outras organizações de liberdade de imprensa e da sociedade civil, e desacreditou a mídia mexicana em suas coletivas de imprensa matinais diárias, a exemplo da cartilha do presidente dos EUA, Donald Trump – uma postura vista com consternação pela comunidade de jornalistas do país diante dos perigos que enfrentam.

Pelo menos dois dos jornalistas assassinados em 2020 estavam inscritos no Mecanismo Federal para a Proteção de Defensores dos Direitos Humanos e Jornalistas, um programa para fornecer medidas de segurança a jornalistas sob ameaça, e em ambos os casos, seus guarda-costas designados também foram mortos – destacando as fragilidades do mecanismo. Em 2020, o Congresso mexicano se empenhou para eliminar o fundo fiduciário federal por meio do qual as medidas de proteção são financiadas, e transferir o controle desses fundos diretamente para a Secretaria do Interior, deixando-os vulneráveis ​​a caprichos políticos e troca de favores.

Um dos jornalistas inscritos neste organismo de proteção era Pablo Morrugares. Após seu assassinato em agosto – no qual ele foi baleado com seu guarda-costas, dentro de seu próprio restaurante em Iguala, no estado de Guerrero – um grupo do crime organizado enviou ameaças a uma grande parcela dos jornalistas da cidade. Em outubro, os jornalistas escreveram uma carta aberta às autoridades mexicanas, incluindo López Obrador, detalhando as ameaças e pedindo proteção. Um dos jornalistas disse ao CPJ: “Nunca os vi atacar e perseguir a mídia como fazem agora”.

Nas Filipinas, pelo menos três jornalistas foram assassinados em retaliação por seu trabalho em 2020, apesar dos esforços da Força-Tarefa Presidencial para a Segurança da Mídia, um órgão estatal que o presidente Rodrigo Duterte criou há quatro anos para solucionar homicídios de trabalhadores ligados à área. Duterte e seu governo alegaram ter feito progressos no combate à impunidade, mas não foi o caso, deixando de processar os mentores dos assassinatos e – como López Obrador – minando a imprensa com retórica hostil, principalmente do próprio Duterte.

Em Honduras, onde a violência e as ameaças à mídia pelo crime organizado e o fraco estado de direito geraram um clima de medo e autocensura, pelo menos dois jornalistas foram assassinados em 2020, e o CPJ está investigando o motivo de um outro homicídio.

Afegãos carregam o caixão da jornalista Malalai Maiwand, que foi baleada e morta a caminho do trabalho em Jalalabad, Afeganistão, em 10 de dezembro de 2020. Pelo menos quatro jornalistas e um funcionário da mídia foram assassinados em represália por seu trabalho no país em 2020 . (Reuters / Parwiz)



Apesar da redução nas mortes relacionadas ao fogo cruzado, os países em conflito continuam extremamente perigosos para a mídia. Grupos militantes alvejaram pelo menos quatro jornalistas que foram  mortos em retaliação por seu trabalho no Afeganistão, um salto significativo depois que nenhum assassinato foi relatado em 2019. No início de dezembro, Malalai Maiwand, repórter da Rádio e TV Enikass na província de Nangarhar, foi baleado a caminho do trabalho, junto com seu motorista, Mohammad Tahir. O grupo do Estado Islâmico assumiu a responsabilidade pelo ataque, que ocorreu quando representantes do governo afegão e do grupo militante Talibã concordaram com uma agenda para avançar com as negociações de paz no Catar.

Um caso de assassinato direto e público de um jornalista por um governo ocorreu em 12 de dezembro, quando o Irã executou o jornalista Roohollah Zam por enforcamento após sentenciá-lo à morte. O site de Zam e o canal do Telegram, Amad News – que ele administrou desde o exílio – relatou criticamente sobre as autoridades iranianas e compartilhou os horários e locais dos protestos em 2017; o Telegram fechou o canal no final de 2017, mas a conta mais tarde ressurgiu com um nome diferente. O CPJ classifica a morte de Zam como um assassinato, com base na metodologia que define o homicídio como o assassinato seletivo de um jornalista em represália direta por seu trabalho. Agentes da inteligência iraniana detiveram Zam no Iraque, em outubro de 2019, e o levaram para o Irã, segundo pesquisa do CPJ; as autoridades exibiram um vídeo dele se desculpando em uma televisão estatal. Ele foi condenado e sentenciado à morte em junho por 17 acusações, incluindo espionagem, espalhar notícias falsas no exterior e insultar os valores islâmicos e o líder supremo; a sentença foi confirmada em 8 de dezembro. Ao anunciar sua execução, a mídia estatal iraniana referiu-se a Zam como “o líder dos motins”, referindo-se aos protestos no país em 2017, segundo a The Associated Press.

O Irã há muito usa duras sentenças de prisão para censurar a imprensa e havia 15 jornalistas na prisão, incluindo Zam, na época do censo prisional do CPJ em 1º de dezembro de 2020. Os registros do CPJ contam com quatro outros jornalistas mortos no Irã desde 1992; três deles sob custódia do governo ou por ferimentos sofridos durante a detenção.

O clima global de impunidade e a perigosa retórica contra a imprensa surge em meio à abdicação dos EUA da liderança global na defesa da liberdade de imprensa sob o presidente Trump. Em vez de defender os jornalistas e a liberdade de imprensa, em princípio, a abordagem do governo Trump é oportunista: falar abertamente sobre as ações do Irã, mas deixar de condenar o governo saudita e o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman por seu papel no assassinato em 2018 do colunista do Washington Post Jamal Khashoggi é o exemplo mais flagrante. No mês passado, o CPJ publicou uma proposta para o próximo governo de Joe Biden sobre a restauração da liderança dos EUA, incluindo a nomeação de um enviado presidencial especial para a liberdade de imprensa autorizado a falar sobre violações em todo o mundo; reconstruir as instituições do Departamento de Estado que tradicionalmente apoiaram a liberdade de imprensa; e o envio de uma diretiva às embaixadas dos EUA de que a liberdade de imprensa é uma prioridade da política externa.


Nesta foto de 2 de junho de 2020, o jornalista Roohollah Zam fala durante seu julgamento no Tribunal Revolucionário de Teerã. As autoridades condenaram Zam à morte e, em 12 de dezembro de 2020, o executaram. (Ali Shirband / Agência de Notícias Mizan via AP)




O ano de 2020 também testemunhou uma agitação política global generalizada, e jornalistas sofreram violência ao cobrir esses eventos. Em janeiro, no Iraque, o repórter de TV Dijlah Ahmed Abdul Samad e o operador de câmera Safaa Ghali foram mortos a tiros enquanto cobriam protestos na cidade de Basra, no sul do país, contra a falta de serviços básicos, o desemprego e a corrupção governamental. E o jornalista nigeriano Onifade Emmanuel Pelumi foi morto durante uma reportagem sobre os distúrbios em Ikeja, no sudoeste do estado de Lagos. Um número recorde de jornalistas foi preso por causa de seu trabalho em 2020, quando os governos reprimiram a cobertura do COVID-19 ou tentaram suprimir as reportagens sobre agitação política, de acordo com a pesquisa do CPJ.

pandemia COVID-19 também forçou os jornalistas a se adaptarem constantemente a orientações de segurança que periodicamente mudavam e às restrições a viagens e movimentos estabelecidas pelas autoridades locais. Além do impacto sobre a forma como repórteres e fotojornalistas realizam seu trabalho, como documentado pelo CPJ, o vírus representa riscos extremos à saúde dos que estão presos em decorrência de seu trabalho. Pelo menos dois jornalistas morreram após contrair coronavírus sob custódia – David Romero em Honduras e Mohamed Monir no Egito – enquanto um terceiro, o laureado pelo Prêmio Internacional de Liberdade de Imprensa do CPJ em 2012, Azimjon Askarov, morreu de uma enfermidade que sua família suspeitava ser COVID-19 enquanto cumpria pena de prisão perpétua no Quirguistão. A lista de jornalistas mortos do CPJ não inclui aqueles que morreram de doença.

Outras constatações da pesquisa do CPJ incluem:

● Grupos criminosos foram os principais suspeitos de assassinar jornalistas em 2020, enquanto a cobertura política foi a área mais perigosa.

● Duas mulheres estão na lista dos jornalistas mortos: Maria Elena Ferral Hernández no México e Malalai Maiwand no Afeganistão.

● Um trabalhador da mídia foi assassinado, o motorista da Rádio e TV da Enikass, Mohammad Tahir, morto junto com Maiwand no Afeganistão. O CPJ começou a documentar em 2003 os assassinatos desses profissionais essenciais ao jornalismo, que também incluem tradutores, fixers e funcionários administrativos.

● O fotojornalista Christoff Griffith, morto em junho durante a cobertura de uma cena de crime pelo suposto perpetrador, foi o primeiro jornalista registrado pelo CPJ como assassinado em relação ao seu trabalho em Barbados.

Metodologia

O CPJ começou a compilar registros detalhados de todas as mortes de jornalistas em 1992. Os funcionários do CPJ investigam e verificam independentemente as circunstâncias por trás de cada morte e é considerado um caso relacionado ao trabalho somente quando sua equipe tem razoável certeza de que um jornalista foi morto em represália direta por seu exercício informativo; em fogo cruzado relacionado a combate; ou ao realizar uma missão perigosa, como cobrir um protesto que se torna violento.

Se os motivos do assassinato não são claros, mas é possível que a morte de um jornalista tenha relação com seu trabalho, o CPJ classifica o caso como “não confirmado” e continua investigando.

A lista do CPJ não inclui jornalistas que morreram de doença, em acidentes de carro ou avião, a menos que o acidente tenha sido causado por ação hostil. Outras organizações de imprensa, usando critérios distintos, citam números diferentes de mortes.

O banco de dados de jornalistas mortos em 2020 do CPJ inclui relatórios resumidos sobre cada vítima e filtros para examinar tendências nos dados. O CPJ mantém um banco de dados de todos os jornalistas assassinados desde 1992 e daqueles que desapareceram ou foram presos por seu trabalho.

Jennifer Dunham é vice-diretora editorial do CPJ. Antes de ingressar no CPJ, foi diretora de pesquisas dos relatórios da Freedom House sobre Liberdade no Mundo e  Liberdade de Imprensa.


https://cpj.org/pt/reports/2020/12/assassinatos-de-jornalistas-mais-que-dobram-em-todo-o-mundo/?fbclid=IwAR0o9h1kNbP9onLnh526-D_WN7Qxz2ubueDJiDB_fr-ApacVV-3gYzPEBgs