domingo, 30 de janeiro de 2022

Na maior UTI de Covid-19 do Brasil, mais de 90% dos casos graves são em não vacinados

 

 O Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, no Rio, havia dado alta ao último paciente com coronavírus em novembro de 2021, e sua equipe esperava que o pior tivesse passado. Durou pouco. Em janeiro, os casos graves explodiram

Ana Lucia Azevedo e Fotos de Márcia Foletto | 30/01/2022 - 03:30 / Atualizado em 30/01/2022 - 11:07

Na última quinta-feira, o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla , no Rio, estava com 350 dos seus 420 leitos dedicados a pacientes com Covid- 19 Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo
Na última quinta-feira, o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla , no Rio, estava com 350 dos seus 420 leitos dedicados a pacientes com Covid- 19 Foto: Marcia Foletto / Agência O Globo   

RIO — A Ômicron gerou pandemias dentro da pandemia. A primeira é uma onda que pega muita gente, mas, graças às vacinas, a maioria casos sem gravidade. A segunda pandemia é a das pessoas não vacinadas ou apenas com o esquema vacinal incompleto. Para elas, a Ômicron tem potência de tsunami e se mostra tão devastadora quanto as variantes anteriores do vírus.

A face agressiva da Ômicron é visível nos leitos de UTI do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Ela está expressa nos rostos dos pacientes intubados e ligados a máquinas. Está estampada na angústia daqueles fora do tubo, mas prostrados, sem forças para reagir ao ataque da Covid-19 e cientes da gravidade de seu estado.

A maioria dos casos de Covid-19 que agrava e mata — mais de 90% — é de não vacinados ou indivíduos com vacinação incompleta, mostram dados do hospital, que, por seu tamanho, é um microcosmo da pandemia no Brasil.

A Covid-19 grave da Ômicron é como a da Delta e a da Gama das ondas anteriores da pandemia: tira o ar, rouba as forças, inflama, infesta o corpo com trombos. Não há som nas salas de UTI do Gazolla, além daqueles dos equipamentos. Para quem adoece, 2022 chegou como uma volta ao pior de 2020.

A Ômicron aparentemente tem um menor potencial de levar ao agravamento. Mas observamos que os casos que evoluem para uma maior gravidade são os de não vacinados ou com esquema vacinal incompleto (sem a terceira dose). Muitos deles estão intubados ou à beira de ir para a intubação. Quando a Covid-19 da Ômicron agrava, é como a das demais variantes — afirma o diretor do Gazolla, Roberto Rangel.

Nesses pacientes sem proteção de vacina se vê com nitidez o comprometimento pulmonar severo e o padrão de vidro fosco, com opacidades. Estão lá as alterações fisiopatológicas típicas das demais variantes do coronavírus, como trombos disseminados. Tudo isso se traduz em intenso sofrimento, oculto sob o jargão médico de desconforto respiratório e síndrome respiratória aguda grave.

— Temos uma população muito vacinada e, por isso, se criou uma ilusão que a Ômicron é leve. Mas, para quem não tomou vacina, é tão perigosa quanto as outras variantes. Temos uma pandemia de doença leve para os vacinados e outra grave para quem não quis se vacinar ou está com o esquema incompleto — enfatiza Rangel.

https://oglobo.globo.com/saude/medicina/na-maior-uti-de-covid-19-do-brasil-mais-de-90-dos-casos-graves-sao-em-nao-vacinados-25372019

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