Governo é a instituição em que os brasileiros menos confiam, abaixo de mídia, ONGs e setor empresarial, o mais confiável
Brasil é um dos nove países com menor índice de confiança da população em seu governo dentre 28 analisados
Confiança global nas notícias veiculadas pela imprensa cai ao menor nível da série histórica
Por Aldo De Luca | MediaTalks, Londres - 28.01.2021
O pico do ano passado
A agência Edelman tinha divulgado em maio uma pesquisa realizada em abril em 11 países (Brasil não incluído) que mostrara que a pandemia tinha feito a confiança nas notícias da imprensa tradicional atingir a marca de 69 pontos numa escala até 100, o ponto mais alto de sua série histórica, tomando 10 países como base comparativa. Em quatro meses, o índice subiu 7 pontos, o maior incremento verificado desde o início do estudo.
O mergulho deste ano
A edição 2021, que acaba de ser divulgada, mostra que esse aumento não se sustentou. Com base em dados do dobro de países (22), o levantamento demonstra que todas as fontes de notícias despencaram para suas mínimas históricas, no que o estudo chamou de “Falência da Informação”.
A confiança nas notícias gerais divulgadas pela imprensa tradicional caiu 8 pontos, a maior queda de sua série histórica e também a maior de todas as fontes analisadas ao longo do último ano.
Apesar da forte queda, a imprensa continuou como uma das duas fontes de notícias mais confiáveis, logo abaixo dos mecanismos de busca, que também tiveram uma queda significativa ao longo do último ano, de 6 pontos.
O pior índice foi o das notícias divulgadas pelas mídias sociais, que contam com a confiança de pouco mais de um terço (35%) dos respondentes.
Mais de sete entre dez brasileiros consideram que imprensa não é objetiva e isenta
Globalmente, 61% dos respondentes consideram que a imprensa não vem desempenhando bem o seu dever de ser objetiva e não partidária. Dez países mostraram-se ainda mais críticos, entre eles o Brasil.
Mais de sete em cada dez dos respondentes brasileiros (72%), a sétima maior marca entre os 27 países pesquisados, consideram que a imprensa não está fazendo um bom trabalho nesse sentido.
Além disso, quase seis em cada dez (59%) dos respondentes da amostra global consideram que as organizações de notícias estão mais preocupadas em apoiar uma ideologia ou uma posição política do que informar o público.
Quase 60% consideram que jornalistas estão propositalmente tentando enganar o público
Os jornalistas também foram mal avaliados. Uma parcela de 59% dos respondentes considera que os profissionais de imprensa estão propositalmente tentando enganar as pessoas dizendo coisas que sabem ser falsas ou exageradas. Esse percentual é maior do que o dos líderes governamentais (57%) ou empresariais (56%) que os respondentes consideram estarem fazendo o mesmo.
Confiança nos jornalistas caiu 5% no último ano
A confiança nos jornalistas da amostra dos 27 países caiu 5 pontos desde o ano passado, chegando à marca de 45 pontos numa escala de 100, acima apenas das avaliações de líderes religiosos ou governamentais. Os cientistas foram considerados os mais confiáveis, por 73% dos respondentes.
Índice de confiança dos brasileiros na mídia é o 16º entre 28 países pesquisados
Enquanto a confiança global na mídia aumentou dois pontos no último ano, a dos brasileiros cresceu o dobro, atingindo a marca de 48 pontos, pouco abaixo da média global de 51. O índice do Brasil é o 16º entre os 28 da base comparariva.
Assim como no Brasil, a confiança na mídia ao longo do último ano aumentou em 15 dos 27 países da base comparativa (a Nigéria passou a ser analisada este ano). Aconteceram quedas em nove, sendo as maiores na China (-10), Colômbia (-9) e México (-6). Os que mais confiam na mídia são os indonésios e os que menos confiam são os russos.
Confiança dos brasileiros na mídia só é maior do que no governo, cujo índice é um dos 9 piores dos 28 analisados
A pesquisa demonstrou que o menor índice de confiança dos brasileiros é no governo. Apesar de ter subido dois pontos ao longo do último ano, o percentual foi de 39%, um dos nove piores dos 28 países pesquisados.
O índice é bem menor do que a confiança dos brasileiros na mídia (48) e do que a média global de confiança nos governos, que aumentou três pontos e chegou a 53.
Ao contrário do aumento da confiança global no setor empresarial, que cresceu dois pontos no último ano, no Brasil a confiança nas corporações diminuiu três pontos, mas ainda assim garantiu ao setor a posição de instituição mais confiável do país entre as quatro analisadas.
O índice de confiança dos brasileiros no setor empresarial foi de 61, equivalente à média global, e pouco acima dos índices nas ONGs (56), mas bem superior ao da confiança na mídia (48) e no governo (39).
A confiança dos brasileiros no setor empresarial é a 16ª maior entre os 28 países analisados. O Brasil é um dos nove países dos 27 da base comparativa onde o índice caiu no último ano, enquanto subiu em 17. As maiores quedas aconteceram na China (-12) e na Tailândia (-6) e os maiores incrementos, na Austrália (+11) e na Arábia Saudita (+8). A maior confiança no setor empresarial foi verificada na Índia (82) e a menor, na Rússia (34).
Brasil cai duas posições no índice geral de confiança
Com os resultados dos setores analisados, o índice de confiança do Brasil, que é a média dos quatro indicadores, atingiu o índice de 51, igual ao obtido no ano anterior. Como outros países aprimoraram seus índices, o Brasil caiu duas posições no ranking geral e passou a ocupar o 16º lugar entre os 27 países da base comparativa.
A maior queda no índice geral de confiança foi a da China, com menos dez pontos, o que a fez cair para o segundo lugar, com 72 pontos, perdendo a liderança para a Índia. O maior crescimento foi o da Austrália, com 12 pontos, o que a fez subir oito posições e chegar ao 10º lugar, com 59 pontos.
Confiança global nas marcas internacionais brasileiras ficou no segundo nível mais baixo entre as pesquisadas
A pesquisa avaliou a confiança dos respondentes com relação às marcas globais de outros países. Foram consideradas marcas de 16 países e as brasileiras ficaram no segundo nível mais baixo, empatadas com 37 pontos com as marcas indianas e apenas um ponto à frente das mexicanas e chinesas.
O resultado chama atenção porque as marcas norte-americanas, britânicas, japonesas e australianas tiveram o seu pior resultado este ano desde o início da pesquisa. O índice de confiança nas marcas brasileiras caiu dois pontos em relação ao ano passado e ficou bem abaixo da média global de 53. As marcas globais de maior pontuação foram as suíças, alemãs e canadenses, com 66 pontos.
Responsabilidade informativa
A pesquisa revelou que apenas um em cada quatro dos respondentes (26%) tem boa responsabilidade informativa, caracterizada pelos hábitos de verificar a veracidade das informações recebidas, só repassar conteúdo verificado e evitar informações de “câmeras de eco” que repetem as mesmas informações. Quase quatro em cada dez dos respondentes reconheceram não tomar nenhum desses cuidados.
Infodemia tornou alfabetização mídiática prioritária
A boa notícia é que, com o aumento da disseminação de fake news verificada durante a pandemia, a alfabetização midiática foi considerada a segunda maior prioridade dos respondentes, logo depois das necessidades da família.
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