quinta-feira, 21 de abril de 2022

ACARÁ – Tembés têm dendê apreendido, queimam três ônibus e invadem empresa BBF

 

VER-O-FATO | por Paulo Jordão 21/04/2022

ACARÁ – Tembés têm dendê apreendido, queimam três ônibus e invadem empresa BBF
Os três veículos da empresa foram incendiados em represália, dizem os índios, à apreensão de caminhões que carregavam dendê

Três ônibus foram incendiados e o polo industrial da empresa Brasil BioFuels (BBF), no município do Acará, foi invadido, na manhã desta quinta-feira (21), por índios Tembé, depois que vários caminhões carregados de dendê dos indígenas foram apreendidos por policiais militares, no Distrito de Quatro Bocas, em Tomé Açu.

Os dois municípios ficam a cerca de 84 quilômetros de distância um do outro e dois inquérito foram instaurados pela Polícia Civil, na Delegacia do Acará e na Delegacia da Quatro Bocas para apurar os fatos. Até o momento não há notícias sobre pessoas feridas no conflito.

Indígenas, quilombolas e ribeirinhos do Acará, Concórdia do Pará e Tomé-Açu e a empresa BBF vivem em litígio desde que a empresa comprou as terras da Biopalma e descumpriu acordo de compensação firmado com as lideranças. A demora do Instituo de Terras do Pará (Iterpa) e do Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra) em regularizar a situação fundiária na região, complica ainda mais a situação.

O promotor de Justiça Emério Mendes, que está acompanhando o caso, disse que o conflito de hoje se deu porque a empresa BBF acionou a Polícia Militar para apreender um carregamento de dendê dos indígenas no Distrito de Quatro Bocas, em Tomé Açu, alegando que os caminhões e a carga haviam sido furtados.

Revoltados, os índios se armaram e partiram para o polo da empresa. No caminho, eles pararam três ônibus que transportavam funcionário da BBF, mandaram que todos descessem e tocaram fogo nos veículos. O presidente da Associação Indígena Tembé de Tomé-Açu (AITTA), Paratê Tembé, declarou que a situação na região chegou ao extremo.

Tembés falam em perseguição e BBF emite nota

“A empresa insiste em perseguir lideranças indígenas e quilombolas e hoje chegou ao extremo. O povo se reuniu e foi recebido a bala. E revidou. A situação está muito tensa. A gente não sabe o que pode acontecer”, disse ele.

Em nota, a BBF acusou os indígenas de furto. “Nesta madrugada, sete caminhões da empresa com carga de dendê foram furtados da fazenda Eikawwa, que pertence a BBF, em Tomé Açu. Um boletim de ocorrência está sendo registrado na delegacia do município por representantes da empresa. A BBF também presta queixa em outra delegacia, desta vez no Acará.

Pela manhã, a sede da BBF foi invadida por 50 pessoas encapuzadas, que intimidaram funcionários, atirando para todos os lados e causando pânico entre os colaboradores. Os invasores incendiaram 3 ônibus, vários carros, destruíram tratores, maquinários e depredaram o imóvel da empresa. Todos os bens que eles não destruíram acabaram por roubar. Levaram vários tratores, computadores e outros materiais da sede e dos alojamentos”, diz a nota.

Por fim, a nota da empresa diz: “Os invasores ocupam neste momento a sede do polo industrial da empresa e a fazenda Eikawa. A BBF aguarda a intervenção das autoridades de segurança, que já foram solicitas desde as 8h da manhã, para a desocupação da propriedade e manutenção da segurança dos colaboradores”.

Acordo rompido

Para observadores do conflito, desde que comprou as terras da Bioplama, que nunca foram regularizadas e são reivindicadas pelos índios e pelas populações tradicionais da região que as herdaram, a BBF rompeu um acordo de compensação que havia sido firmado com os povos tradicionais e passou a criminalizar índios, ribeirinho e quilombolas.

A convivência pacífica que existia, mesmo com a disputa pelas terras correndo na Justiça Agrária – e que parece não ter fim – deu lugar ao conflito. A empresa contratou segurança armada para intimidar a população local e a reação foi imediata. Fatos como os que ocorreram hoje já haviam sido registrados. E se a situação não for pacificada, ninguém sabe como isso vai acabar.

O clima é de extrema tensão na região. Há uma tragédia anunciada no ar. Mais uma no Pará, para variar.

Veja as imagens:


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