quarta-feira, 2 de março de 2022

Nota de Pesar | José Carlos Zanetti

 

“uma figura humana realmente generosa e extraordinária”, como descreve o reitor da UFBA - João Carlos Salles
 
 

A Associação Mundial de Rádios Comunitárias – Amarc Brasil, lamenta a perda física e se solidariza com parentes, amigos e amigas de José Carlos Zanetti, e companheiros e companheiras da Coordenadoria Ecumênica de Serviço – CESE, pela passagem ao mundo dos encantados de seu companheiro.

 

Nossas associadas rádios comunitárias, coletivos de comunicação comunitária e militantes da luta pela democratização da comunicação sempre foram valorizadas e apoiadas, afetuosamente, pela Cese e, particularmente, por Zanetti. Seu carinho e atenção sempre nos permitiu sermos assertivos nos projetos, em seus registros e papeladas.

 

Zanetti sabia como deixar essas coisas mais leves e até atraentes, pois sempre dizia que os registros são importantes para o compartilhamento. E compartilhamentos são uma boa didática para o fortalecimento das capacidades de todos e todas. A família Cese fica sem Zanetti fisicamente, mas com a solidez da base da qual ele deu sua contribuição.

 

Nós, da Amarc Brasil, nos sentimos honrados e honradas pelas oportunidades que Zanetti partilhou seus conhecimentos conosco. Nossa palavra é sincera: Gratidão.

 


ZANETTI PARTIU, POR EMILIANO JOSÉ

Choro.
Partiu um daqueles homens a quem a morte não devia alcançar.
Um homem bom.
Um revolucionário.
Um amante da humanidade.
Amante da natureza.
Parecia ter surgido da terra, tal o amor a todas as plantas.
Ter nascido da mata, tal o carinho com as florestas.
Ter nascido num acampamento, tal a vinculação com os sem-terra.
Não, nasceu de uma aldeia indígena, tal o vínculo.
Nasceu num caminhão de carga, onde depois foi trabalhar.
Não, nasceu numa serra íngreme do Paraná, depois escalada por ele, alpinista.
Nasceu numa rua povoada de estudantes em marcha.
Foi defrontar ditadura.
Enfrentou tortura e prisão.
Estivemos juntos na “Lemos de Brito” em Salvador.
Alguns o chamavam padre, tal o seu jeito amoroso.
Acho que Zé Sérgio o chamava mãe, dado sua alma acolhedora.
Diante da morte de um ser assim a gente se queda, como se o mundo fosse injusto, cruel, perverso.
Nesses meses e meses da terrível doença, falávamos praticamente todos os dias.
Nunca descansou: a vida pra ele sempre foi a Revolução, a transformação do mundo.
Ele encarnava a esperança.
Sempre.
Mesmo nesses meses de tormento causado pela doença.
Eu brincava com ele nesses últimos tempos: você é nosso secretário-geral.
Porque ele sempre tinha uma palavra sobre os rumos do Brasil e do mundo.
Militante sem parar.
E revelava pressa com tudo, talvez antevendo o fim.
Não, nada de tristeza.
Sempre bom humor.
Mesmo nesses últimos meses.
Uma vez, na “Lemos” de Salvador, ele ia pra outro presídio, e nós chorávamos abraçados, como fosse a última vez
Não foi…
Seguimos juntos.
Amizade e ideais comuns desde 1968.
Compartilhados com a querida Cleusa, inseparável companheira dele, amor de toda vida.
Com Carol, filha querida dos dois.
As duas, acompanhando-o com imenso amor e carinho nesses momentos difíceis.
Que dizer nessa despedida?
Nós nunca o esqueceremos.
Suas lições nos acompanharão durante todo o tempo a nos ser concedido nessa terra.

Adeus Zanetti!

 

 https://amarcbrasil.com/nota-de-pesar-jose-carlos-zanetti/

 

 

Nenhum comentário: