Depois de mais de três anos de manobras por parte dos advogados do empresário Telmo Zani, tudo leva a crer, finalmente, que o mandante da morte, em abril de 2018, do líder da comunidade remanescente quilombola Turé, Nazildo dos Santos Brito, e os dois empregados da fazenda de Telmo que o executaram, sentem no banco dos réus para serem submetidos a um júri popular.
“Pra rico não tem lei, só pra quem é pobre. Por isso que mataram nosso filho, e quem mandou se apresenta com dois, três advogados e se livra da culpa. Mas agora acho que a justiça vai ser feita”, afirma Francisco Brito, pai de Nazildo que, junto com sua esposa Nazaré, esperam que os culpados sejam julgados e condenados pelo crime que cometeram.
O inquérito da Polícia Civil concluiu que o empresário Telmo Zani foi, de fato, o mandante do crime. Tarefa criminosa praticada pelos funcionários dele, Marcos Vieira e Raimundos Santos. O processo desse crime em Tomé-Açu se encontra ainda na primeira etapa do júri, denominado de sumário da culpa.
Essa fase tem início com o oferecimento da denúncia ou queixa e termina com a sentença de pronúncia (que conclui pela existência do crime doloso contra a vida e de indícios de autoria, por isso, submete o processo ao júri popular. Inicialmente, o Ministério Público de Tomé-Açu havia designado uma audiência, para continuidade da instrução, no último dia 3 de março. Mas essa data foi remarcada para o dia 23 deste mês.
“Nazildo morreu defendendo a comunidade Amarqualta, e foi covardemente assassinado por um grileiro de terra, um madeireiro de Tomé Açu. Todos sabem quem puxou o gatilho e quem mandou matar Nazildo. A Polícia Civil do Pará fez o trabalho dela. Mas até hoje ninguém foi preso”, explica uma liderança quilombola do Vale do Acará, que pediu para ter seu nome preservado.
Ela disse ainda que, ao contrário do que querem impor, Erinaldo Pereira Lopes, considerado testemunha ocular do crime é, na verdade, empregado de Telmo Zani e estava junto com os outros dois pistoleiros que mataram Nazildo. Pior ainda é que Erinaldo, que está desaparecido, tem como advogado o mesmo que defende Telmo Zani.
O motivo de tanta violência contra comunidades quilombolas e indígenas Tembé começou no início da década de 90, quando teve início a produção de dendê na região. Imensas áreas de terras quilombolas e indígenas foram invadidas, tiveram suas florestas derrubadas pelos invasores e depois vendidas para empresas como a Biopalma.
“Quem matou Nazildo queria vender essas terras pra Biopalma. Tudo está ligado à produção do dendê, que valorizou as terras aqui e potencializou os conflitos. Cartórios, empresários e políticos participavam do esquema criminoso de grilagem de terra. Esta é uma realidade vivida em todas as comunidades tradicionais da Amazônia”. resume.
Estrada bloqueada pela BBF
Enquanto os assassinos de Nazildo dos Santos Brito não sentam no banco dos réus para pagar pelo crime que cometeram, o terror continua na região do Alto Acará, segundo vídeos e fotografias enviados ao Ver-o-Fato. De acordo com um residente da Comunidade do Turé – que fica dentro da área quilombola Amarqualta – , a única estrada que serve aos moradores da região foi “criminosamente obstruída” pela empresa BBF, hoje proprietária da antiga Biopalma.
Dá para ver nas imagens que a empresa, usando trator, cavou enorme buraco na estrada, impedindo totalmente a passagem de veículos, inclusive ambulância, motocicletas e bicicletas, para que as famílias possam transitar pelo local para cuidar de seus afazeres, fazer compras ou conduzir pessoas doente em busca de atendimento médico. É a mesma atitude que a Agropalma, outra empresa de dendê, tomou com relação aos quilombolas da Comunidade da Balsa, no Acará: isolar e intimidar, atropelando a lei.
Ou seja, na região, até mesmo com o apoio da Polícia Militar, que serve à empresa para intimidar os quilombolas da Amarqualta, como se não bastasse a utilização de seguranças fortemente armados, não existe o direito de ir e vir, como determina a Constituição Federal.
Constituição, aliás, rasgada e jogada no lixo pelas autoridades do Pará, que estão ao lado das grandes empresas de dendê que devastam a região e impõem a lei do mais forte, como no antigo oeste americano.
Veja as imagens:
Terror e intimidação no Alto Acará: morte de Nazildo impune, estrada obstruída
Enquanto os assassinos de Nazildo dos Santos Brito não sentam no banco dos réus para pagar pelo crime que cometeram, o terror continua na região do Alto Acará, segundo vídeos e fotografias enviados ao Ver-o-Fato. De acordo com um residente da Comunidade do Turé - que fica dentro da área quilombola Amarqualta - , a única estrada que serve aos moradores da região foi "criminosamente obstruída" pela empresa BBF, hoje proprietária da antiga Biopalma.
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