VER-OFATO | por Carlos Mendes | 08/05/2022
Nos últimos 50 anos, Antônio José teve intensa atuação no jornalismo paraense, trabalhando em O Liberal, Provìncia do Pará e Diário do Pará |
O Portal Ver-o-Fato comunica com muito pesar o falecimento do jornalista Antônio José Soares, que atuou em várias redações de Belém, ora como repórter, ora atuando em chefias de reportagem. Ele também trabalhou por muitos anos como correspondente do “Jornal do Brasil” e “Folha de São Paulo”.
Ele tinha 68 anos e, de acordo com informações divulgadas há pouco pelo jornal O Liberal, teria sido encontrado sem vida dentro do apartamento onde residia, no Edifício Manoel Pinto, bairro da Batista Campos, em Belém. A causa da morte ainda não foi informada. O corpo de Antônio José, que também foi presidente do Sindicato dos Jornalistas do Pará (Sinjor), foi levado ao Instituto Médico Legal (IML) para exame de necropsia.
Nascido em Breves, Antônio José Soares dedicou sua vida em defesa da valorização da cultura marajoara. Era o filho mais velho da professora Oneide Teixeira Soares e do servidor público municipal, Antônio Soares Júnior. Aos 19 anos, saiu de Breves e se mudou para Belém, onde deu início aos estudos para se formar em Jornalismo. Era o filho mais velho de quatro irmãos: Astrogildo Raimundo, Rita Janethe e Rosselind.
Em 1965, de acordo com informações da Academia Brevense de Letras, ele presenciou com inúmeros amigos a fundação da Juventude Agostiniana Brevense (JAB), uma agremiação cuja finalidade se apoiava no desenvolvimento de cunhos social, esportivo e cultural, que teve como presidente fundador Gervásio Bandeira, na época do prefeito Sebastião Hortas Félix. Nesse período Antônio José participava de grupos de teatro, música, além de jogar bola, tendo disputado competições pela JAB e Clube Santana.
Quando Antônio José saiu de Breves com destino a Belém já sabia que queria ser jornalista. Só não sabia como isso iria se realizar. Naquela época, a capital paraense só contava com três empresas jornalísticas: a lendária “Folha do Norte” da família Maranhão, a quase centenária “A Província do Pará”, dos Diários e Emissoras Associadas, e “O Liberal”, que pertencia ao ex-governador Moura Carvalho, e há décadas está sob comando da família Maiorana.
O desejo de abraçar a profissão de jornalista era grande e surgira quando ele começou a participar discretamente da elaboração de jornais feitos em Breves na Casa da Juventude, sede da JAB, e também como colaborador do jornal do “Ginásio Miguel Bitar”.
Entretanto, a maior influência na escolha da profissão de jornalista talvez tenha vindo das leituras de novelas e romances que fazia à luz de lamparina até altas horas da noite. Nas estórias desses livros, Antônio José observava que quase sempre havia um jornalista bancando herói, investigando falcatruas, denunciando pilantragens de políticos e empresários ou dos dois tipos associados, crimes comuns e passionais.
Tudo isto o fascinava e o induzia a procurar o mesmo caminho, como forma de praticar justiça social, combater as desigualdades e contribuir para a formação de uma sociedade mais igualitária e mais justa. Esta luta Antônio José empreendeu até o final da vida. A primeira tentativa de ingressar no jornalismo foi na “Folha do Norte”, levado pelo amigo jornalista e advogado Luís Melo, ex-laboratorista na Fundação do Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), atual Hospital Municipal de Breves.
Foi Luís Melo quem lhe ensinou os princípios básicos da profissão. Quando a “Folha do Norte” foi comprada por Romulo Maiorana, Antônio José foi dispensado porque estudava Matemática e o jornal queria aproveitar só estudantes de Direito, como era a tradição. Por coincidência, no mesmo dia em que foi dispensado, encontrou com Eloy Lins (filho de Aloysio Lins – um dos maiores presidentes do Esporte Clube Santana), na rua João Alfredo, que era o principal point de Belém nos anos 70. Após um bate papo, Eloy Lins se ofereceu para apresentá-lo a Rubens Silva, chefe de reportagem do jornal “A Província do Pará”.
Desse encontro casual com um amigo, Deus estava providenciando uma grande benção em sua vida. Antônio José começou sua carreira no jornal “A Província do Pará”, atuando como repórter esportivo cobrindo as federações e os esportes amadores, ao lado de Ribamar Fonseca, Sérgio Noronha e Guilherme Barra, tornando se assim um repórter de ponta, autor de reportagens espetaculares que passaram a ser o carro-chefe do caderno de Esportes. Quatro anos depois, Antônio José tornou-se o Editor de Esportes de “A Província do Pará”, em 1977.
No ano de 1978, o Brasil está vivendo um momento especial. Era ano de Copa do Mundo, e pela primeira vez a Copa estava acontecendo na Argentina. Nessa época, Antônio José fez uma ótima parceria com Theodorico Rodrigues, famoso árbitro de futebol e comentarista de arbitragem, que deu origem a uma série de reportagens falando da origem e história da Copa do Mundo.
Esse trabalho teve tanta repercussão no Brasil que foi reproduzido por inúmeros jornais: Correio Braziliense, Diário de Pernambuco, O Estado de Minas, Jornal do Comércio (Rio de Janeiro) e Diário da Noite (São Paulo). Esse foi o primeiro grande sucesso de Antônio José, e nem ele tinha ideia de tantas coisas boas que aconteceriam em sua vida profissional dali em diante. Em 1982, antes de ingressar no JB foi correspondente-colaborador da “Folha de São Paulo”.
Em 1983, Antônio José foi chamado para trabalhar como repórter do “Jornal do Brasil” (JB), do Rio de Janeiro. Esse novo emprego gerou uma maravilhosa oportunidade, de modo que ele passou mais de 20 anos viajando para cobrir eventos e fazer entrevistas em diversos estados do Brasil.
A cada passo se tornava mais conhecido e respeitado, fazendo surgir convites para novos trabalhos em diversos outros jornais, como “O Globo”, Gazeta Esportiva, Manchete Esportiva, Revista Placar, Revista Gol, O Liberal, Diário do Pará e “Diário de Notícias de Lisboa”.
Em 1994, foi um dos fundadores da Academia Paraense de Jornalismo (APJ), da qual era membro perpétuo, tendo ocupado vários cargos (vice-presidente, diretor de comunicação etc.) De 1995 a 1997, foi vice-presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj, na segunda gestão de Américo Antunes (Globo/Belo Horizonte). Também foi delegado de base da Fenaj.
A Academia Paraense de Jornalismo tem 24 cadeiras perpétuas, e várias honorárias. Cada uma delas tem um patrono. A cadeira ocupada por Antônio José Soares tem como patrono o renomado escritor “Humberto de Campos”, que esteve na década de 1930 no rio Mapuá, retratando em um de seus contos o modo de vida dos ribeirinhos na extração do látex das seringueiras. Nessa época, Breves viveu uma fase de grande prosperidade econômica pela produção de borracha.
Paz à alma de Antônio José.
https://ver-o-fato.com.br/morre-antonio-jose-jornalista-que-atuou-em-varias-redacoes-de-belem-e-presidiu-o-sinjor/
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