Ao menos dois professores encontraram símbolos, inscrições e frases dos alunos que ferem os direitos humanos, além do discurso de ódio contra estrangeiros, que é a xenofobia (Imagem de reprodução) |
Manaus (AM) – Professores identificaram símbolos e inscrições nazistas, como a suástica e frases com declarações alusivas ao ditador alemão Adolf Hitler, em desenhos e pichações de estudantes de uma escola pública de Manaus, na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e em unidades de ensino de Belém, no Pará, e Boa Vista, em Roraima. Os estudantes também expõem um ódio aos estrangeiros, como venezuelanos, que se constituem em xenofobia.
Em uma escola pública municipal do bairro Alvorada II, na zona centro-oeste de Manaus (a agência Amazônia Real não citará o nome da escola por medida de segurança dos estudantes), um aluno do oitavo ano desenhou símbolos nazistas em seu caderno e foi descoberto por um dos professores.
O professor da escola Rafael Cesar da Costa disse que descobriu os desenhos alusivos ao dia 9 de maio. Nesta data é comemorado o Dia da Vitória dos soviéticos contra a Alemanha Nazista e, consequentemente, o fim da Segunda Guerra Mundial. O caso foi comunicado à diretoria da escola
O aluno está recebendo acompanhamento psicológico. “Nós estávamos naquele momento construindo uma parceria com o curso de graduação de Psicologia da Ufam e eles iam disponibilizar uma equipe para dar suporte e acompanhamento psicológico aos alunos. Logo encaminhei esse garoto e ele já está tendo acompanhamento semanal”, explica Costa.
Em junho, o professor apagou desenhos que xingavam os imigrantes venezuelanos, um crime de xenofobia (ódio aos estrangeiros). “Possuíam o discurso que em geral eles mantém em relação aos estrangeiros”, diz.
Em uma escola pública municipal do bairro Alvorada II, na zona centro-oeste de Manaus (a agência Amazônia Real não citará o nome da escola por medida de segurança dos estudantes), um aluno do oitavo ano desenhou símbolos nazistas em seu caderno e foi descoberto por um dos professores.
O professor da escola Rafael Cesar da Costa disse que descobriu os desenhos alusivos ao dia 9 de maio. Nesta data é comemorado o Dia da Vitória dos soviéticos contra a Alemanha Nazista e, consequentemente, o fim da Segunda Guerra Mundial. O caso foi comunicado à diretoria da escola
O aluno está recebendo acompanhamento psicológico. “Nós estávamos naquele momento construindo uma parceria com o curso de graduação de Psicologia da Ufam e eles iam disponibilizar uma equipe para dar suporte e acompanhamento psicológico aos alunos. Logo encaminhei esse garoto e ele já está tendo acompanhamento semanal”, explica Costa.
Em junho, o professor apagou desenhos que xingavam os imigrantes venezuelanos, um crime de xenofobia (ódio aos estrangeiros). “Possuíam o discurso que em geral eles mantém em relação aos estrangeiros”, diz.
Professor Rafael Cesar Costa apaga pichações contra venezuelanos (Foto de arquivo pessoal) |
Na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), localizada no bairro Coroado I, zona leste da capital amazonense, o autor das pichações de suásticas escreveu: “O nazismo vai dominar o mundo”. O estudante universitário segue em anonimato, pois a instituição não investigou o caso ou repudiou as expressões de ideologias, que ferem a defesa dos direitos humanos.
A reportagem procurou a direção da Ufam para saber quais medidas foram tomadas diante dessa situação, mas a universidade não se manifestou até a publicação desta reportagem.
Um professor da instituição, que pede para não ser identificado por temer represálias, disse à Amazônia Real que recebeu a imagem no grupo de mensagens dos docentes. No entanto, por receio que o ato pudesse dar visibilidade à apologia ao nazismo, decidiu apagar.
“Por entender que pode ter um efeito contrário do que se espera e essas pessoas podem se inflamar, eu preferi deixar nas mãos das autoridades competentes da Ufam”, diz.
Já em Belém, capital paraense, no mês de maio, um estudante da escola estadual Alexandre Zacarias Assunção, no bairro do Guamá, foi flagrado desenhando uma suástica. Após o flagrante, a Secretaria de Estado de Educação foi acionada e informou que “o aluno já foi identificado e seus pais foram chamados imediatamente para comparecer ao espaço de aprendizagem”. A Seduc ressaltou, ainda, que o estudante é acompanhado por uma equipe psicossocial.
Os desenhos e pichações de estudantes não são eventos isolados no Brasil. Há notória e constante ascensão da apologia ao nazismo alemão em escolas e unidades educativas pelo país, como mostram outros casos e a análise da pesquisadora Adriana Dias, doutora em antropologia social pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e uma das maiores autoridades em neonazismo no país.
Adriana afirma que os grupos com ideologias nazistas procuram converter cada vez mais jovens para os seus círculos e linhas de frente, ainda que esses espaços não sejam comandados por jovens. “Eles buscam jovens para estar à frente do movimento. Desde a época do nazismo eles tinham uma ode à juventude, com a formação da Juventude Hitlerista”, explica.
Em junho deste ano, um estudante de direito de uma universidade particular de Boa Vista, em Roraima, compartilhou em suas redes sociais a foto de um bolo com decoração de uma suástica. Nas imagens, ele está acompanhado de outras seis pessoas e a publicação recebeu comentários como “não é Hitler mas merece conquistar o mundo”.
O autor da postagem passou a ser investigado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público após o registro de um boletim de ocorrência feito contra ele por outro jovem, de 22 anos. Em nota, o estudante que fez apologia ao nazismo pediu desculpas e afirmou não ter tido intenção de cometer o crime.
“Primeiramente, quero pedir sinceras desculpas pelo meu comportamento e de meus amigos acerca do episódio do meu aniversário. Reforço que em nenhum instante tivemos a intenção de sermos maldosos e nos arrependemos muito por ter nos deixado levar pelo momento”, afirmou o estudante.
Casos no Rio e São Paulo
Em julho, uma bandeira do regime nazista alemão foi erguida no parque aquático do Colégio Militar do Rio de Janeiro, no bairro Macaranã, zona norte da cidade, durante uma encenação sobre a criação da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que lutou contra a Alemanha e seus aliados durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A encenação com o símbolo nazista contou com a participação de civis e militares e em um dos momentos da atividade houve até uma saudação ao ditador alemão Adolf Hitler.
Nas redes sociais do Colégio Bandeirantes, localizado na zona sul de São Paulo, foi feita uma postagem em abril com a suástica nazista desenhada em um tênis e a mensagem: “Importei um Nike da alemanha. Gostaram?”. O perfil é administrado por alunos do ensino médio, que compartilham a senha e por isso não puderam localizar o autor da postagem. A publicação foi apagada horas depois e a escola disse investigar o caso.
Em agosto do ano passado, alunos de uma escola particular de Criciúma, em Santa Catarina, que faziam parte do 9° ano do ensino fundamental, foram filmados fazendo uma saudação nazista em sala de aula. A instituição publicou uma nota de repúdio informando que tomou medidas como “a suspensão de alunos, advertências e a realização de uma reflexão sobre o nazismo e o quanto esse regime foi pavoroso para a história humana”.
Ode à juventude e nazificação
A reportagem procurou a direção da Ufam para saber quais medidas foram tomadas diante dessa situação, mas a universidade não se manifestou até a publicação desta reportagem.
Um professor da instituição, que pede para não ser identificado por temer represálias, disse à Amazônia Real que recebeu a imagem no grupo de mensagens dos docentes. No entanto, por receio que o ato pudesse dar visibilidade à apologia ao nazismo, decidiu apagar.
“Por entender que pode ter um efeito contrário do que se espera e essas pessoas podem se inflamar, eu preferi deixar nas mãos das autoridades competentes da Ufam”, diz.
Já em Belém, capital paraense, no mês de maio, um estudante da escola estadual Alexandre Zacarias Assunção, no bairro do Guamá, foi flagrado desenhando uma suástica. Após o flagrante, a Secretaria de Estado de Educação foi acionada e informou que “o aluno já foi identificado e seus pais foram chamados imediatamente para comparecer ao espaço de aprendizagem”. A Seduc ressaltou, ainda, que o estudante é acompanhado por uma equipe psicossocial.
Os desenhos e pichações de estudantes não são eventos isolados no Brasil. Há notória e constante ascensão da apologia ao nazismo alemão em escolas e unidades educativas pelo país, como mostram outros casos e a análise da pesquisadora Adriana Dias, doutora em antropologia social pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e uma das maiores autoridades em neonazismo no país.
Adriana afirma que os grupos com ideologias nazistas procuram converter cada vez mais jovens para os seus círculos e linhas de frente, ainda que esses espaços não sejam comandados por jovens. “Eles buscam jovens para estar à frente do movimento. Desde a época do nazismo eles tinham uma ode à juventude, com a formação da Juventude Hitlerista”, explica.
Em junho deste ano, um estudante de direito de uma universidade particular de Boa Vista, em Roraima, compartilhou em suas redes sociais a foto de um bolo com decoração de uma suástica. Nas imagens, ele está acompanhado de outras seis pessoas e a publicação recebeu comentários como “não é Hitler mas merece conquistar o mundo”.
O autor da postagem passou a ser investigado pela Polícia Civil e pelo Ministério Público após o registro de um boletim de ocorrência feito contra ele por outro jovem, de 22 anos. Em nota, o estudante que fez apologia ao nazismo pediu desculpas e afirmou não ter tido intenção de cometer o crime.
“Primeiramente, quero pedir sinceras desculpas pelo meu comportamento e de meus amigos acerca do episódio do meu aniversário. Reforço que em nenhum instante tivemos a intenção de sermos maldosos e nos arrependemos muito por ter nos deixado levar pelo momento”, afirmou o estudante.
Casos no Rio e São Paulo
Em julho, uma bandeira do regime nazista alemão foi erguida no parque aquático do Colégio Militar do Rio de Janeiro, no bairro Macaranã, zona norte da cidade, durante uma encenação sobre a criação da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que lutou contra a Alemanha e seus aliados durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A encenação com o símbolo nazista contou com a participação de civis e militares e em um dos momentos da atividade houve até uma saudação ao ditador alemão Adolf Hitler.
Nas redes sociais do Colégio Bandeirantes, localizado na zona sul de São Paulo, foi feita uma postagem em abril com a suástica nazista desenhada em um tênis e a mensagem: “Importei um Nike da alemanha. Gostaram?”. O perfil é administrado por alunos do ensino médio, que compartilham a senha e por isso não puderam localizar o autor da postagem. A publicação foi apagada horas depois e a escola disse investigar o caso.
Em agosto do ano passado, alunos de uma escola particular de Criciúma, em Santa Catarina, que faziam parte do 9° ano do ensino fundamental, foram filmados fazendo uma saudação nazista em sala de aula. A instituição publicou uma nota de repúdio informando que tomou medidas como “a suspensão de alunos, advertências e a realização de uma reflexão sobre o nazismo e o quanto esse regime foi pavoroso para a história humana”.
Ode à juventude e nazificação
Mesa pixada na sala de aula da Ufam com o símbolo nazista (Reprodução redes sociais) |
Há mais de 20 anos pesquisando a movimentação de grupos neonazistas no Brasil, Adriana Dias relaciona a nazificação das ideias e dos discursos de extrema-direita ao governo Bolsonaro. Segundo ela, os discursos inflamatórios repletos de violência do presidente incitam grupos desse espectro político.
“Existe uma narrativa social que incentiva esses grupos a se nazificarem. O Bolsonaro tem falado frases fascistas de Mussolini, a motociata é um elemento fascista de Mussolini. Ele tem feito um show fascista e é um político da morte e genocida, que incentiva que as camadas mais frágeis desapareçam. Com isso, fica evidente que o caminho para esses grupos é cada vez mais um aparelhamento para a extrema direita e a nazificação de suas ideias”, denuncia.
Dias afirma que a explosão de grupos neonazistas nos últimos três anos ocorreu no momento em que o discurso de ódio é legitimado por políticos extremistas. Recentemente, ela identificou no histórico de uma plataforma neonazista um banner com uma foto de Bolsonaro, que direcionava o usuário à página do então deputado, no ano de 2004, onde havia uma carta de felicitações aos usuários.
De acordo com as pesquisas de Adriana, o Brasil possui hoje ao menos 530 células nazistas, um crescimento de mais de 270% em relação ao ano de 2019. Esses grupos reúnem até 10 mil pessoas em espaços online e estudiosos temem que a presença virtual avance para ataques violentos na vida real. A falta de punição contra crimes de apologia ao nazismo dificulta o caminho para que deixem de ocorrer no país.
Em um passado recente, os núcleos nazistas se concentravam principalmente na região sul do Brasil, mas a pesquisadora relata que eles se espalharam para as cinco regiões do país. Há uma célula neonazista na região Norte, no estado do Acre, como aponta o monitoramento.
A antropóloga diz que os grupos extremistas são diferentes entre si e se articulam cada um à sua maneira, mas há elementos que os unem. “Cada tipo de grupo se articula de uma forma específica. Por exemplo, grupos de negação do Holocausto começam ou através de professores e de sites ou através de algum tipo de ‘intelectualismo’, por meio de grupos conspiratórios ou religiosos. Já grupos hitleristas começam mais em outro tipo de movimento, às vezes até em clubes que envolvem artes marciais e lutas, grupos que se reúnem em uma cena pública inseridos em movimentos sociais de violência”
Cada um desses movimentos tem uma maneira específica de difundir suas ideias. São específicos no que acreditam. Em comum, eles têm o ódio como elemento central, o conspiracionismo e uma paranoia social. Os grupos que eles perseguem são semelhantes, como mulheres, negros, judeus e LGBTQIA+.
Adriana acredita que a recente expansão de ideias e apologia ao nazismo na região Norte se deve ao fato de haver uma grande população judaica em Belém, no Pará, alvos de nazistas. “O antissemitismo procura onde está o judeu para atacá-lo”, afirma.
Ela diz ainda que o vínculo da região com ideias bolsonaristas acelera esse processo e as pessoas que cometem tais crimes se sentem pouco ameaçadas, porque sabem que não haverá punição. “Eles estão cada vez mais confortáveis porque não são investigados, não são punidos e ainda tem o presidente da República, cuja fala é profundamente violenta, os incentivando. Vai ser muito pouco provável que eles não se sintam à vontade para cometer esses crimes”, afirma Adriana Dias.
“Existe uma narrativa social que incentiva esses grupos a se nazificarem. O Bolsonaro tem falado frases fascistas de Mussolini, a motociata é um elemento fascista de Mussolini. Ele tem feito um show fascista e é um político da morte e genocida, que incentiva que as camadas mais frágeis desapareçam. Com isso, fica evidente que o caminho para esses grupos é cada vez mais um aparelhamento para a extrema direita e a nazificação de suas ideias”, denuncia.
Dias afirma que a explosão de grupos neonazistas nos últimos três anos ocorreu no momento em que o discurso de ódio é legitimado por políticos extremistas. Recentemente, ela identificou no histórico de uma plataforma neonazista um banner com uma foto de Bolsonaro, que direcionava o usuário à página do então deputado, no ano de 2004, onde havia uma carta de felicitações aos usuários.
De acordo com as pesquisas de Adriana, o Brasil possui hoje ao menos 530 células nazistas, um crescimento de mais de 270% em relação ao ano de 2019. Esses grupos reúnem até 10 mil pessoas em espaços online e estudiosos temem que a presença virtual avance para ataques violentos na vida real. A falta de punição contra crimes de apologia ao nazismo dificulta o caminho para que deixem de ocorrer no país.
Em um passado recente, os núcleos nazistas se concentravam principalmente na região sul do Brasil, mas a pesquisadora relata que eles se espalharam para as cinco regiões do país. Há uma célula neonazista na região Norte, no estado do Acre, como aponta o monitoramento.
A antropóloga diz que os grupos extremistas são diferentes entre si e se articulam cada um à sua maneira, mas há elementos que os unem. “Cada tipo de grupo se articula de uma forma específica. Por exemplo, grupos de negação do Holocausto começam ou através de professores e de sites ou através de algum tipo de ‘intelectualismo’, por meio de grupos conspiratórios ou religiosos. Já grupos hitleristas começam mais em outro tipo de movimento, às vezes até em clubes que envolvem artes marciais e lutas, grupos que se reúnem em uma cena pública inseridos em movimentos sociais de violência”
Cada um desses movimentos tem uma maneira específica de difundir suas ideias. São específicos no que acreditam. Em comum, eles têm o ódio como elemento central, o conspiracionismo e uma paranoia social. Os grupos que eles perseguem são semelhantes, como mulheres, negros, judeus e LGBTQIA+.
Adriana acredita que a recente expansão de ideias e apologia ao nazismo na região Norte se deve ao fato de haver uma grande população judaica em Belém, no Pará, alvos de nazistas. “O antissemitismo procura onde está o judeu para atacá-lo”, afirma.
Ela diz ainda que o vínculo da região com ideias bolsonaristas acelera esse processo e as pessoas que cometem tais crimes se sentem pouco ameaçadas, porque sabem que não haverá punição. “Eles estão cada vez mais confortáveis porque não são investigados, não são punidos e ainda tem o presidente da República, cuja fala é profundamente violenta, os incentivando. Vai ser muito pouco provável que eles não se sintam à vontade para cometer esses crimes”, afirma Adriana Dias.
Estudantes fazem desenhos nazistas em escolas do Norte - Amazônia Real (amazoniareal.com.br)
Nicoly Ambrosio
É estudante de jornalismo na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e fotógrafa residente na cidade de Manaus. Tem interesse em cultura, arte e política. Integra o projeto de Treinamento no Jornalismo Independente e Investigativo da Amazônia Real de 2020.. (nicoly@amazoniareal.com.br)
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