Na década de 1920, o meio de informação era o jornal impresso, em um país onde 65% da população era analfabeta, segundo dados do IBGE.

Ainda assim, a Semana da Arte Moderna, em fevereiro de 2022, e os preparativos para as comemorações do Centenário da Independência, exigiam um salto para o futuro na capital do país, e ele aconteceu.

Vale lembrar que bem antes desta data, no início dos anos 1900, já eram feitas experiências de transmissão radiofônica no Brasil. Inclusive os muitos experimentos do padre gaúcho Landell de Moura o colocam como um dos primeiros a conseguir a transmissão de som e sinais telegráficos sem fio, por meio de ondas eletromagnéticas.

Mas somente anos depois aconteceram transmissões exitosas e, porque não dizer, grandiosas. Tanto que o feito realizado no 7 de setembro de 1922 passou a ser considerado a “inauguração oficial” do rádio brasileiro.

Roquette Pinto, médico, professor, escritor, antropólogo e representante, portanto, de uma elite intelectual brasileira, organizou para que as duas transmissões entrassem na programação do Centenário, e assim foi.

Era, pois, uma “invenção” que fazia vozes e músicas chegarem à casa das pessoas por uma caixinha com alto-falante sem fios.

Naquela tarde comemorativa, o discurso do então presidente foi transmitido pelo serviço de “radiotelephone com alto-falantes”. Os equipamentos foram instalados pelas empresas americanas Westinghouse e Western Eletric.

Um transmissor de 50 Watts foi instalado no Alto do Corcovado, onde seria construído o Cristo Redentor. Oitenta receptores foram colocados em lugares públicos na capital e em outras três cidades.

À noite, a segunda transmissão experimental “radiou” simplesmente a ópera O Guarani, de Carlos Gomes, direto do Teatro Municipal, no centro do Rio de Janeiro.

A experiência das duas transmissões no dia do Centenário da Independência foi uma semente plantada e sem volta para o rádio brasileiro.

Isso porque sete meses depois – em abril de 1923 – novamente pela ação visionária de Roquette Pinto, entra no ar a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, futura Rádio MEC.

Naquela emissora, o próprio Roquette apresentava programas, e lia as matérias dos jornais impressos, tornando o acesso à informação um pouco mais democrática.

“Era a partir da leitura dos jornais, mas ele complementava com informações que buscava em entrevistas que fazia. Então a gente pode identificar o Roquette Pinto como um dos precursores da reportagem radiofônica”, afirma a coordenadora da Rede de Pesquisa em Radiojornalismo e professora da Universidade federal de Santa Catarina (UFSC), Valci Zuculoto.

Beatriz Roquette Pinto, na Rádio Sociedade, em 1923
 
As rádios livres e comunitárias em busca da democracia

E por falar em democracia, algumas décadas depois, em plena ditadura militar, o desejo de expressar suas ideias inspirou grupos universitários a desejarem ocupar o dial radiofônico.

Ele era dominado por emissoras comerciais e privadas, que dia após dia usavam a comunicação para propagar e defender seu modo de vida e sua visão de mundo. O mundo da elite brasileira.

Assim surgiram experiências de rádios livres, na década de 1970, com crescimento exponencial na década seguinte.

Também nos anos 1980 as primeiras experiências de rádios comunitárias demonstravam que a sociedade brasileira não se sentia representada nos microfones das emissoras comerciais.

Para além das mensagens, formas de comunicar, estilos musicais, sotaques, e outras características que traduzissem a diversidade dos diferentes grupos, era igualmente importante que a propriedade dos meios de produção também fosse comunitários, coletivos.

Milhares de experiências brotaram e floresceram em todo país, fazendo com que os poderes da República tivessem que se adaptar à nova realidade.

A Lei 9612/98 e políticas públicas para as rádios comunitárias foram implantadas por pressão dos movimentos de rádios livres e comunitárias.

Há muito o que avançar na legislação da radiodifusão comunitária. A falta de isonomia em relação aos outros setores da comunicação brasileira – privado e estatal -, impossibilita o desenvolvimento pleno das rádios e TVs de natureza pública, coletiva, comunitária, alternativa, independente.

Ainda assim, é bom celebrar, um século depois, a primeira transmissão oficial deste veículo com tamanho potencial democrático.

Anos e anos de adaptação e reinvenção, das radionovelas aos podcasts, das ondas curtas ao rádio digital, do alto-falante à radioweb.

Seja como for, o rádio segue apaixonante, e a Amarc Brasil comemora e trabalha para que este veículo siga cumprindo sua missão de democratizar, década após década, a comunicação brasileira.

Amarc Brasil
07 de Setembro de 2022

 

https://amarcbrasil.com/o-radio-e-o-anuncio-de-um-brasil-moderno-ha-100-anos/ 


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